Capítulo 10

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Acordo sem sentir Jace ao meu lado e assim que abro os olhos tudo que eu queria era não ter acordado. Ele está colocando suas coisas em uma bolsa de viagem rapidamente, ele não percebe que estou acordada, ele está de costas para mim.

-O que você está fazendo? -Pergunto ao me levantar.Ele se vira e me olha, ele fica me olhando por um momento depois fecha os olhos e pressiona as têmporas. -Pensei que você não acordaria tão cedo. - Sua voz era rouca, pesada, mais grave que o normal.Minha cabeça começa a girar e meu coração se aperta no peito. -Esta fugindo de mim ? - Tento disfarçar a magoa em minha voz, e é em vão.Sua expressão fica triste. -Se olhe no espelho, Alice!- Ele faz um gesto com a mão apontando meu corpo- Olha o que eu fiz com você.Olho para meus braços e meus pulsos estão com as marcas de suas mãos. -Você tem noção do que é isso ? Imagina se nós .... - ele fecha os olhos e balança a cabeça em negação - Não, não da nem pra imaginar. Sou um monstro e não sei o que tinha na cabeça quando pensei que isso daria certo. -Isso aqui não é nada, Jace! - Falo, quase gritando e com a voz engasgada por causa das lágrimas contidas e passo a mão em meus pulsos - Isso não é nada, não está doendo. Você não é um monstro. Isso foi rápido e estranho demais, nunca imaginei que essas coisas existiam, eu estava presa em meu mundo, achando que não havia nada além dessa merda toda e tu veio e me mostrou que tem muito mais, me mostrou coisas incríveis. Não me abandone.Ele está com os olhos cheios de lágrimas. Se levanta e vem até mim, parando á alguns centímetros. -Não torne isso mais doloroso que já é, por favor - Ele põe as mãos em meus ombros e olha em meus olhos - Eu estava errado quando achei que a gente poderia dar certo, mas isso não significa que eu não goste de você. Mas eu vim aqui por um motivo e preciso encarar isso agora e sozinho. -Por que tem que ser sozinho ? - Agora as lágrimas já estão escorrendo pelo meu rosto. -Por que isso não é brincadeira, você não viu nada do meu mundo ainda, Alice, isso é extremamente perigoso e eu não posso deixar que se machuque. E se acontecer algo comigo, não vai ser tão doloroso pra você. Diga que me entende, por favor. Do que ele está falando? começo a soluçar. Não, ele não vai morrer, não pode! Não aguento a dor e não o respondo. Não o respondo por que não posso o entender, não consigo. -Fale alguma coisa, por favor. - Ele pede.Não falo nada, apenas choro, choro muito. -Não chore, por favor, não chore por mim. Eu não mereço - Uma lágrima escorre de seu olho - Sinto muito Alice, sinto muito mesmo. Espero que algum dia me perdoe. - Ele solta meus ombros e beija minha testa com delicadeza - Adeus.Não consigo me mover, não consigo falar nada. Apenas fico paralisada vendo ele partir e levando com ele tudo o que restava de minha felicidade. Assim que ele fecha a porta atrás dele atiro o abajur contra a porta, logo depois o maldito panda que ele  me dera noite passada. -COVARDE! - grito em meio os soluços.A parte de mim que é inteligente está gritando pra mim : Eu te avisei! como pôde ser tão burra? Claro que ele iria te abandonar! Olhe pra ele e olhe pra você! você não é nada, quando na vida ele iria te querer?Me atiro em sua cama, gritando e soluçando, sentir seu cheiro piora. Como uma pessoa é capaz de suportar tanta dor? Achava que já tinha ultrapassado meu limite, Mas agora vejo que não. Sempre pode piorar.Quase duas horas depois, ouço gritos vindos da rua. -NÃO! NÃO FAÇA ISSO! - conheço essa voz.... VINCENT!Pulo da cama e subo as escadas correndo, atravesso a cozinha tropeçando em tudo e saio pela porta da frente.Tudo congela. Não sou capaz de absorver tanta coisa ao mesmo tempo. Há uma van branca estacionada, Sarah a vizinha, está em frente a sua casa rindo e seu marido Vincent, está ao seu lado mas não com a mesma expressão, ele está olhando pra frente, horrorizado. Acompanho seu olhar e vejo dois homens, altos e fortes com uniformes brancos carregando minha mãe para dentro da van. -Não! -Grito - O QUE ESTÃO FAZENDO COM ELA? Tento correr até ela mas outro homem aparece me segurando pelos braços. -Me solte! Por que estão fazendo isso ? - Me debato em seus braços, sem resultado. - Se mantenha calma - Ele fala com sua voz grave - A senhora Abernaty, se trata na nossa clínica tem 7 anos e nos últimos 2 recebemos reclamações de invasão, de sua vizinha e hoje pela manhã a Sra. Tunner nos contatou, alegando que sua mãe além de invadir sua casa, estava completamente fora de controle, quebrando as coisas e sujando tudo, mas aparentemente não está bêbada então achamos melhor levá-la para a clínica para ver o que está acontecendo e talvez interná-la caso tenha voltado a ter seus "problemas" - Ele fala a palavra problemas num tom acusatório. -Não! não podem interná-la!