Conhecido como um dos primeiros best-sellers do século XX e considerado o melhor romance policial já escrito, O cão dos Baskerville arrebata o leitor com seu enredo de horror gótico, um clima de ameaça constante, estranhas pistas e inúmeros suspeito...
Um dos defeitos de Sherlock Holmes, se é que se pode chamar isso de defeito, era não comunicar os seus planos integralmente até o momento de pô-los em prática. Com certeza, isso vinha em parte do seu gênio dominador, que gostava de dirigir e surpreender os que se encontravam à sua volta. E em parte tinha da sua cautela profissional, que o incitava a não se arriscar. Mas o resultado era muito irritante para aqueles que trabalhavam como seus agentes e assistentes. Eu mesmo tenho sofrido muito com isso, mas nunca tanto como naquela longa caminhada pela escuridão. A maior prova estava à nossa frente; íamos finalmente fazer um último esforço, e, apesar disso, Holmes nada dizia e eu apenas podia imaginar qual seria o seu plano de ação. Os meus nervos vibravam de ansiedade, até que, finalmente, o vento frio que nos batia no rosto e os espaços negros de cada lado da vereda nos provaram que estávamos de novo na charneca. Cada passo dos cavalos e cada volta das rodas nos levavam para mais perto da suprema aventura.
Nossa conversa era prejudicada pela presença do cocheiro do carro alugado, de modo que tínhamos de falar de assuntos triviais, numa altura em que nossos nervos estavam tensos de emoção e expectativa. Senti um alívio quando, após aquele constrangimento, passamos pelo portão da casa de Frankland e vi que chegávamos perto de Baskerville e do terreno de ação. Não fomos de carro até a porta; descemos perto do portão da alameda. Pagamos cocheiro, mandamos que ele regressasse a Coombe Tracy e enveredamos pelo caminho que levava a Merripit.
— Está armado, Lestrade?
O pequeno detetive sorriu.
— Enquanto estiver de calças, tenho o meu bolso do lado, e, enquanto tiver o meu bolso do lado, tenho uma coisa dentro dele.
— Muito bem! Watson e eu também estamos preparados para qualquer emergência.
— Está sendo muito reservado a respeito desse assunto, sr. Holmes. Qual é o jogo?
— Jogo de espera.
— Por Deus, não é um lugar muito alegre — disse o detetive com um estremecimento, olhando para as lúgubres encostas dos morros e para o grande véu de neblina sobre o atoleiro de Grimpen. — Vejo à nossa frente as luzes de uma casa.
— E a Casa Merripit, e o final da nossa jornada. Peço-lhes que andem nas pontas dos pés e não falem a não ser por murmúrios.
Caminhamos cautelosamente pela vereda, como se nos dirigíssemos para a casa, mas Holmes nos deteve quando nos achávamos a duzentos metros.
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— Até aqui, basta — disse ele. — Aquelas rochas à direita servem de ótimo esconderijo.
— Vamos esperar?
— Sim, ficaremos aqui de emboscada. Entre nesse buraco, Lestrade. Você conhece a casa por dentro, não conhece, Watson? Sabe a posição dos quartos? Que janelas são aquelas, de grade, do lado de cá?