08) Temos que crescer

14.7K 1.8K 1.9K
                                    

   Acordei mais cedi para ver o nascer do Sol, era a primeira vez que o via nascer e iluminar cada parte da fazenda, antes de chegar até mim meu corpo tremia de frio até que parou, vi a luz subir num tom vermelho, depois laranja e então amarelo fogo era tão lindo que quase queimava meus olhos, coloquei minhas botas e caminhei até o estábulo, não tive tempo de conhecer os cavalos no dia anterior.

Pulei a porta de madeira e o cavalo afastou-se fazendo um som, ergui as mãos mostrando que não o machucaria e aproximei dele, consegui acalma-lo.

— Bom garoto — disse e sorri, era uma sensação muito boa, a confiança era recíproca.

Os outros cavalos se assustaram gritando alto, Carl chamou sua atenção, continuei fazendo carinho para acalma-lo e então saí de lá e fiz sinal para Carl fazer silêncio.

— O que está fazendo aqui? Você os assustou.

— Meu pai já voltou com Glenn e Hershel — ele explicou, assenti.

Passei por Carl e voltei para o acampamento, ele veio logo atrás de mim.

— Como aprendeu a lidar com eles? Os cavalos — perguntou.

— Fiz aulas quando menor — disse sentando-me em um banco próximo à mesa, Carl sentou-se ao meu lado.

— Ei, eu estava pensando, o que acha de darmos uma volta um pouco mais longe da fazenda?

— Não é uma boa idéia, não podemos ir longe assim do grupo. É perigoso — expliquei.

— Eu vou — ele levantou determinado.

— Carl você não pode.

— Quem disse? 

— Rick, Lori, eles ficariam bravos e nem os mortos deixariam você ir para longe da visão deles.

— Não é verdade.

— Se quer tanto ir, então vá — dei de ombros.

— Também não deixariam você ir.

— Não são meus pais, são seus... lembra? Estão apenas cuidando de mim. 

Carl bufou, sabia que estava certa então voltou a sentar-se, Rick e Shane chegaram de carro nem notei que haviam saído. Eles haviam encontrado alguém, um homem na cidade, Rick o trouxera para cá para prendê-lo em algum lugar, Daryl foi interrogar ele para ter certeza de que não havia mais ninguém para nos atacar, por algum motivo Rick estava com tanta raiva que denominou que o homem levaria um tiro na cabeça no fim do dia.

— O que acha de irmos vê-lo? — Carl sugeriu, ultimamente ele estava sugerindo muitas coisas na qual não concordava.

— O que? Por que quer ir ver ele? — perguntei, não precisei mencionar o quão perigoso era.

— Shane me disse que ele é apenas um garoto, quero ver com meus próprios olhos — respondeu.

O segui, sabia que faria da mesma forma, não concordei mas fomos até o celeiro e então o escalamos juntos.

— Isso é errado — disse subindo.

Nos sentamos lá em cima em silêncio, o homem estava amarrado em uma cadeira em baixo, estava suado e sujo, características de viver em um apocalipse. A madeira em que estava rangiu chamando a atenção do homem, ele nos procurou até encontrar em cima dele.

 
— Oi, gostei do chapéu — se referiu ao que Carl utilizava — vocês tem nome? Hã garotinha.

O apelido arrepiou minha espinha, eu o odiava, me trouxera péssimas lembranças.

— Não me chame assim. Carl vamos embora — puxei seu braço, ele permaneceu parado, em silêncio, como se uma escuridão tomasse conta. Ele se preparou para descer — não faz isso, ele é perigoso.

— Não, não sou perigoso não — o homem disse, estava mentindo.

— Carl, é melhor irmos embora antes que...

De repente Shane abriu a porta do celeiro, ele recuou surpreso.

— O que vocês estão fazendo aqui?

Ele nos puxou para fora do celeiro fechando a porta, falou várias coisas ao homem chamado de Rayndal, o intimidou para que não falasse mais conosco e então saiu de lá bravo.

— Não quero mais ver vocês aqui! — disse irritado.

Suas palavras me fizeram estremecer, a culpa era toda de Carl sempre pensando em fazer coisas para nos colocar em perigo por motivo algum.

— A culpa é sua — o empurrei vermelha feito pimentão.

— O que? Está com raiva de mim? — perguntou sem jeito.

— Por que não cresce e pensa mais nas coisas estúpidas que anda fazendo ultimamente para nos colocar em perigo sem motivo nenhum? — pisei forte no chão apertando os punhos.

Passei por ele fazendo questão de o empurrar com meu ombro, desta vez não sabia se havia descontado tudo nele de novo, mas certamente foi escolha minha segui-lo, não o encontrei pelo resto do dia e já começara a escurecer, o procurei por toda a parte quando ele me encontrou já na casa de Hershel.

— Onde você estava? — perguntei à ele, Rick e Lori estavam logo atrás e entraram na casa.

— Os dois esperem aqui, vamos ter uma conversa adulta lá dentro. — Rick mandou.

Sentamos nos degraus, abracei minhas pernas esperando que ele falasse algo então decidi falar.

— V-você deve estar bravo comigo, mas eu...

— É eu estou ou estava, mas acho que você tem razão. — ele interrompeu.

— Tenho?

— Tenho que crescer — ele se levantou e concluiu — aliás, eu perdoo você, é o que sempre faço, e eu estava na floresta.

 Não entendi o jeito estranho que Carl estava agindo, ele levantou-se e me deixou ainda mais confusa.

🔫

Voltei para a barraca para dormir, já estava tarde e Carl também estava lá.

— Então... mataram o homem? — perguntou.

— Não, vão deixá-lo viver. — respondi lembrando-me da decisão.

— Carl, eu...

Fui interrompida por gritos vindo de fora, saímos correndo de onde estávamos havia um morto e alguém ferido, Carl e eu corremos até lá junto com o resto do grupo, era Dale, o morto havia aberto sua barriga coloquei minha mão sob a boca e o nariz para não sentir o horrível odor.

O pior é que Dale ainda não estava morto, ele nos olhava cuspindo sangue tentando falar, estava sofrendo e alguém precisava dar um fim a isso, Daryl pegou a arma de Rick e atirou na cabeça dele, meu corpo pulou assustando-se com o som alto do tiro, não importa quantas vezes visse pessoas morrerem na minha frente, era sempre péssimo e sempre lembrava-me de quando atirei em Hilary.

SOLITÁRIA II, The Walking DeadOnde histórias criam vida. Descubra agora