Pequenas Histórias Sobrenaturais

A aparição na rodovia.

   Já era altas horas da noite quando Jonas passava pela divisa de Espírito Santo com a Bahia. Estava doido pra parar em um posto para esticar as pernas, comer alguma coisa e descansar. Ainda tinha muita estrada pela frente. Era caminhoneiro e tinha saído do Norte do Rio de Janeiro para fazer uma entrega em Alagoas. Já estava dirigindo há 10 horas em seguida só com uma parada e já demonstrava sinal de cansaço.

  "Vou descansar um pouco. Preciso." Pensava ele, torcendo pra chegar logo na sua parada. Estrada escura com poucos veículos aquela hora, só sendo iluminada pelo potente farol de seu caminhão. Ia ele, quando ao longe ele percebeu que tinha alguém no canto da estrada acenando. "Quem ficaria uma hora dessas pedindo carona aqui no meio do nada?" Se perguntava, decidindo se parava ou não.

  Ao se aproximar, percebeu se tratar de uma moça bonita, morena, cabelos pretos e ondulados, belos olhos verdes e um sorriso lindo que logo encantou o solitário Jonas. Sem sequer imaginar o por quê daquela moça estar ali no meio do nada, ele parou o caminhão, abriu a porta e a moça logo subiu na cabine.
- O que faz uma moça linda parada aqui no meio do nada?
- Oi obrigada por ter parado. Na verdade estou indo no posto mais próximo buscar ajuda pois o carro com meus amigos quebrou e eu me ofereci.
- Sério? E onde estão seus amigos?
- Ficaram tentando consertar o carro enquanto busco ajuda. Aqui não tem sinal de celular.
- Certo. Também estou indo pro posto. Deu sorte porque uma hora dessas é difícil de achar carona.
- Verdade e por isso eu te agradeço.
 
  Jonas sorriu e deu partida no caminhão. (Não acham estranho ele não ter sequer perguntado se o carro tinha quebrado ali perto onde estava a moça? Ou se o carro quebrou, por que não estava na estrada, se Jonas não percebeu se tinha alguma estrada ali perto? Mas tudo tem um por que na vida.)

   Chegando ao posto, Jonas foi a loja de conveniência e pediu alguma coisa pra comer enquanto sentado na mesa do canto, observava a moça no telefone público, provavelmente pedindo a ajuda de um guincho. Se sentia atraído pela jovem, sem nem ao menos conhecê-la, e decidiu oferecer pra ela um café ou algo assim, puxa, ela devia estar com fome, pensou Jonas. Se levantou, disse ao atendente que já voltaria, que só iria buscar a moça que estava com ele. O atendente olhou lá pra fora e balançou a cabeça positivamente. Chegando perto dela, aguardou ela terminar a ligação e disse:
- Você deve estar com fome.
- Não precisa se incomodar, você já ajudou muito. 
- Não que isso? Eu insisto. Pelo menos um café. Sua ajuda vai demorar mesmo. Depois eu posso até levá-la aos seus amigos.
-Muita gentileza da sua parte. Mas realmente não quero nada. Mas posso te fazer companhia. E aceito só o café. Obrigada!
- Ótimo. Disse Jonas sorridente.

