Capítulo III - A história de uma rata de laboratório.

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Enquanto dormia, em seus sonhos, Walay movia-se na cama sentido seu passado voltar a sua mente: Havia sido em uma noite quente de verão quando nascera, sua mãe, também alemã e cristã convicta, rezara a Deus por muitos anos por várias veses todos os dias pedindo por uma criança e agora lá estava ela: Uma menininha saudável, com mãozinhas trêmulas e um chorinho frágil que parecia pertencer apenas a ela e mais ninguém.
Sua vida fora normal até que ela completara três anos. Seu pai, um cristão que convertera a si mesmo ao judaísmo por dentro mesmo que jamais fosse adimitir este fato em voz alta, começou a contar a ela coisas sobre os judeus, a maior parte delas coisas boas, histórias de tempos em que todos eram lívres. Aos poucos, ela passara a admirar os ensinamentos trazidos pelo judaísmo e, para desespero completo de seus pais, a usar uma faixa amarrada em seu braço com uma enorme estrela de Daví amarela pintada nela de forma berrante.
Era uma idéia tão idiota e infantil se submeter aquilo, mas na época os olhares curiosos e assustados, alguns hostís, a faziam sorrir para as pessoas de forma inocente, deixando claro que ela mal sabia o que aquele maldito símbolo significava e as hostilidades pareciam brincadeiras tolas como em uma pessa de teatro.
Ela continuou a fazer aquilo por algum tempo até que um policial alemão a segurou pelo braço quando ela tentou entrar em um parque público e a puxou pelo cabelo até a casa onde costumava morar, houve uma grande discussão entre os pais dela e o soldado e ao final da discussão ela foi levada para o laboratório de um tal Doutor Robert Mendel, ela deveria ficar apenas uma semana ali para "aprender a não brincar com coisas assim", mas ela acabou se perdendo dentre as baias, seu cabelo fora cortado e ela não recebia comida ou água durante dias, foi assim por vários meses e esses meses vagarosamente tornaram-se em anos, sempre sendo guiada por soldados todos os dias á uma grande máquina barulhenta onde tinha de ficar nua e deitar-se quieta ao lado de outras meninas no chão por algumas horas, menos de um mês depois, seu espírito fora totalmente destruído junamente com seu corpo.
Anos se passaram sempre nesta mesma rotina, sempre ouvindo rumores sobre sí mesma entre os soldados sem poder gritar por socorro ou emitir qualquer som, até que, em uma manhã especialmente fria, o anjo pelo qual rezara por tanto tempo finalmente viera a seu resgate na forma daquele menino-soldado que viera puxá-la de seu abismo terrível e que agora estava deitado ao seu lado, protegendo-a como quem protege um milagre raríssimo ou uma jóia delicada.
Quem poderia imaginar há final, que o mesmo Deus cristão alemão, respondera as preces de uma mera judia ao final das contas?
Com o fim do sonho e com os braços de Sven envolvendo seu corpo, Walay dormiu tranquilamente pelo resto da noite fria, sendo aquecida suavemente pelo calor do corpo de Sven, seu anjo salvador no meio daquele abismo escuro.

Por trás da cercaOnde histórias criam vida. Descubra agora