Á essa altura a van já foi embora. Caio de joelhos no chão, chorando. -Alice, vamos entrar, se acalme, precisamos conversar - Vincent fala pondo as mãos em meus ombros - Vai ficar tudo bem. -Não quero conversar com você! - Grito - Isso é culpa sua! -Sinto muito Alice, mas vamos sair daqui, por favor - Ele tenta me abraçar - Por favor, deixe-me explicar.Eu me desvio do seu abraço, recusando por uns instantes mas pouco tempo depois acabo cedendo e pulo para seus braços o abraçando forte e soluçando. Ele me levanta em seu colo e caminha comigo até dentro de casa, fecha a porta atrás de si quando passamos e sobe as escadas comigo ainda aninhada em seus braços, chorando em seu peito. -Shh.. - Ele acaricia meu cabelo - Vai ficar tudo bem, vamos sair dessa.Quando ele me deita em minha cama, já não estou chorando tanto. -Preciso que me escute e tente não me odiar - Ele balança a cabeça - Não foi culpa minha terem levado sua mãe, eu tentei impedir mas a Sarah saiu do controle, se eu não o impedisse ela ligaria para a polícia. -Por que isso ? O homem me disse que minha mãe nem estava bêbada! - Não estava entendendo nada - Por que Sarah fez isso?Ele passou as mãos pelos cabelos e comprimiu os lábios. -Ontem a noite, sua mãe não estava com a Sarah - Ele olhou para outro lado- Sarah estava em uma viagem de trabalho e sua mãe estava.. ela ... ela estava comigo.Olho para ele sem acreditar. - Alice, não me odeie.Não falo nada. -Eu amo sua mãe, Ok? Sempre amei e ela também gosta de mim. - E por que está traindo a Sarah? - Pergunto, irritada. - Não podia simplesmente terminar com ela? -É mais complicado que parece - Ele pega minha mão - Eu nunca terminei com a Sarah pra não ter problemas, Sarah me chantageava e além disso, também tinha medo que você me odiasse, poderia pensar que eu estava tentando substituir seu pai ou algo do tipo. Sinto muito, sei que parte da culpa é minha. Mas eu juro que vamos tirá-la de lá, eu prometo. - E agora? - E agora o que? -Ainda vai ficar com Sarah? -Não! - Ele faz uma cara de nojo - Ela está se retirando da minha casa hoje mesmo, desprezo essa mulher. Quando me casei com ela a amava, mas com o passar dos anos as máscaras foram caindo. Hoje foi a gota d' água .Abraço ele novamente. - Por favor, tire ela de lá, por favor - Recomeço a chorar- O que vou fazer sem ela ? -Ah, Alice você tem a responsabilidade de uma adulta, trabalha, estuda, sempre soube se virar sozinha. Você já é uma moça até por que é emancipada desde que internaram sua mãe na clínica de reabilitação, ano passado. Você vai conseguir, eu estarei aqui ao lado, sempre que precisar. - Ele aponta para o lado e da risada, me fazendo sorrir - Eu prometo que ela voltará. -Promete mesmo? -Prometo.Quando acordo, ele não está mais lá. Que horas são? É tarde? noite? Não consigo saber, pois as janelas estão fechadas. Pego o celular pra ver as horas e me apavoro: 17 horas. Não comi nada durante todo dia, mas não sinto fome, pelo contrário, estou com uma sensação horrível no estômago, como se fosse vomitar. Dormi durante horas, mas ainda me sinto cansada. Não cansaço físico, mas psicológico. Minha cabeça dói e meu coração está partido, por mais que ainda tenha vontade de chorar, as lágrimas não caem é como se eu estivesse esgotado meu estoque, não há mais nada pra sair. Meu coração fora partido de várias maneiras hoje. Como vou aguentar? Então tenho uma ideia. Corro para o quarto de minha mãe e começo a procurar por bebidas. Sempre quando vim aqui antes procurar por isso, sempre rezava pra não encontrar nada mas agora a situação mudou, eu PRECISO encontrar. No final, encontrei três garrafas de vodca, ao todo. -Ótimo, parece o suficiente. - Resmunguei.Sempre julguei minha mãe por fazer isso, mas nunca imaginei ser tão bom. Agora, no porão, deitada na cama que ontem estava deitada com Jace, já estou quase no fim da primeira garrafa. é bom se sentir assim, leve, é bom esquecer. As vezes temos que achar uma saída razoável quando não se há mais esperanças, eu preciso esquecer tudo isso. Não posso pensar demais, não posso trazer meu passado de volta...


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