Acordei no hospital do Gelo com uma dor de cabeça absurdamente insuportável. Não me lembro de nada do que aconteceu e quero muito saber porque estou aqui.
Uma mulher, que estimo que seja uma enfermeira, entra no quarto abruptamente, o que me faz olhar pra ela, assustada e atordoada. Assim que me vê, ela arregala os olhos e sai do quarto. Pouco tempo depois a enfermeira volta com um homem de jaleco branco, que vem em minha direção forçando um sorriso."Olá, Agnes. Eu sou o Dr. Boris, fiquei encarregado de cuidar de você após um grave acidente que você sofreu. Como está se sentindo?" Bem direto ele, hum?
"Bem...?" Ele dá uma risadinha. "Por que não estou sentindo minha perna esquerda?" Seu sorriso desapareceu na hora.
"Realmente, você não deve estar se sentindo muito bem para conversar após um mês, certo?" Ele ignorou completamente a minha pergunta, então escolhi apenas deixar pra lá.
"Um mês?!"
"Opa!" Mais uma risadinha. "Sim, você esteve em coma por um mês." Não se preocupe, já que seu pai e seu irmão já foram para casa e estão te esperando."
"E minha mãe?" Ele empalidece de repente. "Onde está a minha mãe?"
"Eu vou ligar para o seu pai." Ele sai rápido do quarto, seguido pela enfermeira.
O que teria acontecido com a minha mãe? Ela está bem?
Após um tempo que eu diria ter sido de, aproximadamente, 30 minutos, o médico adentra novamente o quarto, dessa vez acompanhado pelo meu pai e irmão, ambos com olhos inchados e fundos, e com vários curativos espalhados pelo corpo, porém pareciam estar bem.
"Agnes! Como você está? Está doendo muito?" Meu pai se aproximou rápido como uma flecha e segurou minha mão de leve. Meu irmão também se aproximou e me lançou um sorriso triste.
"Onde está a mamãe?" Perguntei, já com lágrimas nos olhos, mas eu não chorei. Prometi para mim mesma que não choraria mais e não vou me permitir quebrar essa promessa.
"Vou deixá-los a sós." Disse o médico, retirando-se do quarto após meu pai e irmão se entreolharem.
"Agnes, a sua mãe..." Meu pai começou a explicar, mas lágrimas pesadas começaram a rolar pelo seu rosto e ele abaixou a cabeça. O Pedro se aproximou e segurou minha mão entre as suas, enquanto lutava para conter as lágrimas.
"A mamãe..." Ele levantou a cabeça para forçar as lágrimas a voltarem para seus olhos. "Ela se foi, Agnes." Nesse momento meu pai deu soluço alto. "Pra sempre." Fiquei pasma, estupefata, mas não chorei.
Minha mãe sempre foi minha melhor amiga. Para quem eu contava meus maiores segredos, quem sempre me ajudava a tomar a melhor decisão, quem sempre me apoiava e incentivava. Mas agora ela não está mais aqui. Agora eu não posso mais contar meus segredos, paixões, histórias, vivências... agora ela está morta. E não há nada que eu possa fazer.
Descobri que minha perna esquerda havia sido amputada pois um dos bancos velhos do caminhão havia caído bem em cima dela, entre outras coisas mais pesadas. Um inventor do meu setor havia feito uma "perna de gelo" para mim, como ele se referia à prótese (apesar de ela ser feita de ferro), a pedido do meu pai. August, o inventor com aparência de gênio maluco por causa de seu cabelo sempre bagunçado e óculos fundo de garrafa que ficam sempre próximos à ponta do nariz, recomendou, barra, exigiu que eu fosse até seu galpão velho e empoeirado no qual ele dizia ser seu local de trabalho para que fizesse uma vistoria na prótese, pois diz não confiar muito em si mesmo.
Eu acabei perdoando o Lucas e deixando de lado aquela minha birra idiota. Meus colegas mais próximos me tratam como se eu fosse a rainha Elyez (rainha de todos os setores) após descobrirem sobre o acidente, a perna e minha mãe.
Ah, minha mãe... Como ela me daria apoio em um momento como este... Agora não tenho ninguém para me confortar nas noites em que me sinto depressiva, quando imagino o quanto estarei perdendo na vida por causa de uma perna que eu não tenho mais. Claro, tenho meu irmão e algumas amigas que vêm me fazer companhia durante a noite, mas é diferente. Mãe é mãe, não tem igual ou sequer parecido.
Enfim... Uma mera prótese feita por um inventor que não bate muito bem das idéias não vai me impedir de descobrir quem é o dono daquela voz assustadoramente conhecida.
Não sou de desistir facilmente, e não é agora que isso vai mudar.
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Entre Dois Mundos
FantasyAgnes é uma garota de 16 anos que vive numa sociedade em que todos tem "super poderes" e o dela é o de controlar o gelo. Além de seus poderes habituais, Agnes descobre uma coisa a mais sobre si mesma e sua sociedade depende dela e de seus amigos...