Tentação Ruiva

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Deito-me na cama, sentindo o corpo fraco e a garganta arranhada. Não sei se são alergias ou se estou constipada. O dia está bonito. Sol a brilhar, calor quase de Verão. Vejo raios de Sol entrarem por entre as persianas da porta da varanda. Fecho os olhos e começo a fantasiar. Reconheço onde estou, algures ma cidade onde a minha família me criou. Já é Verão, mas dado que o calor é suportável, deve ser manhã do início de Verão. Sorrio ao mundo, fecho os olhos, estendo os braços e respiro fundo, feliz. A meu lado, oiço alguém dizer em tom divertido "És mesmo algarvio". Abro de imediato os olhos e baixo os braços. Não reconheço esta voz, mas é doce e melodiosa, quente e segura. Olho para o lado e fico surpreendida. É a ruiva sexy que um dia conheci, virtualmente. Tento puxar conversa às vezes, mas responde-me muito raramente. Porque raio está ela aqui? Sorri-me em tom divertido e algo sedutor. É tão natural dela, aquele olhar provocador. Sorrio à mulher deslumbrante e digo-lhe "Experimenta fazer o mesmo, não é preciso ser-se algarvia para aproveitar este Sol", ela responde-me "Eu aproveito, mas quero ver aquela vista fantástica que me falaste". Não me recordo que vista foi essa, a última conversa que tivemos foi bastante breve. Olho em volta e reparo que estamos nas traseiras da Igreja de Silves. A vista fantástica só pode ser a das muralhas do Castelo de Silves. Respondo-lhe com um sorriso e dirijo-me à entrada do Castelo. Ela segue-me e vai falando da sua nova cadelinha, de quem tenho visto as fotografias no Facebook. Parece ser meiga. A sua dona também me dá a sensação de o ser, mas usa a máscara de mulher forte e segura. Tem barreiras muito erguidas, já deve ter sofrido demasiado noutros dias. Chegamos ao Castelo e começamos a subir as muralhas. Falamos de tudo e nada, ela pede-me para lhe tirar fotos com a vista da cidade como fundo. Como é possível que ela fique tão linda em cada uma das fotografias? Não há uma única que a desfavoreça, apesar de ela criticar um ou outro pormenor. É estranho, normalmente mal me responde quando lhe tento falar, hoje fala sem parar. Essa é uma das razões pelas quais sei que estou a sonhar. Mas não quero acordar, gosto desta imagem. E visto que tudo isto é pura imaginação, imagino outra abordagem. Aproximo-me dela e toco-lhe no cabelo. O seu tom de vermelho fica lindo à luz do Sol. Já perdeu um pouco de cor, mas continua fantástico. A sua pele um tanto branca faz um excelente contraste com a cor do cabelo. A minha respiração acelera, o meu corpo começa a aquecer. Baixo a cabeça para recuperar a respiração. Reparo então que está de calções, com as suas pernas sexys à vista. Lembro-me de quando me mandou uma foto do seu pijama do Harry Potter. Enviou-me foto das calças do pijama, vestindo-o. E eu desejei ver por debaixo delas. Agora estava a ver. Mordi o lábio inferior ao sentir um arrepio no corpo. Tentei novamente controlar a respiração e baixei a cabeça. Os olhos castanhos estavam fixados em mim, recheados de confiança. Senti outro arrepio no corpo com aquele olhar. Tirei a mão do seu cabelo e acabei por me afastar. A sua expressão passou a confusa. Deu um passo na minha direcção, inclinou ligeiramente cabeça e perguntou "Estás bem?". Aqueles lábios são tão sexys que qualquer movimento me faz desligar do mundo. Foquei-me na questão dela. Não conseguia mentir-lhe, sentia-me entre a espada e a parede. Respondi-lhe "Não! A tua presença está a fazer-me perder o controlo do meu próprio corpo.". Ela aproximou-se com a expressão sedutora e sussurrou "Então não controles!". Lembrei-me então que estava num sonho ou fantasia, já nem sabia. Só sabia que os meus actos não teriam consequências. Deixei de pensar, a minha expressão depressa fez-se mudar. Sorri em tom de sedução, mordi o lábio à melodia da provocação e lancei-lhe um olhar de desejo. Ela sorriu-me novamente e avançou mais um passo na minha direcção, ficando bastante perto. Senti a respiração dela. A minha mão esquerda deslizou até à cintura, a direita tocou-lhe no cabelo. Os meus lábios procuraram os dela, entregando-me ao beijo. Ela correspondeu. Por uma fracção de segundos, tive receio que não o fizesse. Saboreei aqueles lábios, os meus dentes agarraram o seu lábio inferior, suavemente. A respiração dela acelerou. Beijei-a no pescoço, sentindo o seu corpo a aquecer, a desejar-me. Ela também me queria. Beijei-a novamente na boca, uma e outra vez. A minha mão esquerda desceu pela cintura dela até à coxa. Agarrei-lhe a perna e puxei-a para mim. Senti-a sorrir por entre nossos beijos. Depois, as nossas línguas tocaram-se, levemente. Esqueci o que nos rodeava. E, de repente, regressei à cama onde há pouco me deitava. Foi só um sonho, como já outras vezes sonhei. Antes sonhava com esperança, hoje apenas sonho. Depois de tantas ilusões, certos limites agora me imponho. Sabia que nada daquilo era real, mas adorei tudo sentir. Apesar de nada ter acontecido, pelo menos fez-me sorrir.


Lisboa, 16 de Maio de 2015

Libertas PalavrasOnde histórias criam vida. Descubra agora