CAPÍTULO 1

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Camila's pov

- Ally! Ally! – Chamei minha amiga de forma desesperada. Eu estava assustada e com medo.

- Calma, meu amor, já estou aqui, fique calma. Foi só um sonho ruim. – Ela falou entrando em meu quarto segundos depois de eu tê-la chamado.

- Isso nunca vai acabar, Ally? Eu não aguento mais. Essa culpa me corrói a cada dia que passa. – Eu já estava chorando nos braços da minha amiga que sentou na cama para tentar me acalmar.

- Calma, Mila. Você só está assustada, fique calma. A culpa nunca foi sua, nós sabemos disso. – Ally falava em um tom calmo e me fazia um cafuné. – Eu estou aqui agora, cuidando de você.

- Mas ela, Ally.. ela me culpa por tudo. Passei todos esses anos acreditando nisso, e talvez ela esteja certa. A culpa é minha. 10 anos de culpa e duas mortes nas costas. – Falei fechando os olhos e permitindo que mais lágrimas caíssem.

10 anos. Hoje completava 10 anos da morte do meu pai. 10 anos do maldito acidente que também me tirou a sensibilidade dos membros inferiores, e consequentemente o meu maior sonho: me tornar uma brilhante bailarina. Depois daquele dia eu vinha apenas existindo. Não sabia mais o que era ter uma vida leve e cheia de sorrisos, apenas existia, e só. Não existiam mais do que 4 pessoas em minha vida. Allyson Brooke, Dinah Jane, Normani Kordei e Troy Ogletree. Eles eram os responsáveis por não me deixar afundar em uma depressão. Mas somente Ally e Troy sabiam de tudo o que me aconteceu no passado, Dinah e Normani sabiam algumas coisas, nunca ousei contar tudo por medo que elas também me abandonassem como todos os outros fizeram.

Ally ficou o resto da madrugada comigo. Era sempre assim, a cada ano que se passava os pesadelos se intensificavam e minha melhor amiga era o meu suporte e ficava comigo quando esta data se fazia presente. Ela foi a única pessoa que não me julgou e sentenciou algo para me deixar pior do que já estava, e eu agradecia todos os dias por tê-la em minha vida.

Agora, já eram 08h30 am e eu estava parada na varanda do quarto observando o céu, que por sinal estava igual como estou por dentro: nublado e carregado de uma chuva forte que não tardará cair.

- Me perdoe, papá. Eu nunca quis que isso acontecesse. – Comecei a falar olhando para o céu na esperança que meu pai me escutasse. – Hoje fazem 10 anos que não o tenho mais, e desde aquele dia nada faz sentido. – Continuei. – Sabe, papá.. eu acreditei que algum dia um deles viriam me procurar, mas ninguém apareceu, nem mesmo a Sofia. Eu sei que hoje ela já é maior de idade, e que se quisesse poderia dar um jeito de me encontrar, mas nem ela papá, nem ela. – Minhas palavras já saiam cortadas devido as lágrimas. – Acho que as coisas que a Sinuhe me disse vem se tornando cada vez mais reais. Sinto tanto a sua falta, papá, tanto..

- Tenha certeza que ele também sente a sua, minha querida. – Ally falou e acabei me assustando por não perceber a presença dela ali.

- Ally.. – Impulsionei minha cadeira, virando-a para que eu pudesse ficar de frente para ela. – Há quanto tempo está aqui?

- Alguns minutos apenas. Desculpe se invadi sua privacidade, eu sei o quanto esta data significa para você e... – Tive que interrompê-la ou ela falaria alguma besteira.

- Ally.. você sabe que isso não é nenhum problema, não pense besteiras. Não há o que desculpar, eu só estava conversando com meu pai. – Falei tristemente. – Você acha que ele pode me escutar?

- É claro que sim, Mila. Ele sempre te escuta e sabe de tudo o que está acontecendo. De certa forma, ele está cuidando de você lá de cima agora, não duvide disso. – Minha amiga tentava me consolar.

- Eu sinto tanta falta dele, Ally. Papá foi o único que me amou e cuidou de mim incondicionalmente apesar de tudo o que aconteceu. Por que as coisas tinham que ser desse jeito? Por que Deus não me levou naquele acidente e deixou o papá? Eu não consigo entender, não consigo. – E mais uma vez comecei a chorar. – Veja, eu fiquei aqui e sou a porra de uma inválida. Deus me tirou tudo, tudo. Levou meu irmão, meu pai, afastou a minha família de mim e me deixou em cima de uma cadeira de rodas. Você acha isso justo, Ally?

- O que nessa vida é justo, Camila? Nós não entendemos nada dos planos de Deus, mas ele sabe de tudo o que está fazendo. Eu sei que você vai dizer que isso não justifica todas coisas que aconteceram com você, mas eu posso te garantir que tudo acontece por alguma razão, e que as coisas boas irão chegar para você. Acredite em mim. – Minha amiga falou segurando meu rosto e limpando minhas lágrimas com uma das mãos.

- Gostaria muito de acreditar, Ally, mas tudo só prova o contrário. – Assim que terminei de falar, um trovão anunciou a chuva que já começava a cair.

- Venha, vamos entrar ou ficaremos doentes. – Ally disse já se colocando atrás da minha cadeira e empurrando-a para dentro do quarto.

Seria mais um dia de tantos outros anos que aquela dor latejaria mais forte. 16 de Dezembro de 2014, 10 anos que o meu papá se foi. 10 anos de uma culpa que não era minha, mas foi depositada em minha conta como se fosse. 10 anos que eu daria tudo, tudo mesmo, só para tê-lo comigo outra vez.


A New WalkWhere stories live. Discover now