Algures em mim
Existe um monstrinho
Que parece dormir,
Mas desperta num instantinho.
É querido e calmo,
Preguiçoso e incrível.
Contudo, devo avisar,
Também é imprevisível.
Doce como o açúcar
E amargo como o limão.
Não pressionem, por favor,
Ele passa-se com a pressão.
Nem tento controlar
As coisas que ele faz.
Mas aviso que pode magoar
Quem não o deixar em paz.
Facilmente muda o aspecto,
Fica bem assustador.
Destrói tudo o que vê,
Deixem-no, por favor!
É monstro, mas é meu,
E eu muito o admiro.
É graças a ele
Que eu ainda respiro.
Não o consigo controlar,
Mas já desisti de tentar.
Porque cada queda que dou,
Ele ajuda-me a levantar.
Muitos que o conhecem
Dizem ser mau e frio.
Mas eles não sabem
Que ele protege o meu vazio.
Vazio que eu própria criei
Ao retirar uma parte minha.
Agora não sei como preencher,
Por isso prefiro estar sozinha.
Sei muito bem o que falta
Para este vazio eu cobrir.
Mas simplesmente nada farei,
Nem te irei substituir.
Passaram quase três meses.
Sim, continuo a contar!
Não volto a ti por orgulho,
Pois desisti mesmo de lutar.
Este monstro que me consome
Foi a tua ausência que o criou.
Abraço-o e choro de saudade,
Ele faz parte do que sou.
Sim, é difícil e horrível
Aguentar a tua ausência.
Mas insisto viver com ela,
Por isso arranjo mais paciência.
Sei que o que nos afasta
É simplesmente puro orgulho.
Para o honrar não cedo
E na solidão eu mergulho.
Este é o maior poema
Que alguma vez escrevi.
Ainda nem terminou,
Parece não querer um fim.
Afeiçoei-me ao monstrinho
Que deixa o mundo assustado.
Ele reflecte a tua reacção
Quando eu te deixava irritado.
Provavelmente nem verás
O que te estou a escrever.
Continuo a tentar convencer-me
Que estou melhor sem o teu ser.
Não tenho qualquer dúvida
Que consigo viver sem ti.
Mas admito que me falta
Uma grande parte de mim.
Perdi-a na grande batalha
Que em Setembro abandonei.
Nem te passa pela cabeça
O quanto eu te amei!
Sinto tanto a tua falta,
Daquele meu melhor amigo.
Fecho os olhos e apenas penso
"Por favor, fala comigo!"
Lisboa, 26 de Novembro de 2014

VOCÊ ESTÁ LENDO
Libertas Palavras
PoetryPorque as palavras existem Para serem faladas, escritas e ditas... Não caladas, apagadas e escondidas!