《1》

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Sempre ouvi dizerem que a vida é maravilhosa e deveria ser apreciada. Mentirosos.

Talvez, a vida tivesse sido fácil na época deles, mas não agora. Definitivamente, a vida agora é uma merda.

Mas pior do que estar vivo, deve ser se tornar um deles. Pessoas mortas que voltam à vida, sedentas por carne. Os culpados da vida de todos serem horríveis.

Agora, que o mundo foi praticamente dominado por eles, temos que matar pra sobreviver. Alguns se tornam monstros, mesmo vivos. Outros, morrem tentando não matar. E então voltam à viver, mas como um deles.

Suspirei, matando mais um morto-vivo. Encontrei um lugar que parecia estar completamente desocupado, e me sentei. Já era noite, e eu precisava descansar. Há alguns dias, vi uma placa de uma comunidade chamada Alexandria, que era onde eu queria chegar.

Meu estômago roncou, e eu abri uma lata de milho. Uma das minhas últimas latas de alimento. Fiz uma pequena fogueira pra me aquecer, e comecei a comer.

Mesmo alimentada, não conseguia dormir. Fiquei vidrada olhando para a fogueira, pensando em tudo o que aconteceu até agora.

Quando tudo começou, eu tinha 11 anos. Agora, devo ter uns 15, 16. Nesses anos, eu perdi meus pais. Perdi meus amigos. Perdi o meu antigo grupo. Não tinha mais nada.

Ouvi o barulho de galhos se quebrando, e deduzi que tinha alguém vindo. Peguei o meu revólver e coloquei um silenciador, esperando qualquer possível ameaça.

O que veio foi um garoto, que aparentava ter a minha idade e usava um chapéu. Ele levantou as mãos quando me viu, e parou de andar.

- Eu sou Carl. Não atire em mim.

Abaixo um pouco a arma, e me aproximei.

- O que quer aqui?

- Absolutamente nada. Estou esperando amanhecer pra voltar pra casa.

- Você tem casa? Um grupo? - Perguntei. Talvez me aceitassem. Uma casa não seria nada mal.

Ele não me respondeu de imediato, parecia estar avaliando se eu apresentava ser uma ameaça.

- Eu tenho um grupo. Temos um lugar. Você tem um grupo?

- Eu não tenho nada, garoto.

- E vai pra algum lugar?

- Olha, eu não te conheço. Não vou sair falando tudo pra você só porque não atirou em mim.

- Eu acho que podemos nos ajudar. Olha, eu estou completamente perdido, e sem munição. Só tenho armas brancas, agora. Você me ajuda a chegar em casa, e se você quiser, pode ficar por lá. Se você não quiser, posso te dar um pouco de comida, roupas e alguma arma.

- É mesmo? E onde, exatamente, é a sua casa? - Perguntei, considerando a ideia dele.

Um pouco de companhia não faria mal, de qualquer jeito. Já não aguentava mais ficar sozinha, e esse era outro motivo pra ir pra Alexandria. Pessoas.

- Eu moro em uma comunidade. Alexandria. - Levantei meus olhos pra ele, desacreditada.

- Acho que podemos negociar, Carl. Eu estava indo pra Alexandria. Mas não estamos tão perto.

- Quanto tempo pra chegar?

- Uns dois dias. Sinceramente, como você chegou aqui?

Ele suspirou e se sentou. - Alexandria foi invadida por saqueadores. Wolves. No meio da confusão, Enid me disse que ia fugir. Eu vim atrás dela, ela não vai conseguir sobreviver.

- Talvez ela nem tenha chegado a sair de lá. Ou então, já voltou. - Ou morreu, mas preferi não dizer essa parte.

- Eu não estou mais em condições de procurar por ela. Se ela não estiver em Alexandria, eles vão mandar um grupo de busca.

Ficamos em silêncio algum tempo, e Carl voltou a falar.

- Sabe, é estranho eu ter te falado isso tudo. Quer dizer, eu não sei nem o seu nome e já te falei sobre isso tudo. Não é uma coisa que eu costumo fazer.

- É Faith. E isso é realmente estranho, porque apesar de você ter me falado isso tudo, eu não te contei nada. Você deveria ser mais cuidadoso, e se eu for uma assassina?

- Você não é. Mas você está certa, erro meu. Mas você me parece ser confiável.

- Eu sou, mas você não sabia disso quando começou a me dar informações sobre você e Alexandria.

Ele riu, e pegou uma lata na mochila. - Você quer?

- Não, eu já comi.

- Pode dormir, Faith. Eu fico de guarda.

Me deitei, e dormi, com uma arma nas mãos.

Acordei quando o sol já estava brilhando, e me levantei. Carl estava de pé.

- Temos que seguir indo pro Norte. - Eu falei, pegando minha mochila. - Vamos?

Começamos a andar, e não conversamos muito. Encontramos alguns errantes no caminho, e os matamos. Continuamos andando e achamos um pequeno mercado.

- Vamos entrar? - Carl perguntou, já indo em direção do mercado.

Ele abriu a porta com um chute, e eu entrei. Não haviam mortos lá dentro, e ainda restava um pouco de comida.

- Isso é o paraíso! - Carl exclamou, e eu o segui. Ele estava no corredor de biscoitos e chips.

Abri a mochila, e comecei a jogar vários pacotes de doritos lá dentro. Uma garota pode se divertir, não pode?

Carl abriu um pacote de batatatinhas e começou a comer, enquanto eu procurava mais coisas. Acabei enchendo uma bolsa com enlatados, garrafas de água e coloquei muitos chocolates na mochila.

- Hey! - Chamei Carl. - Já se abasteceu?

- Sim! Meu Deus, tinha tanto tempo que eu não comia um bombom.

- Então vamos. Se dermos sorte, acho que conseguimos chegar ainda hoje.

Assim que saímos, continuamos o nosso caminho. Andamos por horas, e paramos pra descansar.

- Toma. - Carl me entregou uma garrafa d'água. - Acho melhor acharmos um abrigo. O tempo não parece muito bom.

- Vamos continuar andando. - Suspirei. - Se começar a chover, eu achei uma barraca no mercado. Pode nos proteger um pouco.

- Sabe montar uma barraca?

- Eu não.

- Eu também não sei.

- Então, meu amigo, torça pra não chover até chegarmos em Alexandria.

E foi só dizer isso, que começou a chover. Muito.

the cure ; carl grimesOnde histórias criam vida. Descubra agora