Werner Neuberger

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Boa leitura, amores!!!

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Werner Neuberger

Repouso minha cabeça em uma das minhas mãos, enquanto mantenho meu cotovelo sobre a madeira lisa da mesa da cozinha na casa do meu sobrinho. O barulho do apito da chaleira cobre o meu suspiro, me sinto tão cansado mesmo sendo apenas seis horas da tarde. Desvio meus olhos da tela do notebook na minha frente para o fogão ao registrar movimentos na minha visão periférica. Maitê – minha irmã mais velha– acrescenta os ingredientes para o chá e marca o tempo necessário para a fusão dos mesmos com a água fervente, ela sempre prepara tudo com muita paciência, principalmente os seus chás.

Não demora mais do que alguns segundos para o aroma da maçã dominar o cômodo, é um dos meus sabores favoritos, e mesmo que seja rápido abro um sorriso por notar a intenção de Maitê. 'Ela quer fazer eu me sentir melhor', penso e logo uma sensação de acolhimento se espalha pelo meu corpo. É exatamente isso que eu quero que Rose entenda e vivencie, o valor dos pequenos gestos, assim como os grandes, é uma das coisas que torna a família algo essencial.

Eu sabia que voltar para a Alemanha seria trabalhoso, totalmente o oposto de quando fui para os Estados Unidos. Naquela época era apenas eu, meus documentos, minhas bagagens – que eram menos da metade do meu guarda-roupa atual – e minha ansiedade em mostrar ao mundo o meu trabalho, o que eu havia aprendido na faculdade. Não eram tantas coisas e muito mais fácil do que agora. Eu não era o tipo de pessoa que cronometrava a vida e os meus atos, se tinha algo para fazer, simplesmente ia lá e fazia, nada de planos, nada de tentar desvendar o futuro.

Mas tudo isso deixou de fazer sentido no dia 21 de junho – início da primavera – de dois anos e quatro meses atrás.

A data em que Rose nasceu, com toda certeza, foi um dos dias mais bonitos da minha vida. A lembrança do sol da tarde iluminando o quarto do hospital e refletindo nos poucos cabelos loiros da bebê, é a que mais se destaca diante do rio de memórias daquele dia. Ela era tão pequenina e frágil, embrulhada em uma manta branca para mantê-la protegida e aquecida, mesmo que estivesse com body e um macacãozinho verde claro de lã. Eu a amei antes mesmo de segurar sua mãozinha, mas quando o fiz foi como se uma explosão de amor estivesse circulando por minhas veias e em cada célula do meu corpo, como se a nossa ligação naquele momento se tornasse mais do que apenas finos fios imaginários, era real.

A responsabilidade e a vontade de controlar o futuro vieram junto com toda essa carreta desgovernada de amor que se chocou contra mim, e todo o meu senso de apenas seguir os instintos e a intuição foi guardado em algum lugar no fundo da minha mente.

Rose Lílian Neuberger, minha filha, meu pequeno presente do céu e da mulher que amei durante sete anos. É a razão do meu regresso à Alemanha e o motivo que torna tão diferente a minha mudança de onze anos atrás para Nova Jersey. Se antes eu não precisava me preocupar com detalhes, agora, praticamente estou sendo soterrado por eles. Ao menos o meu antigo apartamento que eu havia alugado já estava desocupado há algum tempo e não precisei encerrar nenhum contrato com o inquilino.

Ganhei o apartamento quando iniciei a faculdade, vivendo nele durante cinco anos até ter de me mudar e alugá-lo logo em seguida. Felizmente meu último inquilino precisou se mudar para Londres meses antes de eu tomar a decisão de retornar e morar em Berlim.

O problema mais grave está sendo encontrar uma babá confiável e isso está quase me fazendo arrancar meus cabelos loiros. Mesmo comigo trabalhando em casa – algo que sempre fiz – não poderei dar atenção ou ficar de olho em Rose o tempo todo. Sem contar que desde o falecimento de Anna, minha esposa, Rose não gosta de ficar sozinha e sempre chora quando não tem alguém conhecido por perto. Antigamente, ela ficava em seu berço ou no cercadinho brincando quando Anna e eu estávamos ocupados, porém, no último ano tudo mudou. Em Nova Jersey eu contava com o apoio de uma vizinha brasileira que precisava do dinheiro, quando ela não estava fazendo faxinas – o que acontecia de dois em dois dias – me ajudava com Rose e com a casa.

Afortunadamente é Você (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora