Capítulo - 9 - No Mar / Saliva de Cobra

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A noite escura como os umbrais impedia que Chico conseguisse ver ao certo para onde estavam indo. O coração aos saltos junto com aquele mesmo sentimento de medo, o surrava. O barco bambeava e o motor falhava e, com seu barulho ensurdecedor, atormentava os animais marinhos. Alberto estava nos braços de Jaira que o amparava mesmo estando também receosa por sua vida. Chico era o único que conhecia os mistérios do mar, além de Alberto. João Figueira apertava a vista tentando enxergar para onde estavam indo. Sentiam medo dos corais. Maneco resmungava um choro abafado. A lua por certo tentava guiar aquele caminho sobre as ondas. Mas o que podiam fazer? O sangue lavava os braços de Jaira junto com a água salgada que respingava.

"O que fazer? O que fazer?" – pensava Chico.

Ele fazia de tudo para se concentrar. A vida de todos dependia disso. Lutava contra seus próprios medos para que conseguisse ver uma solução. Seria difícil.

- Chico, cuidado! – gritou João Figueira.

Ele não percebeu que estavam se aproximando do mar aberto.

- Volte! Vire o barco! – gritavam.

- Não posso!

Chico sabia do perigo que corriam. Muitos barcos desapareciam e naufragavam por ali. Mas não podiam mais voltar.

- Vire o barco, Chico!

O medo dominava sua alma aflita. As mãos tremiam e não conseguia pensar nas consequências. Será que todos morreriam agora?

- Cuidado! – gritou João Figueira.

Chocaram contra uma pedra. O barco se destruiu quase que por completo. Alberto estava inconsciente e Jaira tentava acordá-lo.

- Acorde, homem!

Maneco gritava. Embora parecesse sempre alheio ao que acontecia ao seu redor, sabia que estavam em uma situação de perigo e que poderiam morrer. O medo estava estampado no rosto de todos que ali estavam.

Chico sentiu o impacto em seu ombro direito e o braço perdeu o movimento. Uma dor aguda o fez gritar e quase perder a consciência. O motor parou de funcionar. Havia engasgado. Ele podia ver o pânico nos olhos de seus amigos que eram iluminados pela lua. Havia sido um erro tentar fugir de barco.

- Chico, vamos afundar!

Ele mal conseguia pensar. Seus sentimentos estavam confusos. Juntou forças e o chamou:

- Marinheiro... marinheiro! Marinheiro!

Uma luz acendeu no horizonte por alguns instantes. Chico tentou ligar o motor mais uma vez. Nada. Tentou de novo. Nada.

- Vai, tente mais uma vez! – gritou Jaira.

Enfim, ele voltou a funcionar. Mesmo com a água quase tomando conta do barco, conseguiram sair e seguir a luz que iluminava o caminho.

- Vamos por esse caminho!

- Está louco!? Por acaso quer nos matar!?

- Já estamos mortos!

Chico então, foi em direção a luz. Sabia que ela seria o caminho que deveriam seguir.

- Acorde! Acorde! – gritava Jaira para Alberto.

João Figueira voltou a olhar para o horizonte. Não podia acreditar no que seus olhos estavam vendo.

- É a Ilha! Nós voltamos!

Aquele Velho CaisOnde histórias criam vida. Descubra agora