UM

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Quando um ano chega ao fim e outro está para se iniciar, tudo ao nosso redor parece diferente. Há esperança de mudança, renovação... Hoje, trinta e um de dezembro, sinto que minha vida está prestes a mudar.

O "Ano Novo" no interior de onde venho se divide em dois momentos: primeiro ficamos em casa com nossa família. E aí comemos toda aquela deliciosa comida, preparada para tentar não ficar atrás com as do natal, e quando dá meia-noite nos abraçamos, felicitamos boas novas e vemos alguns fogos de artifício estourarem. Então partimos para a fase dois: os jovens vão para a pracinha e os adultos ficam nas próprias portas ou dos vizinhos, conversando. Antigamente ficávamos até o amanhecer, mas com a violência chegando até o interior passamos a nos recolher cada vez mais cedo.

Recordo-me com certa saudade da minha vida no interior de Minas Gerais, esse é o primeiro réveillon que passarei em uma cidade grande. Não estou muito animada, confesso. Queria estar ao lado dos meus pais.

— Que carinha é essa, prima? — Grazi, prima com que divido quarto chega toda suada, provavelmente retornando de mais uma das suas corridas intermináveis.

— Saudades — soltei um lamento triste — Queria passar a virada do ano com meus pais.

— Se eu soubesse que estaria desanimada assim, teria te derrubado da cama para ir correr comigo.

A Graziele é daquelas pessoas aficionadas pelo próprio corpo. Sua vida é regrada: nada de alimentos gordurosos, dieta a base de comidas saudáveis e muitos exercícios físicos diários.

— Não tenho intenção de ser musa fitness — apontei para o seu corpo escultural e fui atingida por uma almofada.

— Falando em musa — fez biquinho — Vamos arrasar hoje e colar em Copacabana, né?

— Como não estarei com meus pais, prefiro ficar aqui com a tia.

— Não! — gritou— Você está na cidade maravilhosa, com uma companhia igualmente maravilhosa e vai ter a noite mais maravilhosa da sua vida.

— Sério, prima... Eu prefiro ficar aqui.

— Mentalizando coisas negativas? — balançou a cabeça — Ano novo, gata! Vamos entrar com o pé direito — fitou-me longamente com seus cílios naturalmente curvados, feito os de uma boneca, piscando sem parar. E quando Grazi olha para alguém dessa forma, não adianta argumentar.

— Tá bem... — concordei ainda desanimada.

— Agora levanta esse rabo daí que vamos ao salão! — falou animada — Vamos dar um up nesse visual. Já viu as suas unhas?

— O que tem minhas unhas? — indaguei enquanto olhava para as minhas mãos.

— O que não tem né? Falta uma hidratação básica, um esmalte vermelho e...

— Certo, certo... Já entendi.

— Aprende rápido, gata! — piscou para mim antes de entrar no banheiro.

É quase meia-noite.

A praia de Copacabana estava lotada, uma multidão de pessoas se estendia por toda a extensão da orla. Eu nunca tinha visto tanta gente junta em um mesmo espaço. A sensação era de claustrofobia. Por um momento, senti como se o ar fosse insuficiente para todos ali reunidos. Como se estivesse lendo meus pensamentos, a Grazi apertou minha mão e sorriu antes de me entregar uma taça com vinho. Quando pensei em protestar, uma vez que eu não bebia, ela adiantou-se em assegurar que era suco de uva. Ingeri o a bebida vagarosamente, torcendo para que o líquido gelado me ajudasse a relaxar.

É para o meu próprio bem - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora