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Harry acha que jogar vinho nas pessoas é bom.

Harry.

Eu queria jogar todo o estúpido vinho na cabeça de Liam e depois quebrar a taça em sua cabeça.

Sem a intenção de machucá-lo, claro.

— Eu não brigaria se você não fosse tão desajeitado, Edward. É tão simples! — exclamou pela enésima vez naquela semana, pondo novamente os três pratos na enorme bandeja prateada e dando uma volta pela enorme cozinha. Ele voltou e deu a si mesmo um sorriso orgulhoso.

Se eu não precisasse tanto desse emprego, é. Um vinho despejado e uma taça quebrada cairiam bem.

— E você acha que eu não faço isso, Sr. Payne? — perguntei, debochado. Liam tinha essa de ser chamado de Sr. Payne por todos os seus funcionários.

Ele via como respeito e autoridade, eu o via como uma piada.

Liam não assustava nem uma mosquinha e bem, isso pelo menos era o que eu achava, porque alguns funcionários choravam apenas de olharem para seus penetrantes olhos castanhos e verem lá sua decepção ou raiva. Eu não estou brincando, trabalhava no local há um mês e já tinha visto dois cozinheiros e um garçom trancados na dispensa, onde se ouviam apenas os soluços altos tentando ser contidos.

O cara tinha uma imagem de fato, mas para mim ele sempre seria o idiota que, no dia em que me assumi gay, me ensinou a chupar um pau com todos os detalhes possíveis. E ele é hétero, eu não gostaria nem de imaginar o que ele me ensinaria se fosse gay.

Liam era meu irmão postiço, filho do meu padrasto e por acaso meu melhor amigo e dono do restaurante em que eu trabalhava. Eu estava nos últimos períodos da faculdade e meu plano até o fim do curso era ser sustentado por Robin,— seu pai — e mais alguns anos depois até arrumar um emprego estável e ter minha vida 100% independente. No entanto, meu plano foi completamente cancelado quando Robin perdeu seu emprego e minha mãe o proibiu de continuar pagando todas as minhas despesas e me obrigou a arrumar um trabalho.

Eu, Robin e seu pai não somos seu banco particular, querido. Você precisa pelo menos pagar as contas do seu apartamento e comprar sua comida com seu dinheiro, porque nós não viveremos para sempre.

Bobeira. Foi o que eu disse para minha mãe. E então ela citou Liam, como sempre fazia.

Liam na sua idade já estava abrindo seu primeiro restaurante sem ao menos terminar a faculdade. Ele lutou por seus ideais e eu quero que você faça o mesmo, lute por aquilo que você acredita. Creio que temos nossa conversa encerrada.

Voltando ao Liam: ele era dez anos mais velho que eu, casado e prestes a ter seu primeiro bebê, que estava preparado para nascer no fim do mês seguinte. Eu e ele começamos a morar juntos quando eu tinha dez anos, quando nossos pais se casaram e mamãe mudou-se para casa de Robin. Foi uma conexão instantânea e eu até hoje me pergunto o que um homem sério, inteligente e determinado como ele viu em um idiota de dez anos prestes a entrar na puberdade. Não que eu esteja reclamando, já que Liam tornou tudo na minha vida mais fácil e, se não fosse por ele, ela estaria mais caótica do que está atualmente; mas era algo a se questionar.

Meu irmão postiço era simplesmente a pessoa mais incrível e inteligente que eu já havia visto em minha vida e, apesar da constante comparação entre mim e ele que minha mãe insistia em fazer, eu nunca tive nenhuma inveja dele. Apenas me sentia sempre feliz e orgulhoso por ver seu enorme progresso ao longo dos anos e almejava um dia alcançar um sucesso parecido com o seu com a carreira que pretendia seguir. Ele era meu maior exemplo.

You messed me up (but I still love you) // L.SOnde histórias criam vida. Descubra agora