Caminhando pelo jardim

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Chego ao jardim, encontra-se quase deserto, poucas pessoas além de mim. O Sol encandeia, mas também aquece. Com o seu calor, nem sei o que me apetece. Não sei como vim aqui parar, mas adoro este lugar. Calmo e silencioso, até ago misterioso. Cheira a Primavera, mas o calor é do Verão. Gosto da relva húmida, mas vou para o alcatrão. Caminho pelo passeio, sem destino. Não sei para onde ir, apenas caminho. Alheia ao mundo, presa em pensamentos. De repente, algo me traz de volta. Algo que a minha visão alcança, mesmo à distância. Um rosto, um sorriso. Parece saber o que preciso. Não o reconheço, nunca o vi. Mas ele chama o meu sorriso e gosto de me sentir assim. Fico cada vez mais próxima daquele rosto, mas ainda está distante. Parece para mim olhar sem sequer me ver e eu aproveito para o resto observar e acabo por me perder. Perco-me ao olhar para aquele corpo, elegante, deslumbrante, com as suas curvas. Determinação no andar, confiança no olhar. Sinto-me inibida com toda aquela presença. Tem tanta segurança, o que será que pensa? Fico vulnerável, distraída, perdida. Estamos mais perto, aquele corpo passa por mim. Os olhos são castanhos, os lábios sensuais. Fazem-me paralisar e querer ver mais. O cabelo está pintado, mas em tempos deve ter sido algo claro. Sinto a face a aquecer. Meu Deus, até já coro. Não há troca de palavras, apenas um sorriso, feito pelos lábios e pelo olhar. Estou de volta ao mundo, mas continuo a caminhar. O meu coração dispara, sem eu entender o que se passa. Sento-me e respiro, mas isto não pára. Fecho os olhos, respiro fundo, coloco as mãos na relva. Numa fracção de segundo, senti-me numa selva. Já consigo normalmente respirar, quando alguém se senta ao meu lado. É um homem a me olhar, parece algo atrapalhado. Tenta meter conversa, mas não sabe o que dizer. Mal ele sonha o tempo que está a perder. Ele fala e fala, até diz coisas com sentido, mas nada do que dele oiço me fica no ouvido. Não consigo responder, a minha mente não me permite. Nela, aqueles lábios sensuais, tocam nos meus sem limite. E ao relembrar aquele sorriso, sinto por todo o corpo um arrepio. Como é possível estar tanto calor, eu sentir este pequeno frio? E na minha mente permanece a figura que que antes me fez sentar. Continuo nela a pensar, curiosa com a mente que naquele corpo habitará. Só então me apercebo, o homem ainda aqui está. Continua sorridente, parece simpático. Observo-o melhor, muitas o achariam fantástico. É bonito e querido, sabe como conversar, mas a minha mente continua a vaguear. Parece na conversa bastante interessado, mesmo estando a ser ignorado. Peço desculpa ao homem, levanto-me e volto a caminhar. A figura volta a passar e novamente me sorri. É uma mulher. Deixou-me tão vulnerável e eu nem a conheci. O coração volta a disparar, mas já consigo minimamente controlar. Quero muito com ela falar, mas as palavras não saem. Tenho receio de me sentir como aquele homem de quem acabei de fugir.

Lisboa, 13 de Maio de 2015

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