Inexistência

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Tudo começa quando o relógio acaba de virar contando mais uma hora de mais um dia onde milhões e milhões de pessoas trabalharam. E eu como todos os outros dias, deitado olhando para o escuro com uma música lenta tomando todo o silêncio do ambiente. Fechei os olhos e me entreguei a melodia que estava me fazendo viajar pelas "auto decepções " que ocorrem todos os dias, uma após a outra. A incapacidade se tornou o sentimento que acompanha desde meu levantar de a cama até o último cerrar de olhos. E aos poucos vou me debruçando sobre todo aquele peso consciente que me assombra e fatiga nessa terrível jornada que muitos ousam chamar de viver. O correr da noite me fizera pensar em desistir de toda essa bagunça, como alguém pode designar algo tão automático para o resto de suas medíocres vidas? Certamente é um futuro impróprio que temos a escolher e assim podermos sobreviver, encarando a dura realidade que ainda me assombra. E eu, como nas outras vezes, cansado de ter que fazer tudo como no dia anterior.

Amanhece, mais um dia terei pela frente, todo o silêncio e a calma do sono foi interrompida pelo despertar do alarme. O relógio marca nove horas da manhã, estou acordado, olhando fixamente para o teto tentando encontrar forças para me levantar, ainda cansado, me dirijo ao banheiro. Ao lavar o rosto, olho para o espelho e permaneço encarando meu reflexo, se tornara inevitável refletir sobre o que estou me tornando. Já não está sendo fácil me conformar comigo mesmo. Passo na cozinha, preparo meu café e me sento ao sofá, olho meu relógio de parede e vejo que já está na hora de me arrumar. O tempo passa rápido, e quando menos perceber já está na hora de ir. E lá vou eu, para mais um dia cansativo de trabalho, repetindo o que fiz ontem e traçando o amanhã.

Dia 06 de dezembro de 2017, quarta-feira, 13h52 minutos. Aqui estou eu no mesmo lugar de ontem, aguardando o relógio apontar às 14h para iniciar meu expediente na expectativa de que tudo hoje será diferente, mas algo me diz que não é bem isso que irá acontecer. Como todos os outros dias, estou eu esperando "sedento" pelo fim de semana, a noite de sexta é o momento de maior paz na minha semana, é quando decido pegar meu violão e olhar pela janela virando a noite tocando-o e cantarolando para o silêncio escuro da noite e do quarto que raramente está iluminado.

Quatro horas após o início do meu expediente de meio período, olhando pela janela do ônibus parcialmente lotado, ouvindo conversas e risadas alheias, vendo o cansaço no rosto de cada um pelo lado de fora. A semana prestes a acabar, porém o sofrimento irá se repetir depois de dois dias. Me dirigindo a minha residência, minha família me aguarda e espera minha chegada. Aquela maravilhosa família, me encontro nesta situação deplorável, mas me mantenho em pé ainda por causa dela, minha mãe que sempre apoia minhas decisões, minhas irmãs que sempre se dispõe a ajudar-me, meu padrasto que, apesar da amorosidade é alguém que me apoia e me dá muito suporte. Porém ainda tenho minha bagunça mental, desilusões amorosas e decepções pessoais me transformaram neste ser que sou agora.
O dia está tão nublado, o céu cinza cobre e tira toda a cor do verde das árvores, toda a vida antes presente morre na imensidão de uma cor só. A paisagem urbana coberta por um lençol claro intocável que aprisiona a longitude de toda a vasta paisagem da selva de pedra. E o caminho continua sendo o mesmo, aquela paisagem que se vê todos os dias se repete, diante de todo esse visual negativo confeccionado pela minha mente insana, vou em direção à minha casa, estando apenas degraus de distância do que seria meu descanso diário.

A cinco metros de casa me encontro cabisbaixo e andando lentamente, ouvi um som vindo de trás, quando olho é minha irmã me falando para me esperar e me acompanhar. A pele dela é parda, olhos castanhos, lábios carnudos e rosados como os meus. Estampei rapidamente um falso sorriso no rosto, pois não queria que ninguém visse minha situação. Entrei em casa com a mesma expressão falsa e forçada, sentei-me no sofá e peguei meu celular, a única maneira de me distrair e esquecer que tenho problemas e tarefas. Jantei e fui para o meu quarto escuro, e lá estava eu novamente percebendo como joguei mais um dia fora para uma terrível rotina. A vontade de fazer algo diferente toma conta e me coloca contra uma parede inquebrável. Eu só quero acabar com mais um dia de tortura e angústia, cerro meus olhos e me debruço sobre meu colchão que muitas vezes foi palco de rendições minhas às lágrimas.

Vazio do CinzaOnde histórias criam vida. Descubra agora