Capítulo 4 : Ajude o próximo

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Depois de ler e reler essa carta 500 vezes, eu compreendi o que minha irmã estava passando.

Ela estava com o coração tão apertado e quebrado que sua última escolha foi recorrer à morte.

A morte, era sua carta de paz, sua última jogada para acabar com a dor que sentia, era sua aliada.

Eu sentia que depois de ler cada palavra escrita pela Clarisse, que precisava fazer algo, ela me deixou essa carta explicando seus sentimentos, eu conheço minha irmã, até na sua última escolha ela quis que eu entendesse, ela queria que eu fizesse algo.

E foi assim que eu parei numa terça feira chuvosa no prédio da biblioteca central com meus amigos me olhando sem entender nada.

Eu mostrei à eles a carta que ela tinha me deixado e que eu precisava fazer algo, sei que muitas pessoas iram passar ou até mesmo devem estar passando pelo que ela passou.

Foi aí que tudo começou, depois de muitas discussões, dúvidas, pesquisas criamos um aplicativo chamado " Todos com Você ", onde pessoas que estivessem passando pelos mesmos problemas poderia entrar em contato com a gente. Sei que meus amigos e eu não eramos nenhum tipo de psicologo profissional, mas eu li que conversar sobre também ajuda, independente de você ser algum profissional sobre o assunto ou não.

E não parou por ai, durante duas semanas nós entregamos flores com mensagens contra o suicídio, com o apoio e incentivo da diretora colocamos cartazes por todos os corredores divulgando nosso aplicativo, fizemos palestras de sala em sala, o pessoal super nos apoiou.

Cada vez mais alunos, até mesmo colegas nossos nos procurava para conversar, ouvimos muitos nos agradecerem por ter tomado essa atitude. E como uma verdadeira explosão às redes de tv da cidade ficaram sabendo do movimento contra o suicídio que estava acontecendo no nosso colégio e entraram em contato com a diretora que disse o que estávamos fazendo, logo milhares de repórteres entraram em contato comigo e com meus amigos querendo entrevistas e tudo, tínhamos virado famosos como a Luiza dizia.

O melhor de tudo foi que uma ONG bastante conhecida por seus trabalhos e campanhas contra o suicídio quis patrocinar nosso aplicativo e trabalhar com ele, nem preciso dizer que surtei né? Foi surreal.

Eu não pude salvar minha irmã, mas poderia ajudar à salvar milhares de outras vidas.

E chegamos até hoje que será o dia do lançamento do nosso aplicativo para o mundo todo, a diretora e coordenadora da ONG me pediu alguns dias atrás para escrever um discurso o qual eu leria ele hoje na frente de milhares de câmeras e pessoas.

Confesso que estou super nervosa, sinto até minhas pernas bambas.

- Preparada? - Enzo estava ao meu lado me olhando, ele estava rindo do meu nervosismo, vê se pode.

- Não.... Sim.

- Amor, relaxa - ele diz me abraçando.

- E se eu falar besteira, e pior e se ninguém gostar?

- Ei, essas pessoas todas estão aqui apenas para te ver. Ver a garota que mudou às coisas, que ajudou muita gente, que devolveu a muitos o verdadeiro sentido da vida, e se ninguém gostar coisa que eu acho impossível, quem liga? Nós, seus amigos, seu pai, estaremos aqui te aplaudindo de pé, e sei também que a Clarisse onde ela estiver está muito orgulhosa de você.

Nem preciso dizer que chorei depois de todas essas palavras de incentivo que ele me disse né?

É agora!!!!!

Eu subo ao palco, um pouco tímida por conta de milhares de olhares sobre mim. Então começo a ler meu discurso.

- Oi, Meu nome é Elizabeth Moore, tenho 18 anos, sou estudante do colégio São Francisco, e sou fundadora do aplicativo Todos com Você, bom antes eu queria me desculpar por estar um pouco nervosa, é que isso tudo é novo para mim ainda, e chega de enrolação, sei que hoje vocês estão aqui para ouvir sobre o aplicativo, mas.... Eu fiquei a semana inteira pensando e sabe... Uma vez me perguntaram de onde surgiu a inspiração para esse aplicativo, eu disse que era por que eu queria poder ajudar às pessoas, mas na verdade, foi por causa da minha irmã.

Clarisse Moore, tinha 19 anos quando cometeu suicídio, nunca consegui entender seus motivos, por que Clarisse era incrível, ela era tudo pra mim, meu porto seguro, minha fortaleza, ela era como nossa mãe, eu achei que ela era feliz e ai eu me perguntei, mas o que é a verdadeira felicidade? Como saberemos distinguir sorrisos? Sim porque minha irmã sorria, ela sempre sorria, eu adorava ver ela sorrindo, até descobrir que seu sorriso era apenas uma forma de disfarce. Foi difícil pra mim compreender os motivos que a levaram tomar uma decisão assim, confesso que até cheguei a ter raiva dela, raiva por ter me deixado, por ter feito uma estupida escolha.

Minha irmã deixou esse mundo por acreditar que sua vida era escuridão, um mar de pesadelos, mas ela não percebeu que era apenas um quarto escuro com luzes apagadas, ela se privou de ver às dádivas do mundo por achar que era fraca, mas ela também não percebeu que ela escolheu ser fraca quando tirou a própria vida, não à julgo, mas ela era forte sim, ela só escolheu a saída mais rápida.

Mas não podemos escolher assim, não podemos desistir por medo de não conseguir, se sua dor for sufocante e você acreditar que não consegue, eu te direi que você consegue sim. Só não façam isso, não escolham a saída mais fácil, o mundo precisa do seu sorriso, precisa da sua beleza, eu prometo que existem coisas que valem à pena viver, como sorvete, pizza, amar, viajar, então por quê se privar de viver tudo isso antes? Eu sei que às vezes parece tudo muito escuro e você se sente sem rumo e vazio e que parece não haver luz nesses dias, más há sim, sua jornada é única e sua história inacabada, não coloque um ponto final antes de viver, abrace a bagunça gloriosa que você é. Peçam ajuda, não é fraqueza pedir ajuda ao contrário é ato de valorização da vida, das nossas próprias vidas. Obrigada.

Nessa altura do campeonato eu já não sabia se chorava ou sorria para as milhares de pessoas que choravam comigo e me aplaudiam.

Isso foi pra você minha querida irmã. Tudo por você.

Todos com vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora