Chuva

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Algumas palavras, alguns sussurros; e lá estava eu de novo, rindo com suas piadas ruins e me apaixonando mais a cada sorriso aconchegante que surgia em seu rosto.

O tempo lá fora estava tão ruim naquele dia. Mas eu gostava de dias chuvosos e frios. De qualquer paisagem melancólica. Você sabia disso, e também sabia que eu gostava de observar a chuva, então disse que estava tudo bem ficarmos lá, de frente para a janela.

Eu não estava bem naquele dia. Talvez houvesse um motivo específico para que eu estivesse me sentindo mal, mas decidi não te contar, pois tive medo da resposta. Você me perguntou porque eu estava triste, mas eu só disse que não sabia. Você entendeu e não fez mais perguntas.

Naquela tarde eu senti algo muito estranho. Já faziam dois meses que estava sentindo aquilo, mas naquela tarde, pareceu como uma faca rasgando todo o meu coração; foi mais forte do que eu achei que ia aguentar.

Mas você me distraiu, e foi como se eu nunca tivesse sentido aquilo.

Você nunca soube o por que de eu sempre sentir uma tristeza sem motivo aparente. Eu juro que queria te contar, mas sempre deixei o medo falar mais alto que tudo. Os seus sorrisos com certeza valiam mais a pena.

Então nós conversamos o resto da noite que chegou. Já estavamos com muito sono, e logo as palavras saiam aleatoriamente pelas nossas bocas. Eu não sabia a forma com que devia olhar para você; eu devia ter te amado tão intensamente, mesmo que aquele medo continuasse crescendo dentro do meu peito?

O mundo parecia não ser tão cruel quando você estava ao meu lado.

— Eu me preocupo com você. — Você disse tão calmamente, pude jurar que soou como um sussurro longe da nossa realidade.

Eu só conseguia pensar no quão doce as suas palavras eram, e no quanto elas doeram depois que percebi sobre o que se tratavam. Eu não sabia o que responder; meu corpo tinha congelado. Eu só sorri fraco, assentindo.

Talvez eu tenha te magoado não dizendo que aquela preocupação era recíproca. Me desculpe.

Mas então nós acabamos dormindo ali, naquele sofá apertado e desconfortável. De manhã você me acordou, parecia ter acabado de se libertar do mundo dos sonhos, também. Seus olhos estavam pequenos devido ao sono e ainda usava as roupas brancas que tanto me fizeram prestar atenção na sua beleza e em como ela era esplendida. Eu ainda estava com sono e não pude apreciar muito o seu rosto adorável depois de uma boa noite de descanso. Você tirou sua mão do meu ombro e segurou a minha delicadamente, eu entendi o recado e me levantei devagar, ainda sentindo o sono dominar meu corpo. Com meus olhos fechados, deixei que me levasse até o seu quarto para nos deitarmos num local mais confortável. Alguns resmungos de dor saíram da minha boca quando senti os desconfortos no pescoço e pernas.

Eu não prestei muita atenção no que aconteceu depois. Mas quando eu acordei novamente, você parecia não ter dormido desde que deitamos no colchão. Era visível que seus olhos não estavam mais inchados, porém, ainda fechados. Eu sabia que você não estava dormindo, pois segurava a minha mão e a acariciava delicadamente. Naquele momento o meu maior desejo foi que o tempo parasse, para que fosse o suficiente de sentir aquele toque. Eu fitei as nossas mãos e então fechei os olhos lentamente, sentindo o infinito dentro de mim.

Mas aquilo acabou rápido, com o som estridente da campainha e alguém batendo na porta. Eu me repreendi mentalmente por ter sido tão egoísta.

As vezes eu me pego pensando como seria se as coisas tivessem sido diferentes naquela época.

Se eu talvez tivesse dito o que me deixava tão triste.

Se eu tivesse deixado aquele medo de lado.

Se eu soubesse que tudo começaria a cair depois daquele dia.

Se eu soubesse que aquele sonho ia acabar tão rápido quanto chegou...

O que não foi resolvido.Onde histórias criam vida. Descubra agora