Capítulo 2 - A Casa do Corvo

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Anos após a morte da família Silvertom, muita coisa havia mudado em Zovra. A doce Helena havia crescido sabendo da ausência do pai, mas contara com o amor de sua mãe, Evanora, e também de Bethe e Pandora, que sempre esteve ao lado de Eva dando-lhe apoio.

Zovra amanhecera sossegada, o povo perambulava em silêncio sob um céu nublado que prometia descarregar-se a qualquer instante. A cavalaria estava presente nas ruas, rondado por todos os vilarejos. Detrás do casebre, Helena manifestava sutilmente os seus poderes ao acelerar o crescimento de flores ainda tão pequenas. Bethe e Evanora correram para o jardim ao ouvir a cavalaria aproximando-se, e ao chegar, encontraram Helena com um pergaminho em mãos, entregue por um homem que trajava o uniforme da guarda real de Zovra.

– O que diz ai? – Perguntou Helena, curiosa.

"A família Dargen tem um comunicado ao povo de Zovra, e espera que ainda esta noite, todos estejam frente a Casa do Corvo para recebe-lo". 

As bruxas se entreolharam apreensivas. Helena não entendia o que se passava, no entanto, Bethe sabia que não poderia ser algo irrelevante. A família Dargen, por ser demasiada reservada, não convocariam todos os zovrianos, incluindo a plebe, para uma notificação se não fosse de extrema importância.

– O que será que eles querem? – Perguntou Bethe, pondo a mão sobre o ombro de Evanora.

– Não faço ideia. – Eva abaixou o papel e encarou Bethe novamente.

Pandora havia ido à cidade para levar as roupas que Bethe havia costurado para alguns de seus clientes, mas não demorou muito até que a porta batesse e Pandora entrasse agitada.

– Vocês ouviram sobre o comunicado? – ela perguntou, despindo-se da capa preta.

– Não temos noção do que está acontecendo – respondeu Evanora.

– O que será que eles querem? – Perguntou Bethe, encucada.

– Não deve ser coisa boa. Os Dargen nunca saem daquele castelo, mas quando saem...

– As fronteiras de Zovra foram fechadas esta manhã, vi quando estava indo até a casa dos Letinghan – finalizou Pandora.

– Isso não é bom... – Evanora aproximou-se de Bethe ao canto da sala. – Devemos nos apressar. Precisamos saber o que está havendo.

– Vamos logo – disse Bethe, levantando-se e apanhando sua capa.

Evanora, Bethe, Pandora e Helena saíram da cabana naquela noite, encapuzadas, como de costume. Durante a caminhada até a Casa do Corvo, era notável a companhia dos zovrianos, que andavam na mesma direção numa sincronia incomum. Se olhados de cima, seriam vistos como formigas marchando sob a luz da lua.

O castelo das duas torres era tomado por tons preto e cinza. Bandeiras negras pendiam sobre as torres inquietas devido à forte ventania. O povo aguardava ansioso o pronunciamento do rei. Fitavam a varanda do último andar do castelo a espera da família Dargen, conspirando a respeito do que logo seria dito em meio a teorias mirabolantes. Após alguns minutos, um mensageiro real apareceu na varanda com um papiro em mãos, exercitou a voz de forma pomposa, servindo assim de sinal para que o povo se calasse.

– Em nome do grande reino de Zovra, apresento-lhes, vossa majestade real, a rainha Tura Dargen e seu filho, o príncipe Vincent.

O povo aplaudiu freneticamente, era a primeira vez em que viam o príncipe Vincent adulto. Ele não costumava aparecer e jamais saia da Casa do Corvo e isso foi o que mais intrigou a população polvorosa que não cessava os gritos. Ainda se perguntavam onde estava o Rei Dargen, que ainda que presente, ultimamente não aparecera para o povo. Evanora segurou firme os ombros de Helena a sua frente que a encarou de baixo sem entender. As três bruxas se olharam como se já imaginassem o que viria a seguir. A rainha estendeu a mão, e novamente o povo silenciou-se.

CELADONN - O Rubí de ÉthasOnde histórias criam vida. Descubra agora