Afortunadamente é Você (Romance Gay)

Carlos Wingert

Olá, queridos leitores!

"Afortunadamente é Você" é a segunda história de Afortunados.

Por favor, Plágio é crime e algo muito desagradável então não o faça. 

Boa Leitura!

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"Afortunados são aqueles que amam e são correspondidos com a mesma intensidade." - Maristela Chaves

Carlos Wingert

Uma das muitas vantagens de se morar a dois quarteirões de um dos vários parques ecológicos da cidade é poder realizar caminhadas e outros exercícios sem precisar ir à academia ou de uma esteira ergométrica entulhando o apartamento.

Quando se mora em uma grande metrópole como Berlim, não há nada que alguém aprecie mais do que silêncio, paz e sossego. Nenhuma preocupação parece ser capaz de me alcançar quando estou protegido por árvores centenárias. É quase uma fortaleza impenetrável para quem procura fugir da multidão de pessoas apressadas, dos carros barulhentos, da vida corrida. Quando eu passo pelos portões é como se existissem dois de mim: aquele que se preocupa com o trabalho, as contas, o trânsito, problemas e mais problemas. Já a segunda versão é o que aproveita o ar impregnado de terra molhada, o aroma das poucas flores abertas – que se atreveram a resistir ao outono – dá paz e da harmonia que correm por meu corpo.

Particularmente adoro isso, essa divisão porque é como se eu passasse por uma barreira invisível, um filtro, quase um divisor de águas. Tudo o que tenho de fazer aqui é curtir o momento, ouvir o som da natureza ao meu redor e manter minha concentração na respiração e no ritmo dos meus passos. Faço isso todos os dias, sem exceção, não me importando se é final de semana ou feriado. É um hábito que aprendi com Lucius e prático desde o ensino médio, embora o parque daquela época fosse outro.

Sinto cada um dos músculos das minhas pernas ao ultrapassar mais um quilômetro, assim faltarão apenas mais dois para chegar aos meus cinco quilômetros diários. Puxo o ar com força sentindo-o frio e úmido, o que me faz olhar para cima confirmando as nuvens cinzas e carregadas que deixam um ou outro espaço livre para a cor azul. Desvio meus olhos para o relógio em meu pulso esquerdo, confirmando que estou no horário, e mesmo que o mundo esteja arriscado a se desmanchar em água pretendo continuar minha meia maratona. Afinal dizem que água da chuva é capaz de lavar a alma, nem mesmo o frio que sei que sentirei me faz desistir da minha meta.

Desligo meus pensamentos sobre o clima e me concentro em superar mais um quilômetro. Mantenho meus olhos fixados no caminho que tenho para percorrer, meus ouvidos permanecem atentos aos barulhos ao redor:

vozes, passarinhos cantando, risadas, rodinhas de skate sobre o asfalto, rodas de bicicletas, o farfalhar das folhas das árvores e os intervalos de todos esses sons onde o silêncio reina.

Passo por cima dos números pintados em vermelho – que informam os quilômetros dentro do parque – quando escuto meu nome em uma voz que conheço praticamente a minha vida toda. Diminuo o ritmo antes de virar minha cabeça para trás, não me surpreendo ao ver Lucius alguns metros ao longe, opto por iniciar uma caminhada rápida para não parar de maneira brusca, não demora mais que apenas alguns segundos até ele chegar ao meu lado. Seus cabelos naturalmente ruivos estão presos em um coque frouxo com algumas mechas soltas, o que significa que ele está correndo já faz algum tempo. Suas bochechas coradas e sua camiseta cinza com uma grande mancha de suor no peitoral apenas confirmam isso.

- Bom dia, Lucius! Não sabia que havia chegado de viagem. – Digo em saudação e recebo um sorriso de dentes brancos.

- Cheguei ontem à noite. Estava tarde então eu preferi não ligar para te avisar.