A noite escura como os umbrais impedia que Chico conseguisse ver ao certo para onde estavam indo. O coração aos saltos junto com aquele mesmo sentimento de medo, o surrava. O barco bambeava e o motor falhava e, com seu barulho ensurdecedor, atormentava os animais marinhos. Alberto estava nos braços de Jaira que o amparava mesmo estando também receosa por sua vida. Chico era o único que conhecia os mistérios do mar, além de Alberto. João Figueira apertava a vista tentando enxergar para onde estavam indo. Sentiam medo dos corais. Maneco resmungava um choro abafado. A lua por certo tentava guiar aquele caminho sobre as ondas. Mas o que podiam fazer? O sangue lavava os braços de Jaira junto com a água salgada que respingava.
"O que fazer? O que fazer?" – pensava Chico.
Ele fazia de tudo para se concentrar. A vida de todos dependia disso. Lutava contra seus próprios medos para que conseguisse ver uma solução. Seria difícil.
- Chico, cuidado! – gritou João Figueira.
Ele não percebeu que estavam se aproximando do mar aberto.
- Volte! Vire o barco! – gritavam.
- Não posso!
Chico sabia do perigo que corriam. Muitos barcos desapareciam e naufragavam por ali. Mas não podiam mais voltar.
- Vire o barco, Chico!
O medo dominava sua alma aflita. As mãos tremiam e não conseguia pensar nas consequências. Será que todos morreriam agora?
- Cuidado! – gritou João Figueira.
Chocaram contra uma pedra. O barco se destruiu quase que por completo. Alberto estava inconsciente e Jaira tentava acordá-lo.
- Acorde, homem!
Maneco gritava. Embora parecesse sempre alheio ao que acontecia ao seu redor, sabia que estavam em uma situação de perigo e que poderiam morrer. O medo estava estampado no rosto de todos que ali estavam.
Chico sentiu o impacto em seu ombro direito e o braço perdeu o movimento. Uma dor aguda o fez gritar e quase perder a consciência. O motor parou de funcionar. Havia engasgado. Ele podia ver o pânico nos olhos de seus amigos que eram iluminados pela lua. Havia sido um erro tentar fugir de barco.
- Chico, vamos afundar!
Ele mal conseguia pensar. Seus sentimentos estavam confusos. Juntou forças e o chamou:
- Marinheiro... marinheiro! Marinheiro!
Uma luz acendeu no horizonte por alguns instantes. Chico tentou ligar o motor mais uma vez. Nada. Tentou de novo. Nada.
- Vai, tente mais uma vez! – gritou Jaira.
Enfim, ele voltou a funcionar. Mesmo com a água quase tomando conta do barco, conseguiram sair e seguir a luz que iluminava o caminho.
- Vamos por esse caminho!
- Está louco!? Por acaso quer nos matar!?
- Já estamos mortos!
Chico então, foi em direção a luz. Sabia que ela seria o caminho que deveriam seguir.
- Acorde! Acorde! – gritava Jaira para Alberto.
João Figueira voltou a olhar para o horizonte. Não podia acreditar no que seus olhos estavam vendo.
- É a Ilha! Nós voltamos!
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Aquele Velho Cais
EspiritualMesmo não se lembrando do porquê ter ido embora, o passado fez com que Chico retornasse para as areias da praia de Santa Tereza que por algum motivo de lá fugiu, deixando Catarina, o grande amor de sua vida. Devoto do mar e de seus mistérios, muito...