Cantar à chuva

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-Bom dia!

- Bom dia meninas! Estou a ver que hoje a vossa voltinha vai durar mais tempo. Não costumam necessitar de mim logo de manha. - Disse o Sr. José sempre simpático e prazenteiro.

- Hoje vamos aproveitar o dia todo e dar uma grande caminhada.

- Mas está a vir mau tempo, não acho que alguém goste de andar á chuva.

- Eu venho prevenida, não se preocupe- mostrou o guarda-chuva que tinha na mala- não percebo è este tempo. Um calor que abafa e previsão de muita chuva.

- É o mundo a mudar!

-Infelizmente...- um ar pensativo apoderou-se de Clara enquanto olhava para o lado de fora pela janela da porta.

- E então, hoje vamos para onde? - Perguntou o Sr. José entusiasmado.

- Hoje vamos à cidade!

- À cidade? Perguntou o Sr. José completamente espantado- Tu nunca quis ir à cidade. Aliás, tu abominavas a cidade! Dizias que deveria ser uma coisa horrível, cheia de barulho e confusão. Que te está a acontecer?

- Exato Sr. José - começou Clara a dizer de forma sonhadora- deveria ser uma coisa horrível. Mas como podemos opinar sobre alguma coisa se nunca a presencia mos na vida?

- Tens razão rapariga. Tens razão. Nem sei o que seria desta aldeia sem ti. Todos os dias trazes uma lufada de ar fresco a esta terra e a esta gente. Todos nós te temos muito carinho, e depois do que te aconteceu cada vez mais sentimos necessidade de te acarinhar e cuidar de ti. Se permites a minha opinião, a exceção do mosso falecido Capela, acho que és a melhor pessoa que todos nós já conhecemos, acabas-te com o preconceito e a ignorância da maioria de nós, e isso è algo que não se pode retribuir.

Ligou o táxi e dirigiu-se para a grande cidade. Durante os 45 minutos que se seguiram Clara matutou naquilo que aquele seu, inesperado sábio, amigo lhe havia dito. Sabia que as pessoas daquela aldeia tinham um grande respeito e carinho por si, mas não tinha consciência de que fosse numa dimensão tão grande que acabasse por influenciar enormemente a vida destas pessoas.

Começou a sentir um terrível mau estar dentro de si. E se não conseguissem compreender a sua atitude? E se nunca mais a quisessem receber nas suas casas, e pior ainda, nas suas vidas? Não queria perder o amor que estas pessoas tinham por si, mas também não queria depender da felicidade que lhes dava para sobreviver.

  Sem que conseguisse controlar, o seu confronto emocional estava a aumentar a olhos vistos e ela sente-se perdida sem saber que caminho seguir. Responder ao amor que Ricardo nutria por si e dar-lhe um herdeiro; aceitar o trabalho na loja de ferramentas, que o pai deste tinha e ter um emprego a tempo inteiro e não deixar estas pessoas ou seguir o que o seu coração dizia e aventurar-se num mundo desconhecido de que só tinha noção devido aos meios sofisticados de comunicação?

A sua cabeça parecia explodir e os olhos estavam prestes a encher-se de lágrimas como se a sua terra natal exercesse uma força mística sobre si e não a quisesse largar. Felizmente o táxi parou e o Sr. José informou-a que já tinham chegado perguntando-lhe a que horas queria que a viesse buscar.

- Não sei o tempo que me vou demorar aqui. Se anoitecer e ainda tiver alguma coisa por fazer durmo por cá, não se preocupe.

- Preocupo-me sim. Sabes bem que as cidades são perigosas, não te vou deixar andar por aí entregue ao deus dará! Se não me ligares o mais tardar 20h estou aqui para te levar.

- Obrigada pela preocupação Sr. José. Até logo então.

- Ate logo e cuidado! - Fechou a porta do carro e seguiu viagem.

Sempre te irei protegerOnde histórias criam vida. Descubra agora