Sol

19 4 2
                                    

Um dia de sol. Você me chamou para andar por ai e tomar alguma coisa. Você estava tão feliz que me contagiou com seu sorriso brilhante.

Nós sorrimos muito naquela tarde. Eu não sabia como, mas a aura em volta de você estava tão alegre e brilhante, eu conseguia ver o brilho radiante nos seus olhos. Os olhos que em um momento me fitaram tão intensamente que senti que podia pegar fogo ali mesmo. Os seus cabelos curtos e platinados refletiam as luzes coloridas da primavera com seu brilho natural. Talvez se eu não te conhecesse, diria que era a personificação de um sonho.

Não só naquela tarde, mas no decorrer da semana seguinte você continuou mais radiante do que o normal. Você até aceitou assistir algo de terror comigo, e quando perguntei o que te deixava tão feliz, você apenas me fitou e agradeceu, sem parar de sorrir em nenhum momento. Eu não entendi, mas sorri de volta.

Foi naquela semana que eu pude sentir o amor transbordar de você. Eu não sabia o porque e nem como você me contagiava com seus sorrisos enormes, mas isso acontecia toda hora. Eu não tive tempo para pensar sobre isso, estava ocupada demais observando como seu sorriso era lindo e como o platinado brilhante no seu cabelo combinava com os seus lábios vermelhos e finos.

Mas depois que aquela semana acabou, você pareceu triste. E isso me incomodou. Estava quieta, e não agitada, como na semana que havia passado.

Eu perguntei se estava tudo bem, mas você só disse que não queria conversar.

Era isso que estava acontecendo no último mês. Você não me dizia mais por que ficava triste, e raramente dizia o motivo de estar feliz. Era como se não fossemos mais próximas o suficiente para ter aquele tipo de conversa.

E isso me assustava, você era a única pessoa que eu tinha.

Aquele dia foi estranho, e no final dele, você me perguntou algo estranho também.

Podemos recomeçar, do zero?

Foi o que você me disse. E eu fiquei assustada, o que significava aquilo? Eu não tive tempo de pensar, quando percebi, você me beijava calmamente. Eu não pude me sentir mais feliz do já estava, mas eu não tinha notado que, além de reciprocidade, havia algo melancólico naquele ato.

No outro dia, chovia de novo. Mais um dia onde o clima me agradava mais do que meus próprios sentimentos.

Naquele dia um desespero muito grande se instalou em meu peito. Eu precisava conversar com você para tirar aquele peso dos meus ombros. Mas não uma conversa para me distrair. Uma para esclarecer o que estava acontecendo.

— Eu sinto muito, senhora— Me levantei rapidamente, eu não iria continuar escutando o que aquele homem dizia sem ter a absoluta certeza. Eu corri para te encontrar e ter a prova de que tudo aquilo que eu tinha ouvido era uma verdadeira brincadeira de mal gosto.

Mas não era.

E eu senti como se um pedaço da minha vida tivesse morrido.

Você estava lá, escorada no batente da porta analisando a tela do seu celular. Mas eu não via você. Os seus olhos brilhavam como sempre, cheios de vida. Mas eu sentia que estavam vazios.

A minha garganta se apertou tão forte que pensei que ia explodir. Você percebeu que algo estava errado, afinal, eu tinha entrado na sua casa sem bater e parado em frente à porta já fechada. E então te olhado como se fosse alguém que não devia estar lá.

Todos os meus medos tinham se tornado realidade mas eu nem tinha percebido. E agora eu estava frente à frente com eles. Frente à frente com você.

Por um momento senti meu corpo travar. A sua expressão já não era a sorridente por ter me visto, e sim a preocupada. Você deu um passo à frente, e eu recuei na mesma distância, a olhando com medo. Me olhou confusa, pude ver que você engoliu em seco pelo movimento tenso na garganta.

Eu sabia que aquilo não era uma alucinação, eu nunca tive o amor como uma prioridade na vida, e por isso tinha certeza de que minha mente não estava me pregando peças.

Mas afinal, por que você estava ali?

Quem era você?

O que não foi resolvido.Onde histórias criam vida. Descubra agora