O Diário de um garoto sincero

24 de outubro

Bom dia querido diário. Hoje não estou me sentindo muito bem. Quando acordei ouvi meus pais brigando baixinho na cozinha. Estavam falando sobre se mudar para perto da vovó. Meu pai não gostou muito da idéia, mas não entendi o por que, já que é pra perto da mãe dele que mamãe quer se mudar. Se fosse para perto da vovó Maria até eu não iria aceitar. A vovó Maria é muito chata, quando eu falei isso pra ela, ficou brava. Mas mamãe sempre disse pra eu ser sincero. A vovó Leila é muuuuito mais legal. Ela faz biscoitos, brinca comigo e não fica falando mal da vizinha. Ouvi mamãe dizendo assim:
- George, pensa por favor. Vai ser melhor pro Benjamin ficar perto da avó. Lá as escolas são bem melhores e tem mais oportunidades de emprego para nós dois.
- Nataly, ele ja esta se acostumando aqui. Tem amigos, um quarto só dele, ja esta acostumado com a escola. Ele esta até escrevendo naquele diário que Sr. Walter deu para ele.
- Ele pode ter amigos lá. Podemos arranjar outro psicólogo pra ele. Pra tudo tem um jeito.
Papai pausou por um momento e me olhou. Eu estava parado no corredor olhando para eles.
- O que acha? Quer morar perto da vovó Leila?
Corri e pulei em seu colo.
- Sim. Eu adoro ela. A vovó Maria mora perto de lá?
- Graças a Deus não.
- Ha ha!- mamãe fala mal da vovó mas não gosta quando papai fala também.
- Eu acho a vovó Maria bem chata.
- Eu também- cochichou papai em meu ouvido.
- decididos? - perguntou minha mãe me dando uma tigela cheia de cereal e leite.
- O que quizer amor! Tenham um bom dia. Amo vocês.
Papai me colocou sentado na cadeira, pegou sua maleta, deu um beijo em mamãe e saiu.
- vou te deixar na escola hoje. Dormiu bem?
- Aham. Sonhei que estava em um planeta feito de sorvete e bolo de chocolate.
- Uau!! Que máximo! E o que você fez lá?
- Eu pulei em cima de marchmellows enormes e brinquei de guerra de bola de sorvete.
- Quem mais estava no seu sonho?
- Você e o Papai.
Ela deu um sorriso tão bonito quanto o arco íris.
- Queria que ficasse pra sempre com 10 anos. Eu te amo tanto!
Ela me deu um abraço forte e me olhou no fundo dos olhos.
- Filho, promete pra mim que, independente de qualquer coisa, você sempre vai falar tudo pra mamãe?
- Prometo mamãe.

Quando eu cheguei na escola fui falar com Robert, vi que ele estava com um olho roxo e perguntei o que havia acontecido, mas ele não quis falar. A professora o chamou pra fora da sala e ficou conversando com ele. Sabe, eu sinto pena dele. O pai morreu e a mãe bate nele. Parece que nada da certo.
Na hora do recreio dividi o meu lanche com Medsy e Robert e depois brincamos de pega pega.
Quando cheguei em casa encontrei papai jogado no sofá, tirando um cochilo e roncando feito um porco. Pulei em cima dele que me deu um abraço depois do susto que levou.
Amanhã é dia de conversar com Sr. Walter e eu gosto bastante. Mamãe diz que eu tenho que falar com ele toda semana, por que eu tenho um probleminha pra lembrar das coisas. Ela diz que não é uma doença, é só um detalhe que me faz ser mais especial do que sou.
Briquei um pouco com papai, tomei um banho bem demorado e vim pro meu quarto. Meus pais estão tendo a conversa diária e daqui a pouco vem me colocar na cama.
Boa noite querido diário.