Capítulo 10

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Durante o caminho não nos falamos muito, o que foi até melhor. Por que sempre acabamos deixando algumas faíscas escaparem. Tinha certas dúvidas de que até podia enxergá-las em alguns momentos. Mas depois de achar que estava andando um pouco demais, e ele não parecia estar determinado a chegar à minha cabana, resolvi abrir a boca.

- Tem certeza que sabe onde está me levando? Estamos andando há um tempo, estou ficando cansada. - Parei e apoiei minhas mãos no joelho, não sabia que estava tão podre assim.

- Tenho sim, madame. Dá sua mala que eu carrego. Faltam umas duas quadras só. - Ele ria de mim por estar quase me jogando no chão. Pegou minha mala e me segurou pelo braço para levantar, mas logo me soltei, não precisava dele para andar.

- Como pode ter tanta certeza do lugar? Pelo que Lia me disse o acampamento não acontece aqui, foi especial desse ano. E acertaram em cheio é tão lindo. – disse com um enorme brilho no olhar, já que estava sendo o melhor ponto dessa viagem.

- Quem é Lia? – Petros perguntou meio encabulado.

- Ah claro, é minha melhor amiga, mas que no momento me abandonou por um garoto qualquer do acampamento. – Deixei que meus ombros caíssem de tristeza. Mais ainda, pois já estavam de cansaço.

- Entendi, tenho certeza que ela vai te procurar para contar as "fofocas".

- Sei, claro... – Ainda estava processando a palavra "fofocas" que ele, um ogro, tinha falado. – Então, sobre o lugar...

- Ah é, está sendo especial desse ano sim, mas já houve outra edição aqui há um tempo então conheço um pouco e claro, tenho um mapa. - Petros mostrou o papel dobrado que saiu de seu bolso, sorria vitorioso como se quisesse me impressionar, no final das contas me impressionou, eu não tinha esse mapa, certeza que Lia teria, mas eu nem havia pensado nisso.

- Caramba! Preciso de um desse, vou até dormir com ele para evitar um desaparecimento. - Acabei rindo de mim mesma, e Petros riu junto, nossos olhares se encontraram e parecíamos felizes, cansados, mas felizes. Por que ele causava tantos sentimentos em mim? Eu não estava sabendo conviver com isso, me deixava tão confusa. E ainda tinha Yan. Desviei meus olhos dos dele e disse qualquer coisa para mudar o ar. – Se puder me arranjar um amanhã, eu pego com você, vai me salvar muito.

- Claro! Talvez eu consiga pegar hoje mesmo, antes da fogueira. – Ele falou pensativo, parecia querer dizer algo e buscava as palavras certas. – Falando nisso, ahn... Você gostaria de ajuda pra ir à fogueira? Quer dizer ir do seu quarto até a fogueira, não quero que você se perca por que não ajudei, sabe? – Sua boca deixou escapar um sorriso brincalhão, e pude ver como ele era bom em transformar um assunto meio constrangedor no começo em algo engraçado no final. Quase certeza que era ator.

- Mas olha só, que cena mais linda! Agora eu tenho certeza que você é um ator. – O olhei provocando e ele mantinha aquele sorriso perturbadoramente irritante e lindo, então continuei para tentar descobrir algo real sobre ele. – Estou certa, não é?

Ele hesitou, me encarou e então soube que não falaria o que eu queria saber.

- Você descobrirá em breve.

Mas no fim falou outra coisa, que era exatamente o que eu queria naquele momento.

- Chegamos. Aqui é o seu quarto. – Ele indicou com a cabeça e subiu os primeiros degraus onde colocou minha mala. Esperei que ele descesse e fosse embora, mas lembrei do que ele havia perguntado antes e devia estar esperando uma resposta. Fiquei pensando no que diria e então quando percebi ele já tinha descido, não sei se tinha dito tchau ou algo do tipo, mas seria a cara dele sair sem se despedir. Desci e fui até ele.

A Garota do FigurinoOnde histórias criam vida. Descubra agora