O desafio mortal

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Existem pessoas que não respeitam aquilo que não conseguem entender, não sei se por medo, pois o desconhecido assusta ou por pura idiotice, mas, mal elas sabem, que não devemos brincar com forças que não compreendemos. E que nosso cérebro é capaz de nos pregar peças quando nossos olhos não conseguem distinguir o real do imaginário.

Os "5 " era assim que gostavam de ser chamados, para muitos um ridículo nome, era um grupo de amigos onde ambos tinham uma característica em comum, além de ser jovens entre 19 e 21 anos, só andavam de preto, ( alguns dizem ter sido um pacto) outros diziam ser palhaçada para aparecerem, na realidade ninguém sabia ao certo o motivo disso, como a maioria tinha uma vida boa, com os pais com condições de dar-lhes uma boa vida, a única preocupação deles era a faculdade onde todos estudavam, e passavam os dias.

Chamavam realmente a atenção onde iam, não só pelas roupas e estilos com muitas tatuagens e piercings, e também pelo comportamento na maioria das vezes violento.

Viviam em bares e baladas quase todos os dias e sempre arrumavam confusão, presos algumas vezes, sempre eram soltos, pois a maioria dos pais eram muito influentes, e assim viviam os dias, entre uma ressaca e outra, causando problemas com outras pessoas.

Foi numa dessas noites, onde não tinham nada pra fazer, estavam com seus carrões parados na praça quando tiveram a idéia de se divertirem em algum lugar diferente dessa vez.

Alguns sugeriram a praia e outros irem pra floresta a noite. Foi quando alguém teve a brilhante idéia:" por que não vamos ao cemitério perturbar um pouco os mortos, já que está chato perturbar os vivos". Todos vibraram: " isso". Pegaram suas bebidas e lá foram pro cemitério da cidadezinha onde moravam com pouco mais de 30.000 habitantes, e sabem como é cidade pequena, todo mundo sabe da vida de todo mundo.

Estacionaram seus carros um pouco distante do muro do cemitério, andaram uns 100 m e com facilidade pularam para dentro e começaram a festa regada a bebidas alcoólicas em excesso, como sempre faziam.

A noite estava clara, sem nuvens, com uma lua que, apesar de estar minguante, clareava bem o local onde estavam, com a luz de seus celulares reforçando a iluminação. Foi quando Cláudio, um dos mais velhos disse:
- Vamos dar uma volta por aí e ver os túmulos?
- "obaaaaaa!!!" todos vibraram. "Vamos!!!". E foram...

  Brincadeira sinistra essa, não acham? Ir entre túmulos e lápides fazendo piadas o tempo todo( pois não sei se perceberam, algumas tem fotos dos entes que se foram)," aqui Cláudio, seu avô tá enterrado aqui", " Ih,  Ana essa é você daqui alguns anos ". E com essas brincadeiras que o grupo foi parar na parte nova do cemitério. Uma área arborizada, ainda com poucos túmulos, mas uma coisa chamou a atenção deles. Numa área entre duas árvores que pareciam saídas de um filme de terror, estava aberta uma cova, de um metro mais ou menos e o mais curioso é que ao lado, estavam duas pás, ainda sujas, de terra, que parecia ter sido usadas recentemente.

   Foi quando eles ficaram com receio de ter alguém no cemitério.
-- olá, tem alguém aqui? - Cláudio gritou.
-- sim seu idiota, um monte de gente morta, mas acho que não irão te responder. Rss
  Todos caíram na risada. Então foi quando Henrique, o mais bobo do grupo sugeriu. Por que alguém não deita na cova, e a gente bate uma foto fingindo que tá jogando terra em cima?
  Sara disse" não vou sujar minha roupa. Deita lá você, já que deu a idéia." Naquela discussão de quem vai ou não vai, Cláudio desafiou Lucas,  o mais novo do grupo.
--" Lucas, vai você."
--" Por que eu?"
--"  Você entrou nos "5" por último, é o mais novo e porque não tem coragem"
  Todos zoaram, chamando ele de medroso, criança, essas coisas. Até que ele aceitou. Foi o que faltava pra farra ficar melhor. Lucas se deitou na cova recém aberta, tinha folhas e galhos dentro. Deu uma limpada e se deitou com as mãos cruzadas sobre o peito. Foi um festival de fotos e selfies, os meninos pegavam a pá e fingiram que jogavam terra, as meninas ajoelhadas ao lado, fingindo chorar, tudo corria na maior zoação, quando....

   Um grito lhes chamou a atenção e fez todos olhares na mesma direção.

--"O QUE VOCÊS PENSAM QUE ESTÃO FAZENDO? "
   Era um senhor, no alto dos seus 70 anos, vestia uma roupa velha e surrada e estava ao lado de um dos túmulos. Pensando em se tratar do coveiro ou vigia do cemitério, Cláudio disse: "estamos tentando nos divertir um pouco" com aquela arrogância que pra ele era normal.

