Pizzas, Balinhas Diet, Férias

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Ao descobrir que meu motorista de Kia Mentor trabalhava com entregas à tarde, troquei as festas por pedir pizza de toda a cidade durante meu próprio horário de trabalho. Até porque eu estava sem celular e na minha casa não tem telefone fixo.

Lá na lanchonete do posto é bem tranquilo de trabalhar. Fico de 13 às 21, com duas horas de almoço, pouco movimento e colegas de trabalho agradáveis. E eles são muito de boa em relação a essa coisa de ficar fazendo ligações e recebendo encomendas. E eu ainda fazia um social com os frentistas. Principalmente com o novato que, sempre que sentia o cheiro de pizza, ia correndo gritando "Pasta! Pasta!".

Eu pensava que esse plano fosse infalível.

Sabe, a coisa de pedir pizza de todos os lugares.

Mas, depois de alguns dias, comecei a reclamar da ineficácia desse plano com os entregadores.

Eu ligo para vocês procurando por uma pessoa, só que sempre vem alguém diferente!

A maioria dava de ombros, mas teve um que falou:

Você é burro assim sempre ou está fazendo força? Não existe só um motoboy em pizzarias, é uma equipe!

Pensei, merda!

De volta ao hospital, Lou começou a se abrir mais comigo.

Eu estava ganhando a confiança dele com as balinhas diet em formato de ursinhos que eu pegava lá no caixa da lanchonete.

Eu tinha medo que ele tivesse diabetes ou sei lá.

Ele disse que havia um "moço" como eu que o visitava levando um brinquedo que fazia bolhas de sabão.

Lou fazia umas observações curiosas sobre o tal cara.

Como o fato de ele só usar Timberlands.

Facilitou bem a minha vida porque eu já sabia que aquele era o meu cara.

Eu lembrava dele falando do Kia Mentor, lembrada dos Timberlands, lembrei também dos quatro brincos que ele tinha (três em uma orelha e um na outra). Agora pergunta se eu lembrei o nome dele? Não!

Ele vai viajar por causa de... férias?

Lou falou pausadamente e em tom de pergunta (olhando para Gogo, pra ela corrigir se ele falasse errado). Lou não sabia bem o que era férias e aquilo apertou meu coração. Na idade dele eu já sabia o que eram férias porque meus pais e eu íamos visitar a minha avó durante as férias deles.

Vai passar vinte dias em Busan, eu acho, Gogo, minha informante, completou.

Fiquei bolado né? O cara era escorregadio que nem peixe ensaboado.

Mas não havia tempo ruim capaz de me parar. Por isso, falei pra Lou:

Daqui vinte dias, eu vou acampar nesse quarto! Vai ser minha casa, tá decidido! Vou me esconder debaixo da sua cama, se necessário!

Lou só riu.

Rindo da minha cara!

Garotinho insolente, falei brincando também.

Ele caçoa assim da minha cara só porque tinha a atenção do Príncipe Encantado toda semana.

Você é um garotinho sortudo!, eu disse enquanto fazia cócegas em sua barriga, tomando cuidado com os fios em seu braço e nariz.

Eu sei, ele respondeu em meio a mais risos.

Eu ainda vou ensinar 'pra ele o que é 'férias'! Ele vai tirar as melhores férias da vida dele e ai de quem tentar me impedir! Eu chamo os contatos que eu tenho lá dentro!

Eu falei dos fios, né? Então, aquilo era novidade pra mim, antes não tinha aquilo, não.

O garotinho também parecia sentir mais frio e vivia todo enroladinho em um cachecol e um gorrinho. Eu até levei um de presente pra ele esses dias, uma daquelas touquinhas peruanas com desenho de uma alpaca? Eu não sei o nome, mas é fofo.

Lou tem 4/5 anos, mas parece bem mais espertinho que a filha de Gogo.

Talvez tenham sido as circunstâncias.

Passei a chamar a filha de Gogo de Little Hero, com bastante voltas na língua, pra ficar "lirou rírou" mesmo, porque é bonitinho ver ela repetindo isso.

Desde então ela se acha a heroína do pedaço, sempre cuidando das outras quatro crianças daquele quarto.

Todas são muito fofas.

Aprendi a amar até mesmo o garotinho mal educado e ranzinza que quebrou as duas pernas.

Ele costumava ser maldoso com as outras crianças, principalmente com a Little, que é a mais, bem, tátil e gosta de conversar com todo mundo.

Não julgava o mau-humor dele, o garoto tinha 10 anos e duas pernas quebradas.

Mas nós trabalhamos bem a parte da educação, é importante.

Todo mundo se acostumou bem rápido à minha presença e, algumas vezes, enquanto Gogo ou Lou falavam sobre o meu Príncipe Bêbado-Sóbrio, eu caí no sono.

Gosto principalmente de sentar numa cadeira ao lado da maca de Lou e encostar a cabeça lá.

É tão macia!

E, às vezes, Lou mexe no meu cabelo.

Ele acha meu cabelo engraçado.

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⏰ Last updated: Nov 20, 2017 ⏰

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