Capítulo 1

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Acredito que toda família, ou pelo menos, grande parte delas têm aquele momento decisivo em que seu filho ou filha estão saindo do, sofrido e vagaroso, ensino médio e então começa aquele desespero do que ele vai decidir fazer pelo resto da sua vida (claramente essa frase é um slogan de pais e da sociedade). São vestibulares, cursinhos e horas de sono mal dormidas e não dormidas. Até aí todos já conhecem... Mas então vem outro clichê, o filho ou filha acabam escolhendo um curso que para eles é o certo, que farão com vontade e esperam ter um futuro próspero e feliz, mas para seus pais não é o suficiente. E essa é a minha história. Tenho 19 anos, sou estudante de Letras e um motivo de tristeza para meu pai. Acredito que seu sonho era me chamar de Dra. Alana seja de saúde ou de advocacia, mas não era pra mim, ele não conseguia entender e ainda não consegue. Os primeiros semestres foram muito difíceis para mim, com toda a pressão vindo de fora e ainda de dentro da minha cabeça pensei muitas vezes em desistir e não foram poucas as vezes em que chorava no banheiro e carregava minha amiga Lia que sempre estava lá para me apoiar. Agora estou no 2° ano da faculdade e meu pai ainda tem dificuldade em falar nesse assunto. Acabo de sair da sala de aula, da última aula antes das férias e não lembro quase nada que o professor falou sobre a Literatura Brasileira, por que sempre essa lembrança me vem à mente, por que férias me remete a ver meu pai e aquelas tias que não tem mais o que fazer além de tomar conta da nossa vida. Quando ia para o corredor e voltava para minhas tristes lembranças uma voz chamou meu nome e me tirou do meu transe.

- Lanaaaa! Onde você pensa que está indo?? – Era a Lia me chamando, minha dupla de todos os trabalhos. - Eu sei que é férias e todos queremos nos livrar da facul o quanto antes mas você sabe que quero falar uma coisa com você há dias. E não vai se livrar tão fácil assim de mim.

Ainda não sei como aguentava a Lia. Ela era incrível mas sempre tinha seus momentos de superego e ainda tinha que ouvir todos seus comentários exagerados sobre os boys magias da faculdade, sempre nos fitavam quando ela gritava como acabou de fazer. Bufei e me virei em sua direção. Se tem uma coisa que ODEIO é chamar atenção pra qualquer pessoa.

- Oi Lia! Me desculpa, eu estava tão distraída que nem lembrei disso. – Eu realmente não lembrava, a imagem dos meus parentes era mais forte e não estava afim de brigar com ela.

- Pois é né. Mas sério você não vai se arrepender do que tenho pra te contar, na verdade é te mostrar. – Enquanto falava isso Lia buscava loucamente dentro de sua mochila alguma coisa, quando finalmente achou. – Olha isso amiga. É um sonho!! Eu com certeza vou, mas não tem ninguém conhecido que vá, a não ser claro que você queira ir comigo. – Podia jurar que Lia me olhava com os olhinhos do gato de botas.

- Lia pode me explicar isso por favor? Eu não estou entendendo. Um teatro? O que tem a ver com a gente isso? – Estava bem perdida... O que afinal Lia queria? E mais uma vez já podia imaginar a cena de meu pai quando eu chegasse hoje em casa.

- Ihh Lana... Já sei. Esse mau humor todo é por conta da volta a realidade né? Então foca e presta atenção!! Isso é a solução dos seus problemas, isso é o paraíso! Olha – apontava para o folheto com muita animação... Só queria a metade da animação dela, já era suficiente. Lia começou a ler os pontos positivos daquela ideia maluca. -  1 mês completo numa viagem pela arte do teatro, diversas peças, diretores renomados, autores famosos e iniciantes. Todos juntos para fazer desse mês um mês de inspiração e criação. Esperamos por você! Do dia 1 de julho a 1 de agosto! Faça já sua inscrição.

Minha cara não devia estar nada boa depois da super explicação de Lia pois ela me encarava com raiva. E eu até fiquei com um pouco de medo... Nunca se sabe o que esperar dela. Resolvi enfim responder.

- Lia... Já percebi que é um mês de muito teatro, arte etc, mas onde nos encaixaríamos nisso? Não somos atores iniciantes, renomados e muitos menos diretores. Pelo que fala são só essas opções. – Quando terminei minha amiga já estava pronta pra sua contra-resposta.

- Aí que você se engana querida amiga. Leia os rodapés, sempre, sabe lá o que eles nos escondem. – Ela terminou essa frase com uma gargalhada e tentei entender se havia ali uma ambiguidade... Mas não decifrei afinal. Lia bufou e começou a ler, pelo jeito viu que eu estava em outro lugar já. - Lá vamos nós de novo. Deixa que eu leio pra você, que está meio lerdinha hoje por sinal.

Lia leu todo o rodapé... Cansativamente, que levei ela até um banco para sentar comigo. Mas disso tudo as partes mais importantes, segundo ela e depois para mim, foram: "Nós precisamos também de assistentes de palco, responsáveis por ajudar na sala do figurino e ajudante de técnicos para luz, som e tudo que envolva elétrica. E você que é estudante pode garantir uma boa quantia de horas pro seu semestre, não perca!"

A partir desse momento a ideia não parecia tão louca assim, primeiro amava teatro, se conseguisse ser assistente do palco iria ajudar em tudo e de quebra assistiria aos ensaios. Se fosse do figurino ficaria babando nas roupas lindas que deveriam ter lá. E o mais importante de tudo: HORAS pra faculdade, se você é estudante deve me entender, essas coisas não tem fim. Enfim, eu estava começando a querer dizer sim pra Lia, aquele rodapé tinha dado uma razão para ir e acendeu uma chama no meu coração. E não seria tão ruim já que ela não parava de falar e parecia cansada o suficiente. Deu um pouco de dó. Decidi interrompe-la e acabar com sua falação.

- Lia... – Ela não parava. Então apelei – LIAAAA! – Ela parou e me olhou assustada, parecia não acreditar que eu tinha acabado de gritar com ela mas afinal tinha funcionado. – Não precisa dizer mais nada, eu vou!

Lia piscava sem parar, seus olhos brilhavam e ela abriu a boca em um "o" perfeito, mas simplesmente não conseguia falar nada, pela primeira vez desde que a conheci. E isso era estranho, ela estava dando muita atenção pra esse 1 mês de arte, só conseguimos rir depois disso e nos despedimos, iríamos pra casa arrumar tudo que fosse preciso e também falar com nossos pais, pois era um mês inteiro em que devíamos ficar com eles e não num "clube de teatro". Só conseguia imaginar a cena que meu pai faria e então tudo voltou como estava antes da conversa com Lia. Seria apenas um dia já que o clube só começaria dia 1 e estávamos no dia 30 de junho. Fui até a minha república peguei tudo que precisava e fui pegar o ônibus pra casa, meu coração já começava a acelerar e eu sabia que essa sensação poderia nunca passar. Respirei fundo e encarei a estrada à frente, seria só mais um sermão de meu pai e eu lidaria com isso. É o que eu esperava.




Apresento nossa garota Alana e sua melhor amiga Lia!

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Apresento nossa garota Alana e sua melhor amiga Lia!

Uma aventura pela frente, muita bagunça, possíveis intrigas, confusões, mas muito amor também.

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Beijinhos,

V.N.

A Garota do FigurinoOnde histórias criam vida. Descubra agora