Capítulo 4 - A Forca

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O dia mal acordara e a desgraça aos poucos se espalhavam por Zovra. Mensageiros da família Dargen espalhavam por todo povoado que o rei Vincent havia proibido terminantemente o uso ilegal da magia.

Após uma reavaliação, o grande rei Vincent, notifica por esta carta que todo aquele, nascido nos domínios de Zovra, que possuir qualquer tipo de arte mágica ou atividade sobrenatural, está sendo subjugado por crimes contra a natureza humana.

Bethe e Guinevere estavam de passagem pelas ruas da cidade quando ouviu a insólita notícia. Apressadamente, Bethe correu de volta para sua cabana, onde estava Pandora, Evanora e a pequena Helena.

– Pandora? – Bethe procurou por elas pela casa e não as encontrou. Passando a ficar desesperada, a bruxa voltou para o bosque que rodeava a cabana e aos prantos, começara a gritar por suas companheiras. Bethe procurou por um curto período de tempo, até que ela viu o cabelo ruivo de Pandora por entre as árvores, Bethe reconheceria aquela cor de cabelo em qualquer lugar.

– Pandora?

Pandora virou-se para Bethe e revelou a sua frente Evanora ajoelhada, abraçada com Martta Carnavon, uma camponesa esposa de um mago amigo das três bruxas.

– O que houve? – Perguntou, Bethe, já temendo a resposta.

– Eles levaram ele.... – Martta gaguejava em meios as lágrimas. – Levaram meu Nilo.

– Eles proibiram a magia em Zovra – disse Evanora olhando para Bethe.

– Sim. Eu ouvi isso enquanto estive na cidade.

– Nós vamos fugir? – Perguntou Helena agarrada às vestes de Pandora.

– Não podemos. Nós não temos por onde ir, e pela quantidade, chamaria atenção. Sem falar que há guardas por toda parte.

Bethe se ajoelhou e ficou a mesma altura que Martta.

– Me diga, para onde levaram ele?

– Eu não sei – ela dizia, trêmula. – Apenas o levaram.

– Estaremos juntas até que ele volte – completou Evanora. – Você virá com nós.

– Não posso, agradeço, mas não posso. Meus animais precisam de mim.

– Tenha cuidado e acredite que ele voltará – Pandora esboçou meios sorrisos afim de tranquiliza-la.

Um grito cortante reverberara pelas janelas da cabana. Diziam frases de ódio em coro e incessantemente; MATEM AS BRUXAS, QUEIMEM-AS. Era real, o ódio havia sido plantado e o lado ruim dos zovrianos fora despertado por manipulações do rei. Pandora, Bethe e Evanora aproximaram-se e logo se arrependeram. Nilos Carnavon, o amigo delas, estava para ser executado em público. Embora o rei Vincent, a princípio, não fosse a favor da caça... agora ele passou a tomar gosto, as desgraças dos místicos passaram a ser vistos como uma espécie de espetáculo, um show que deleitava os olhos do rei e toda sua nata de zovrianos com sede-de-sangue.

Uma cena deplorável e desumana. Nilos teve seu corpo queimado até a morte, seus gritos de agonia fizeram com que as três desejassem jamais ter saído de casa naquele dia. Passaram dias de silêncio entre as três. Helena era curiosa e queria saber o que se passava, mas mesmo assim Evanora não queria contar a filha o que ela temia que acontecesse.

Era uma noite fria no vilarejo, exceto pela multidão de tochas acesas marchando em uma mesma direção. A guarda real, envolta de uma população indignada, sabia em qual porta bateria e quem deveria sentenciar. Ao fim do caminho, a multidão foi de encontro a uma pequena casa de madeira. Os cavalos pararam frente a moradia e as pessoas que circundavam o casebre, vibravam de excitação para assistir o julgamento que estava prestes a acontecer. Pandora abriu a porta e foi surpreendida ao ver a aglomeração nervosa que desejava a sua cabeleira ruiva decapitada.

O jovem rei, trajado de sua melhor armadura, teve o prazer em anunciar o início da temporada de caça às bruxas.

– Pandora Bellona, Bethe Guinevere e Evanora Braun – ele sorriu ao fazer uma pausa.

– Vocês estão presas por suspeita de prática a bruxaria.

Evanora calou a filha antes que, com o susto, ela pudesse emitir qualquer som que viesse chamar atenção. Assustada, a doce Helena arfava sobre os braços da mãe, que dizia para que ela recorresse a floresta e que lá ela seria acolhida.

– Corra Helena, não tenha medo. Uma bruxa não deve temer a floresta. É a sua casa.

E Helena foi. Saíra pelas entranhas do casebre, onde não pôde ser vista. E fez o que Evanora havia planejado. Corria desesperadamente, como quem busca por uma ajuda desconhecida. Como quem recorre aos céus por uma saída. Havia uma saída, mas a pequena Helena não sabia qual. A multidão enfurecida gritava ao fundo. Os berros eram eloquentes, totalmente fervorosos, a ponto daquelas vozes derrubarem toda madeira com tamanho entusiasmo.

A desgraça de três jovens moças seria palco de um espetáculo horrendo com data e hora marcada, e o público ansiava pela cena que viraria história no reino de Zovra. E que marcaria o início do reinado de Vicent Dargen, o rei de vinte-e-seis anos, o mais jovem de Celadonn.

– Vasculhem cada canto da casa – Vicent ordenou a guarda real.

– Chequem os armários, os baús, os quartos. Revirem tudo. Qualquer indício de bruxaria será usado como prova.

O casebre foi revirado de cima a baixo. O quarto, a pequena sala, o banheiro. Tudo foi destruído em nome da segurança do reino. Levaram seus caldeirões ainda sujos, os livros com supostos feitiços e até seus diferentes tipos de pedras. Mas quem decretou a sentença das jovens feiticeiras foram os compartimentos da cozinha, que guardavam ervas e frascos com misturas de cheiro estranho.

Pandora, Bethe e Evanora foram acorrentadas pelos soldados, sob ordem do rei, e levadas até a praça do vilarejo, onde outro bando aguardava o início do espetáculo. As três foram postas sob a forca, com cordas envolta de seus pescoços.

– Por que fazem isto? – Perguntou Bethe.

– Vocês... – ela levantou a cabeça para a multidão.

– Vocês ainda irão cair por causa dessa vontade de ser maior que todos.

Suas palavras foram tomadas por uma onda de vaias e frutas podres que eram jogadas pelo povo.

– Quando recebi a coroa, eu fiz um juramento – disse Vicent, sob as chamas das tochas, e todos pararam para ouvi-lo.

– Eu prometi ser justo e piedoso. Jurei paz e felicidade, não só a Zovra, mas a toda Celadonn. Eu venho sustentando a minha palavra, mas nada do que falei será possível de ser mantido se não houver a contribuição do povo, quem eu dedico a minha vida.

Os homens ergueram as tochas e gritaram em conjunto, demonstrando concordância ao jovem rei.

– Como no reino de Lonios, Zovra não irá tolerar nenhuma prática ou conspiração de magia sobre este solo. Que hoje Pandora Bellona, Bethe Guinevere e Evanora Braun sirvam de exemplos para todos os habitantes de Celadonn, e que cada um de vocês, entendem que só há uma saída para quem desobedece às leis de Zovra.

A praça manteve-se em silêncio. Crianças escondiam-se na barra da saia de suas mães e homens aguardavam afoitos o final do espetáculo.

– E essa saída é a morte – o rei Vicent concluiu. – Enforque-as!

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⏰ Última atualização: Nov 20, 2017 ⏰

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