Vazio do Cinza

As palavras da fumaça

(...) O céu estrelado havia chamado atenção de ambos, que pararam, encostaram na mureta e permaneceram olhando àquela maravilha luminosa que o céu estava nos proporcionando...

-Como pode ser tão bela? - Disse Rose olhando a imensidão estrelada. -A noite em si me lembra de você. Tão bela e admirável, porém misteriosa e muitas vezes sombria.

Neste momento estava cabisbaixo observando a rua vazia. Ergui a sobrancelha após o elogio e em seguida olhei a bela moça nos olhos, observando-a me descrever como a noite. Neste momento apenas via aqueles lábios perfeitamente desenhados, desviei o olhar e continuei a fitar a rua vazia.

-Agradeço pelos elogios... - disse olhando para baixo ainda. - Realmente me sinto lisonjeados de recebê-los de alguém como você. Mas esqueceu de alguns detalhes da noite que também me descreve. -Olhei para ela novamente, minhas expressões de um sorriso de canto sem graça pelos elogios tinham dado lugar à uma totalmente fria. - A noite é vazia, hora fria ou aconchegante. Hora quieta ou ensurdecedora. - Nestes momentos o olhar de Rose se sintonizou com o sorriso que não havia mais vindo. - Hora seca ou chuvosa. A noite pode chorar e você não ver as gotas, pode gritar, mas não ouvirá, pode morrer e você não perceber. A noite é o descanso final do dia, fazendo com que toda aquela alegria radiante morra no pôr do sol.

A pausa foi instantânea, o silêncio naquela varanda estava sendo tomado pelo som ambiente. Rose me fitou e disse:

-Entendo agora o porquê de fumar, a fumaça lhe faz livrar-se da angústia provocadas pela dor em sua alma. - Se aproximando, a mesma segurou em minhas mãos e em seguida olhou em meus olhos. - Mas você esqueceu de citar alguns detalhes.

Era nítido perceber o brilho nos olhos dela, sua expressão demonstrava a quão sincera estava sendo. Rose estava aquecendo minha alma com um simples envolver de mãos. As minhas estavam geladas e isso a fez pressionar mais as dela que cobriam. Me senti, por um instante, maior do que toda minha decepção, não me sentia mais solitário, alguém estava ali para me ajudar a suportar esta dor.

- Sei que está sendo difícil para você. Consigo perceber sua dor olhando em teus olhos. Ouço seus pedidos de socorro silenciosos. Por este e mais alguns motivos estou aqui, quero lhe ver esboçar mais vezes o lindo sorriso em seu rosto. _ os olhos da bela moça não conseguiram conter as lágrimas, e enquanto sua voz saía em meio daqueles lindos lábios seu rosto era regado por gotas escorrendo desde suas pálpebras até o contorno do maxilar. Suas sobrancelhas tremiam enquanto sua voz embargava. - Você não sabe o quão bem me faz... - ela pausou e olhou para baixo, esperando uma resposta imediata. - Eu... - Coloquei meu indicador em seus lábios sinalizando para ela se calar, com a mesma mão, delicadamente enxuguei suas lágrimas e apreciei a beleza daqueles olhos por mais alguns silenciosos segundos

-Eu só tenho a te agradecer, me fez lembrar que existem motivos para continuar vivendo. - Coloquei a mão direita envolvendo seu queixo, aproximei meu rosto do dela. Estávamos tão próximos que consegui sentir a respiração e o aroma daquele maravilhoso perfume. Pude sentir sua mão tocar na minha nuca em sincronia com o fechar dos meus olhos.

Nossos lábios vieram a tocar, algo fazia aquele momento não se tornar mais um beijo. Trouxe o corpo da mesma para mais perto do meu. Sua silhueta foste percebida com mais nitidez ao tato da palma de minha mão passando pela mesma. Seus lábios quentes estavam juntos aos meus, a sincronia de movimentos fazia aquilo se tornar doce e prazeroso.

Estávamos nos afastando depois de um incrível beijo, mas antes quis fazer algo. Depositei uma mordida no lábio inferior de Rose, fazendo com que ambos sorrissem no ato. Fitamos os olhos um do outro e viramos para continuar observando a iluminada e magnífica noite que coloriu por instantes o cinza na minha mente.