  E foram pra dentro da loja.
  Perguntou ao atendente se seu pedido estava pronto. Ele disse que sim. E Jonas disse:
- Leva pra mim por gentileza até aquela mesa do canto e leva por favor mais uma xícara de café pra moça.
- Sim, mas que mo....
- Esse antes que eu esqueça, faz mais um sanduíche pra viagem. Interrompendo o rapaz do outro lado do balcão.
   Se sentou de frente pra jovem e começaram uma conversa animada. Ela se mostrando bem simpática, sonhadora, cheia de planos. Contou sobre sua vida e como tudo era perfeito.
  Jonas só ouvia, cada vez mais encantado com ela. Quando o rapaz trouxe seu sanduíche e seu refrigerante e o café. Tirou tudo da bandeja e colocou na frente dele. Jonas pegou o café, colocou na frente da moça e agradeceu o atendente, que não entendeu nada e olhava o caminhoneiro curioso. Também né? Aquela mulher chamava muita atenção, pela jovialidade e principalmente pela sua beleza única. E Jonas, mesmo só estando na companhia dela, se sentia orgulhoso. Foi quando perguntou:
- Nem perguntei seu nome. Sou Jonas. Satisfação.
- Ingrid. Disse a moça estendendo a mão em direção a ele. Pegou a mão da moça e beijou como se fosse um cavalheiro. E nisso percebeu que o atendente e o cozinheiro olhavam curiosamente pra sua direção. Não deu muita atenção a eles. "Estão com inveja!!!" Pensou. Com um sorriso no rosto. E ficou ali com aquela jovem conversando mais de uma hora. Quando ela de repente disse que tinha que ir. Que os amigos estavam esperando.
- Mas como vc voltará para lá?
- Não sei. Dou um jeito. Mas irei.
- Eu te levo.
- Não. Vc já nos ajudou bastante.
- Não. Eu insisto. Eu te levo. Não deixarei vc só. Sabe Ingrid? Você pode me chamar de maluco, mas não queria que você saísse da minha vida assim. Não sei se é comprometida ou não mas passei a sentir algo muito especial por vc. E olha que não tem nem duas horas que te conheci. Sei que é pouco tempo mas vc me cativou de verdade.
  Ingrid olhou pra ele com um sorriso lindo no rosto:
- Também gostei de você. Mas hoje seria impossível. Se eu ainda tivesse conhecido você ontem, de repente tudo seria diferente.
  Jonas ficou olhando ela, imaginando se ela teria algum namorado, e seria muito azar tê-la conhecido um dia após ela ter conhecido alguém. E enquanto pensava, algo o incomodava, os dois atrás do balcão, continuavam olhando pra ele e Ingrid com um olhar de espanto. Isso o irritou um pouco, mas resolveu deixar pra lá.
- Então já tem alguém com vc?
- Sim e não. Meu namorado ficou no carro. Mas já vínhamos brigando muito. E esse foi o motivo de ter acontecido aquilo com o carro.
- Sinto muito se não está dando certo entre vocês. De coração. Faremos o seguinte: levo você até o carro, deixo um contato meu com você. E sigo meu caminho. Mas não queria perder sua amizade ,recente sim, mas verdadeira. E Jonas tinha razão. Nunca tinha acontecido aquilo com ele. Ele estava encantado com a jovem. Ela concordou e disse que já estava na hora de ir. Mas Jonas pediu que ela o esperasse pois queria usar o banheiro e não demoraria. Ele percebeu uma certa ansiedade da parte dela, mas ela concordou.

  Enquanto ele lavava as mãos ele pensava: " meu deus. O que está acontecendo comigo? Por que essa moça me trás tanta paz? O que realmente estou sentindo.  Confuso, Jonas saiu do banheiro, olhou pra mesa, mas a jovem não estava lá. Imaginando que ela estivesse lá fora, foi até o atendente pagar a conta. Saiu e...

  Lá fora, a procurou, foi até o caminhão e nada! "Ela deve estar no banheiro" pensou. E aguardou alguns minutos. Percebeu que estava demorando e entrou na loja onde o rapaz colocava as cadeiras em cima da mesa, e recolhia as louças na mesa,pronto pra fechar, com a ajuda do cozinheiro.
- Sabem se a moça que estava comigo, ainda está no banheiro?
  Os dois funcionários se entreolharam sem entender nada.
-Que moça?
-A jovem que estava comigo?
- Não sei do que o senhor está falando. Respondeu como se tivesse ouvindo um absurdo.
- A que estava comigo nessas últimas 2 horas naquela mesa no canto. Enquanto eu comia, conversávamos e ela tomava seu café.
- ambos se olharam de novo e foi com olhar assustado que chamou Jonas até a mesa.
- Olha senhor, olha pra mesa.
  Foi com surpresa que Jonas viu que o café continuava da mesma maneira como o atendente trouxe. Inclusive o prato onde foi servida seu sanduíche. E foi com espanto que ouviu dos dois.
- O senhor passou a noite toda conversando sozinho. Inclusive achamos que podia ser doido.

  Jonas sem se conformar, foi até o banheiro das mulheres e viu que realmente não tinha ninguém lá

- Deus. O que está acontecendo? 
  Foi pra fora da loja confuso. Andava de um lado pra outro. Quando o rapaz perguntou se ele se sentia bem, mas Jonas, no desespero, correu e  entrou no caminhão, indo sentido onde tinha encontrado a jovem. Depois de quase meia hora dirigindo perigosamente, parou exatamente no local onde deu carona a ela e ela estava lá!!! Confuso perguntou:
- c-como conseguiu chegar tão rápido aqui.
- Obrigada por tudo. Disse ela apontando pra estrada.
  Bem longe de onde estavam, na rodovia, percebeu algumas luzes e sirenes vindo em alta velocidade na direção deles.
- Não estou entendendo, Ingrid. Se virou pra moça e percebera que ela estava descendo uma ribanceira bem íngreme.
- Espera. Onde você vai? Cuidado. E seguiu a moça. Desceu bem uns 50 metros e...
  O que Jonas viu fez ele se arrepiar dos pés a cabeça. Ingrid parada ao lado do carro todo destruído, no mínimo capotou e depois caiu até lá em baixo. Os corpos dos amigos mortos dentro do carro e o corpo de Ingrid do lado de fora, também sem vida, no mínimo foi jogada pra fora quando o carro bateu na enorme rocha. Percebeu que os bombeiros chegaram até ele lá em baixo e enquanto perguntavam se Jonas estava bem, ele em choque, via a imagem de Ingrid sumir lentamente  com aquele lindo sorriso como que agradecendo pelo que o caminhoneiro fez por ela.