Capítulo II: O choque de Realidade

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"Os mortos sempre devem continuar mortos"

Amanheceu eu estava lá ainda encharcado, um policial me abordou, contei para ele tudo que havia presenciado na noite passada, claro, ele não ligou nem um pouco me chamou de louco, e disse que encontrou meus documentos dentro do carro abandonado, confirmei dizendo que era eu, ele me deixou ir embora, pois viu meu estado de pânico, ainda muito atordoado peguei meu carro, que não foi guinchado incrivelmente pois nesse país o justo sempre é o errado, então dirigi, fui até meu apartamento, como de costume falei e comprimirei o porteiro, e fui para meu quarto, que ficava no decimo segundo andar, quarto 120, naquela ocasião o elevador estava quebrado, que droga, tive que subir escadas, estava muito cansado, chegava de uma viagem, não sabia que tudo aquilo poderia acontecer comigo, tudo muito estranho, será que sonhei? Tudo aquilo que vi era real? De baixo do chuveiro, me lamentei por não estar tento as férias que queria, eu moro sozinho, recebo visitas de meus amigos constantemente, terminei ano passado a faculdade de jornalismo, e agora trabalho em um jornal famoso da cidade estávamos entrando no mês de maio.

Sai do chuveiro, coloquei um pijama só queria cama, liguei a tevê e comecei a ver a programação, logo estava noite novamente, e fui para cama, ao deitar eu quase consegui a pegar no sono até que uma coisa aconteceu de novo todas as noites era incrível, eu ouvia estalos, ás vezes altos, às vezes baixos. Estalos, ruídos, barulhos incômodos. Sempre pensei que fossem os móveis. Eles eram velhos, rangiam quando eu me movia. Rangiam quando eu não me movia também. Sempre rangiam, na verdade. Velharias. Coisas inúteis, antigas. Serviam somente para assustar. Mas os estalos estavam lá, mesmo quando os móveis eram novos. Às vezes, quando eu me deitava sob as cobertas, eu os ouvia. Ouvia mais, ouvia bastante. Quando as luzes estão apagadas, nossa audição se aprimora. É algo que o corpo faz por si só. Ouvindo melhor, ouvimos também o que não queremos ouvir. Como os estalos. Como o vento na janela. Como a dança dos galhos do lado de fora. Como os passos. Deitado, de olhos abertos no escuro (que, de tão escuro, chegava a ser pior do que ter os olhos fechados), eu os ouvia. Eles andavam no andar de baixo, na cozinha, na sala. Andavam nos banheiros, na copa. Subiam as escadas. Essa era a pior parte. Era horrível imaginá-los, pensar que estavam próximos. Eu sempre pensei que os estalos vinham dos móveis. Essa era a melhor opção. Assim, eu ficava mais tranquilo, mais calmo. Mas os móveis não andam. Os passos não eram dos móveis. Os passos eram deles. E eles subiam as escadas, sem pressa. Subiam e subiam, degrau por degrau, e eu os escutava. Fechava os olhos, puxava as cobertas, contava carneiros, vacas e ornitorrincos, mas não dormia de modo algum. Eles subiam as escadas, vagarosos. A lentidão era o que mais me doía. Cada passo devagar, cada passo sereno, era de romper o coração. Sentia meu sangue gelar, subir à garganta quente, voltar às pernas gélidas. Aí as luzes se acendiam. Isso também não era coisa dos móveis. Eles acendiam as luzes, uma a uma. Seus passos estavam mais próximos. Eles estavam ali, do outro lado da porta. Eu tentava ficar quieto; estava paralisado. Tinha medo deles. Medo do que quer que fossem. Medo de que me mandassem embora. Medo de que me fizessem mal. Queria gritar, chamar minha mãe, mas sei que ela não viria. Nem meu pai. Ele zombaria de mim. Diria que era um medo bobo. Diria que eu era criança, que era idiota. Então ficava ali, quieto, tremendo de medo. Ouvia suas chaves na maçaneta, e este era o meu limite. Eu sempre saltava da cama nessa hora, corria para debaixo dela e me escondia. Eles não podiam me ver ali, ninguém poderia. Eu via a porta se abrir, a luz de fora entrar. Eles não acendiam a luz do quarto, por sorte. Entravam quatro pés pesados, mas eu sabia que havia outros dois suspensos nos braços de um deles. Nunca havia os visto; sequer sabia se eram humanos, se eram monstros. Não gostaria de descobrir. Então eu ouvia a voz de um deles.

—Durma com os anjos, filhinho.

E eu sabia, nessa hora, que havia alguém na minha cama. Então eu chorava, chorava sem fazer barulho nenhum. Chorava debaixo da minha própria cama. Chorava no escuro, sozinho, e ficava ali, no chão frio, até que o medo me deixasse dormir.

Vida Macabra Origins: O inicio do Horror,sangue e medoOnde histórias criam vida. Descubra agora