-- Vocês não podem ficar aqui. Não pode perturbar aqui. É falta de respeito!!! Disse o velho sem sair do lugar. Lucas assustado, continuava sentado dentro da cova.
-- Acho melhor irmos Cláudio. Disse Ana.
-- Vou lá falar com ele. Fiquem atrás de mim. Disse ele. Todos os acompanharam, menos Lucas, que estático permanecia no mesmo lugar.

  Se aproximaram do velho. Ele permanecia parado ao lado do túmulo. O grupo chegou e Cláudio falou que não estavam fazendo nada de mais, que estavam só tentando fazer algo de diferente.

-- Vocês tem que respeitar o que não conhecem. Disse aquele senhor calmamente.
-- Perturbar quem? Tenho certeza que os aqui moram não vão me dizer nada.
-- cla- clá...Cláudio....cultucava Ana.
-- "TEM ALGUÉM AQUI INCOMODADO?" gritou ele..
-- Cláudio. ..o-olha...apontava Ana apavorada...o rapaz continuava a zombar daquele senhor que ali continuava olhando pra eles.
--Viu? Ninguém se incomodou. Foi quando ele percebeu que Ana, Sara e Henrique se afastavam lentamente pra trás, como que paralisados de medo. Ele sem entender perguntou:
-- O que houve?
-- OLHA PRO TÚMULO A SUA FRENTE. gritou eles quase ao mesmo tempo. Quando Cláudio se virou e....

  Ao olhar pro túmulo, viu a foto na lápide, e um arrepio passou pelo seu corpo. Não podia ser, apesar da pouca luminosidade, dava pra ver que a foto naquela lápide era a foto daquele senhor ali parado!!! Antes que Cláudio tivesse alguma reação, o senhor sem dizer uma palavra sequer, se virou e aquele grupo de jovens que estavam ali, viram horrorizados, que nas costas daquele senhor tinha um grande buraco, que deixava suas costelas à mostra e percebia uma vela acesa dentro dele.

  Apavorados, com o que estavam vendo, as pernas paralisadas de pavor, o grito não saia da garganta, nesse terror todo, escutavam gritos de socorro. Era Lucas, que por algum motivo não conseguia, sair da cova.

--SOCORRO!! ME AJUDEM, TEM ALGUMA COISA ME SEGURANDO!!! gritava Lucas desesperado.

  Os amigos se aproximaram, arregalaram os olhos e viram que mãos esqueléticas seguravam as pernas do rapaz. Naquele misto de pavor e desespero, tentaram puxar o rapaz, sem sucesso. Foi quando perceberam que não estavam sós!!!

  Ao lado de todos os túmulos estavam pessoas que eles não tinham visto antes. Idosos, homens, mulheres e até uma criança olhavam pra eles com aqueles olhos vazados como que repreendendo a atitude daquele grupo.
-- ME TIREM DAQUI, POR FAVOR.  implorava Lucas chorando de pavor vendo que seguravam suas pernas.

  Tentavam puxar ele de todas as maneiras e...nada. Foi quando perceberam que os mortos começaram a andar em sua direção.
E assim num ato de covardia, fugiram deixando o pobre rapaz gritando dentro da cova. Naquele desespero durante a corrida, Ana deu uma olhada pra trás, e com horror,  viu que cercavam a cova onde o amigo estava.

  Quando chegaram no muro onde tinham pulado ouviram um grito estridente de pavor...

--aaaaahhhhhhhhhhhhrrrgggg!!!!!!. Depois um silêncio mortal.

  No outro dia, a notícia já tinha se espalhado pela cidade. Os quatro amigos foram acompanhados pelos pais e pela polícia ao local onde tudo acontecera.  Os peritos já estavam lá. Viram os pais de Lucas chorando. Então os jovens se aproximaram dos peritos e perguntaram o que houve.
-- Foi fulminante!!!!
-- Como assim? Perguntou Cláudio
-- O infarto. Respondeu o policial, sem levantar a cabeça, pois anotava algo em seu caderno.
-- Infarto? Não estamos entendendo. Disse Sara.
-- Vocês eram tão próximos e não sabiam que seu amigo tinha um grave problema no coração? Disse o policial saindo...

Os quatro se entreolharam e pediram permissão pra ver o corpo do amigo que ainda estava dentro da cova. Depois de muita conversa, os policiais permitiram que os jovens fossem ver Lucas.

  Foi com horror e surpresa que eles viram Lucas, na posição como estivesse desesperadamente querendo sair da cova, os olhos arregalados de pavor, olhava pra cima, com um emaranhado de galhos e raízes enrolado nos seus pés.


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