Logo de cara, meu dia iniciou-se uma complicação. Até noite passada, costumava Jill Williams: morador de Florianópolis, estranhamente, hoje, sou Jill Williams: estudante no Japão e, até o momento, sem uma residência certa.
Pelo que me lembro, minhas coisas estão na casa de uma amiga da família, mas é evidente que não tenho o direito de abusar da boa vontade alheia.
Eu, não literalmente, caí de paraquedas na terra do sol nascente. Não faço ideia de coisa alguma por aqui e, o máximo que sei de Japonês, é o pouco que minha mãe me ensinou antes de deixar este mundo.
De uma coisa, tenho certeza: hoje será daqueles dias os quais possuem mais de vinte e quatro horas.
Hoje é o dia em que minhas aulas terão início. Sorte que, na faculdade, não é necessário apresentação para a classe, igual acontecia no ensino fundamental; que, aliás, foi uma total desgraça. Assim como o ensino médio, pois nunca fui alguém verdadeiramente sociável e extrovertido. Na verdade, parece que eu não pertenço a lugar algum e que, no fim, minha presença ou ausência, é irrelevante.
Mas, bem, vamos lá... Japão não deve ser tão ruim. Dizem que aqui, as pessoas são educadas, em maioria.
Já que irei ficar por um bom tempo, resolvi exercer essa minha tal independência e procurar um apartamento para alugar. A primeira ideia que veio à mente foi procurar no quadro de avisos, mas estava tudo em japonês e, pelo pouco que consegui entender, todos os apartamentos estavam ocupados.
Talvez pudesse encontrar pela internet, mas... ah, droga! A primeira aula!
Ao tirar os olhos do relógio, tratei de pegar a mochila e saí, me afastei rapidamente do quadro de avisos. No corredor seguinte, esbarrar em alguém foi inevitável; não um simples alguém, para ser mais claro, ele assemelhava-se a um gigante. Consequente ao impacto, minha mochila, juntamente do livro que carregava, foram diretos ao chão.
— Droga! Tão grande e sequer se dá o trabalho de olhar por onde anda?
— Calma, chibi. — Debochou. — Está machucado?
Chibi? Ele me chamou de chibi? Bem, foi isso que consegui entender.
— Saco de músculos imbecil, eu não sou baixo, apenas vê se olha por onde anda. Ridículo!
Derrubar não foi o suficiente, era necessário que eu recebesse alcunha de pequeno; o que não me é nada raro, devido minha altura. É só inacreditável encontrar esse tipo de comportamento infantil na faculdade, quem diria numa faculdade no outro lado do mundo.
Ao erguer meu olhar, engoli em seco; o saco de músculos era mais que isso. Tinha um olhar incrivelmente belo, e, ele ao todo, era mais belo ainda.
O senti puxar meu braço, reparei melhor na cena somente quando já encontrava-me de pé e com o rosto coberto por seu peito. Me afastar foi impulso imediato, ainda assim, estava à pouquíssimo centímetros do garoto tão alto e de aparência chamativa. Inegavelmente, senti certa atração, que impediu-me de realizar qualquer movimento que acabaria por me distanciar dele.
Era arriscado olhar para cima, provável era que ele estivesse encarando-me.
— Você é bem educado, hein, chibi? — A ironia era óbvia em suas palavras. — E, bem, quem estava andando desligado pelo corredor, era você.
— Olha aqui, seu... eu!... — Estava pronto para lançar algum insulto, quando notei algo importante: ele entendeu o que havia dito anteriormente. — Espera. Você fala Português?
Ah, droga! Ele conseguia falar Português, certamente entendeu o que disse. Em pleno Japão, é enorme e inacreditável a coincidência de esbarrar com alguém que tem fluência em minha língua nativa.
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Gist of Dew
RomanceO destino sempre mostra suas garras, haja quem se surpreende no momento mais inusitado. Jill se perdia numa gigantesca tormenta chamada Kaya com apenas um sorriso, mas o medo de acreditar nas possibilidades tornavam as coisas complicadas. Como se nã...