Éramos em quatro irmãs vindas de família humilde de uma cidade do interior. Kayla era a mais velha, depois vinha eu, Gabriela e a mais nova Cecília.
As filhas mais velhas sempre se casavam primeiro e depois as mais novas que iam ficando casavam também. Nossos pais estavam super animados com o casamento de sua primôgenita Kayla, que aconteceu no mês passado, afinal ela sempre foi exemplo para todas nós.
Nesse momento nós três nos arrumávamos no mesmo quarto para o baile do final do ano, todo ano era a mesma coisa. Cecília e Gabriela estavam animadas e extasiadas com o baile, pois lá poderiam ver caras que poderiam ser seus futuros pretendentes a marido cortejá-las.
Mas eu?
Estava como sempre.
Eu não queria ir, pelo fato de ser sempre rebaixada e motivo de piada entre os partidos da pequena cidadezinha rural. Quem iria querer conversar ou ter a honra de dançar com uma jovem como eu? Que tinha essa deficiência? Para eles, eu era só a irmã da Kayla, Gabriela e Cecília.
Eu estava acostumada a lidar com as dores do cansaço, que sentia depois de caminhar por muito tempo. Mas com os olhares maldosos não. Era sempre frustante tentar ter uma vida "normal".
Me sentia triste na maioria desses bailes. Só não me sentia mais porque Cecília sempre dava um jeito de me animar.
- Você vai ver como dessa vez um rapaz de bom caráter e família, vai te tirar para ter a honra de uma dança.
- Não vai, eu sei que não Ceci.
- Deixa de ser desacreditada irmã, ora, veja Kayla, seu esposo a viu no baile do ano passado e veio pedir ela a mamãe e papai logo depois. Não lembra?
- É diferente, ela é linda, uma dama perfeita e ... normal. Os rapazes não fugiam dela.
- Ah irmã, providencie um sorriso nesse rosto, sim?
- Tentarei Ceci, tentarei.
Eu estava com um vestido rosé bem clarinho, andando do jeito que conseguia desde muito cedo, que era mancando. Eu não me sentia limitada, conseguia fazer tudo no dia a dia, exceto gostar de bailes e atrativos desse modo na cidade.
Caminhei com Cecília e Gabriela para dentro da casa dos Wermth, que davam essa festa grandiosa todo ano.
Gabriela já foi logo se aprumando para o lado do baile, enquanto Cecília e eu caminhavámos lado a lado olhando a decoração e as pessoas que chegavam a cada instante.
- Oh! Esse ano vai ter muita gente, Lilian.
- Sim, e eu só quero dormir.
Ela gargalhou e arrumou o cabelo fazendo um sinal.
- Veja se tem algum jovem moço me olhando agora, mas disfarce Lilian. Oh e seja rápida para ver.
Dei uma olhada em volta disfarçando e por enquanto nenhum nos olhava como ela queria.
- Ainda não. Fique mais calma, Ceci.
E depois de mais uns cinco minutos um rapaz veio a tirar para dançar, os dois combinavam e ela perguntou se eu me incomodaria de ficar ali sozinha. E eu não querendo ser um estorvo, respondi que ficaria bem.
Caminhei pelo salão do baile, enquanto via e ouvia alguns cochichos que vinham de uma roda de garotas da alta sociedade.
Dei a volta passando por algumas pessoas e andei em direção a varanda que estava vazia. Não tinha ninguém ali, e era mais fresco que lá dentro. Bem melhor. Sentia me sufocada com tantas pessoas e olhares de todos os tipos desde pena até divertimento. Eu definitivamente odiava aquilo. Odiava ser o centro das atenções de todos.
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Diferente Amor (Degustação)
RomanceLilian Farris sempre conseguiu fazer absolutamente tudo sozinha, e se orgulha disso, apesar de ter nascido com uma deficiência na perna o que a faz ter um andar diferente das demais pessoas. É a segunda mais velha de quatro irmãs de uma família humi...