Há quem diga que a vida é feita de momentos; alegres, tristes, perduráveis ou passageiros, mas não passa de uma sucessão de pequenos instantes. E há, também, quem diga que a vida é feita para quem sabe valorizar esses momentos. Particularmente, acredito que a maneira como você escolhe tirar proveito dos curtos instantes que a vida te proporciona é o que molda sua personalidade. Eu, por exemplo, me considero uma pessoa inteiramente racional - ou pelos menos me considerava -, dessas que jamais deixa um momento (ou sentimento) jururu acabar com minha plena felicidade. Entretanto, há momentos em que uma dor passa a ser tão insuportavelmente brutal que se torna humanamente impossível guardá-la para si. Nesse instante, você se sente obrigado a recorrer à origem dessa dor; e foi por este motivo que decidi escrever a você.
Dentre todas as pessoas que já passaram por minha vida, você foi quem mais me magoou. Eu sei que não sou o tipo de pessoa que se magoa fácil, alguns amigos até dizem que isso é culpa do meu signo, o famoso "capricorniano coração de gelo", mas você, apenas você, tem o condão de entrar em minha vida e conseguir transformá-la em um universo desequilibrado e caótico. Parece que você não se importa comigo. Eu me sinto o seu brinquedinho particular: você chega com o seu poder irresistível de fazer as pessoas se apaixonarem, me deixa caidinha de amor, e, após dar bastantes gargalhadas, vai embora e me deixa perecendo em minha intensa e não correspondida paixão.
Você realmente acha que é legal sair por aí apedrejando sentimentos?
De que adianta despertar o amor em alguém se você sabe, desde o princípio, que ele não será correspondido?
Eu poderia estar em algum relacionamento maduro, afetivo e invulnerável, mas não; por sua causa estou presa a um sentimento lancinante que nunca conheceu a reciprocidade de uma paixão. Por falar em reciprocidade, estou certa de que você não conhece essa palavra, e, se conhece, não compreende seu significado, afinal, sair por aí destroçando corações em vão não é uma atitude de alguém que se importe com os sentimentos de outrem. Eu já havia percebido esse seu comportamento pretensioso, por isso tenho fugido de você nos últimos anos; lembro-me do dia em que prometi a mim mesma que não deixaria mais suas escolhas influenciarem minha vida amorosa. Só que você sempre dá um jeito de ressurgir com seu fantasmagórico ar etéreo, esbanjando o inebriante perfume da paixão, e, imediatamente partindo, deixando atrás de si uma nuvem escura que logo se transforma numa tempestade monstruosa de lágrimas.
Já ouvi algumas pessoas falando que amar é sinônimo de sofrer, e, para ser sincera, sempre achei isso a maior besteira; apenas uma desculpa na qual algumas pessoas se apegavam para mendigar a atenção de outras. Mas hoje minha opinião mudou, eu posso confirmar indubitavelmente com todas as letras que, sim, amar é sinônimo de sofrer! Por isso eu me escondo de você, me escondo do amor, me escondo das sensações angustiantes que você me faz sentir, pois nada disso é saudável para a minha saúde psicológica, aliás, não é saudável para a saúde psicológica de ninguém!
Eu havia transformado meu coração em uma clausura cuja função era apenas possibilitar a entrada do sangue oxigenado e direcionar o sangue desoxigenado. Mas você descobriu meu esconderijo, e como se isso não bastasse, arrumou uma forma de adentrá-lo e, como castigo, desferir diretamente em seu âmago uma flecha de paixão descomunal.
Estou tentando escapar desse tortuoso labirinto, busco uma luz no final desse túnel confuso por onde pululam mágoas e recorrentes decepções. Agora sou eu quem está a sua procura, sou eu quem corre atrás de você, quero que você me veja, que me note, quero ser o centro das suas atenções; mas isso é impossível, não é mesmo? É impossível, pois para você eu sou apenas mais uma garota apaixonada na penumbra da sua atenção. Você provavelmente tem coisas mais importantes para fazer do que ficar ouvindo as lamentações de uma pobre-coitada apaixonada. Mas a questão aqui é que a culpa é sua! Estou cansada e tudo é culpa sua! Você fere meu coração e não se importa se eu vou conseguir reconstruí-lo depois.
Sei que é tolice jogar a culpa para outra pessoa, mas não é como se eu estivesse fazendo isso com você, afinal, você sabe que a culpa é inteiramente sua! Eu não pedi para me apaixonar, não quis que uma fagulha de ilusão nascesse no centro do meu peito e transbordasse por todo meu corpo. Dessa vez você me atingiu de uma forma tão letal que conseguiu ludibriar inclusive minha mente racional. É inacreditável que você consiga enganar pessoas invariavelmente resolutas e racionais; me sinto perdida e obtusa em relação a coisas banais, como não conseguir discernir quando alguém está ou não está inteiramente interessado em mim.
Constantemente me pego tentando forjar sentimentos para amenizar a dor, tentando enganar a minha mesma, e assim meu cérebro e meu coração permanecem nessa peleja inacabável, que só despedaça ainda mais meus sentimentos.Devo confessar que, em alguns momentos, eu penso que a culpa é minha; há dias em que sinto falta do amor envolvendo meu coração, dos sorrisos sinceros e das trocas de olhares afetivas. Então, talvez eu também tenha uma parcela de culpa. Talvez nesses fracos momentos eu permita que você volte e me renda aos encantos de uma nova paixão. Estou confusa, já não sei mais quem é o culpado nessa história: eu, você, ou todos aqueles caras cujos corações nunca quiseram me entregar. Na verdade, eu decidi de quem é a culpa: a culpa é sua! É inteiramente sua por ter flechado apenas um coração. E nem adianta ficar ofendido e alegar que apenas está cumprindo seu trabalho. Um bom trabalho requer deixar os clientes satisfeitos, e em relação a isso, meu querido cupido, você tem falhado desde que o mundo começou a ser habitado por seres humanos.
Então, de uma vez por todas, entenda que eu não quero mais ser vítima das suas flechas, não quero que você venha até mim para me trazer sentimentos com os quais eu não sei lidar. Não quero sentir, não quero amar; eu não preciso de você, eu sou feliz sozinha! Isto é um adeus, minha decisão já foi tomada e não há volta. O cordão que nos unia está sendo rompido com esta carta, meu coração foi novamente fechado para visitas.
Isto é um adeus, até que a sua teimosia nos una mais uma vez.
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Crônicas
AcakSabe aqueles dias em que você não tem nada pra fazer e decide escrever sobre nada em especial, sobre tudo que não faz sentido ou simplesmente criticar algo que está o incomodando? Então, Publicarei aqui todas as crônicas que escrevi/tenho escrito no...