Desperto nesta manhã e já estou a pensar nela! Será que sonhei com ela toda a noite ou simplesmente foi o primeiro pensamento do dia? Não sei, mas sei que também adormeci a pensar nela. Não sei quem ela é, conheço-a sem a conhecer. Todos os dias quero saber mais e mais, mas é difícil, pois não a conheço.
A manhã está fria, mas o meu corpo está quente. E é assim que sei que sonhei com ela, mais uma vez. Que lhe abracei, beijei e toquei e que repeti tudo de novo, pois uma só vez não não é suficiente.
Queria não sonhar com ela! Preferia não ter este sentimento. Gosto de entender o que sinto para conseguir lidar com isso, mas assim não consigo. Fecho os olhos tentando que ela desapareça da minha mente, mas é nessa altura que a vejo mais nitidamente.
De olhos fechados, sinto o seu toque, o seu beijo e a minha pele arrepia-se instantaneamente. Se os seus lábios se aproximam do meu corpo, uma chama dentro de mim nasce com a força de um fogo incontrolável. Fogo esse que precisa ser domado.
Volto a abrir os olhos, procurando acalmar esse fogo e recuperar o ar. A minha pele está arrepiada, mas quente. A minha respiração está acelerada e eu sei o que isso significa. Mas não quero saber!
Levanto-me de um pulo e corro. Corro para fugir dela e de todos os pensamentos que tenho com ela, de tudo o que possa existir ligar a ela. Mas é quando chego à praia que a vejo realmente. Sentada na no areal, a observar o mar. Recupero a respiração e sento-me a seu lado, desta vez não tenho como fugir.
Ela não olha para mim, mantém os olhos no mar e ar pensativo. Não consigo descrever os traços dela, não sei quem ela é. É quando me apercebo que tenho medo de saber.
Como não ter medo de saber quem é a pessoa por quem sentimos algo muito mais forte que nós mesmos? Aquele sentimento que nos consome, que não é parte de nós, mas nós somos parte dele.
Eu não sei que sentimento é esse, mas assustador e ainda assim, parece fantástico. Não sei como fazer para chegar a ela. Ela olha na minha direção e sorri-me. Sorrio de volta, um pouco sem jeito e olho na direção do mar, perdendo-me no tempo e no espaço, em questões que não tenho resposta. Respiro fundo para lhe perguntar quem ela é, mas quando volto a olhar na sua direção, ela já não está lá. Sinto uma angústia enorme, uma perda que me come e aterroriza muito mais que qualquer outra coisa. Perdi-a antes de sequer a encontrar?
Olho novamente para o mar e vejo-a num pequeno barco de madeira. Não consigo sorrir, pois o mar tornou-se perigoso e quase impossível de atravessar. Observo o pequeno barquinho, preocupada que se parta e que ela se magoe. O barquinho parece frágil, mas é mais forte que o mar. Eu também devia ser! Levanto-me devagar, sempre com os olhos postos no oceano. Ele revolta-se cada vez mais, mas o barquinho continua intacto.
Aproximo-me dele sentindo-me vulnerável e recheada de medos. Mas desta vez, não irei virar as costas ao mar! Ninguém devia fazê-lo. A coisa mais bela do mundo, pode ser também a mais aterrorizadora. Lembrando-me disso, olho mais uma vez para ela e sinto uma lágrima escorrer pelo rosto. Eu não sei quem ela é, mas vou saber!
Silves, 15 de Outubro de 2019
VOCÊ ESTÁ LENDO
Libertas Palavras
PoesiaPorque as palavras existem Para serem faladas, escritas e ditas... Não caladas, apagadas e escondidas!