Taste of Ink｜kth + jjk

Ⅰ｜Ⅱ

Jeongguk esteve trabalhando para Sam Yong Pa desde quando tinha doze anos de idade. Ele começara com coisas simples, mensagens que não poderiam ser enviadas por telefone ou e-mail, a não ser que quisessem que as informações chegassem à polícia e os negociantes fossem presos. Ele corria por Busan em um skate com um envelope enfiado no cós de seus jeans, escondido dos olhos alheios pela barra de suas camisetas. Quando ele completou quatorze anos eles decidiram que ele era suficientemente de confiança para começar a entregar coisas mais importantes que mensagens, e ele entregou drogas pela primeira vez apenas três dias após seu aniversário. Milagrosamente ele conseguiu fazer isso sem fuder com tudo, o que havia sido um feito e tanto visto que ele estava tremendo tanto que ele ainda não conseguia acreditar que não havia sido preso naquele dia. Ele nem se quer precisou de muito tempo para se acostumar com o novo método, já que na verdade, ele nunca havia quebrado nenhum acordo. Não, ele apenas transportava as drogas e recolhia o valor combinado em envelopes. Caso ele voltasse com um pouco de dinheiro faltando, não era bem sua vida que estaria em jogo, e sim a do pobre filho da mãe que tentara se esquivar da própria negociação: e com os envelopes identificados, não era tão difícil descobrir quem fora.

Sam Yong Pa era a maior gangue de Busan, e também a mais conhecida de todo o país. Eles tinham acordo com as delegacias locais de praticamente todas as regiões, e possuíam representantes em outros países também, como Rússia, Brasil e China. O território deles cobria diversos distritos em Busan, mas o distrito no qual se encontrava seu sindicato era Haeundae-gu. A região possuía uma das maiores concentração de pessoas, já que era cercada por praias maravilhosas, várias lojas e alguns templos históricos. E junto com essa multidão movimentada de turistas vinham diversos vícios: drogas, prostituição, jogos de azar. De fato não havia nenhum distrito melhor que esse na região, a não ser o do sindicato principal, que ficava em Busanjin-gu. Jeongguk nunca esteve nesse distrito já que ele gostava de Haeundae-gu o suficiente para jamais querer se mudar. Não havia problemas em seu distrito, não havia nenhuma gangue rival tentando arrumar confusão pelas ruas como acontecia nas outras regiões. Eles estavam relativamente longe dos problemas, e ele gostava que fosse assim. Isso significava que correr pelo distrito era bem mais seguro para começar, não havia porque se preocupar com nenhum delinquente tentando atacá-lo apenas por chegar um pouco perto demais do território deles.

É, ele gostava bastante de Haeundae-gu, era a coisa mais próxima que ele tinha de um lar.

Jeongguk havia fugido de casa apenas quatro dias antes de acabar entrando na Sam Yong Pa. Com uma mãe alcóolatra e um pai que nunca estava presente, já que ele estava ocupado demais trabalhando e gastando seu tempo com suas outras três namoradas, ele apenas decidiu um dia entrar em um ônibus e ver onde ele acabaria parando. Por sorte ele acabou parando em Haeundae-gu, mas infelizmente sua sorte não durou muito tempo. Voltando àquela época, era inverno, e ele se lembra de passar horas vagando pelas estações de ônibus e metros, apenas porque era quente dentro das construções e ele não precisava ficar perambulando pelas ruas. Durante as primeiras duas noites ele foi salvo do inverno doloroso pelos seguranças bondosos que apenas o ignorou durante suas inspeções noturnas, mas então ele acabou voltando para as ruas no final do terceiro dia. Naquela noite era véspera de Natal e ele estava congelando sua bunda em um banco estúpido de uma praça, pensando no quanto seu plano havia falhado miseravelmente, quando um jovem rapaz se sentou na outra ponta do mesmo. De primeira Jeongguk apenas o ignorou, mas quando ele percebeu que o outro estava o encarando por tempo demais para ser considerado normal, ele se virou para olhá-lo, e foi então que ele conheceu Min Yoongi.

O rapaz estava coberto por diversas camadas de roupa, um casaco grosso por cima de uma jaqueta jeans, o tecido fino de um cachecol estava visível e enrolado ao redor de seu pescoço, cobrindo a parte de baixo de seu rosto também. Dava para ver um pouco do seu cabelo preto saindo por debaixo da touca, e Jeongguk apenas conseguia enxergar seus olhos que olhavam diretamente para ele. Olhos pequenos, de alguma forma mais velhos do que sua verdadeira idade, mais tarde Jeongguk descobriria que ele tinha apenas dezessete. Jeongguk ficou o encarando e esperando para ver o que ele tinha para dizer, mas o rapaz apenas se levantou e tirou seu casaco. E então ele se aproximou e colocou-o sobre seus ombros.

Jeongguk estava para descobrir que Yoongi era, na verdade, um rapaz muito estranho.

Yoongi não precisava tê-lo ajudado naquele dia, mas ele ajudou. Ele não precisava tê-lo dado seu casaco, que claramente havia lhe custado muito dinheiro, mas ainda assim ele deu. E ele não precisava tê-lo perguntado quando havia sido a última vez que ele comera algo, mas ele perguntou. Jeongguk também não tinha nenhuma razão para ter falado com ele ou se quer confiado nele, mas ele o fez mesmo assim, e de forma tão rápida que era até vergonhoso. Ele podia ter apenas doze anos de idade naquela época, mas Jeongguk sabia muito bem sobre o perigo de se confiar em estranhos, e o tipo de pessoa que aborda uma criança e mostra tamanha bondade, provavelmente possuí algumas razões distorcidas por trás de seus sorrisos. Mas Yoongi havia lhe dado seu casaco, um casaco quente que cheirava como colônia e cigarros, e ele o oferecera um prato de comida quente, e ele imediatamente aceitou a oferta. E então o rapaz ­— na época ainda um adolescente — o guiou para fora daquele parque e através das ruas ainda desconhecidas, mas de alguma forma encantadoras, do distrito e eles acabaram entrando em um restaurante.

Foi ali que Jeongguk começou a notar algumas coisas muito interessantes sobre Yoongi. Foram as tatuagens que cativaram seu olhar primeiramente, quando ele retirou sua jaqueta jeans, já que ele nunca havia visto ninguém com tatuagens de verdade antes, apenas falsas em filmes e revistas. Naquela época havia apenas algumas no seu antebraço: o contorno de um dragão, que mais tarde seria preenchido com tinta verde e vermelha, Hangul em uma fonte tão antiga que ele nem se quer fora capaz de ler o que estava escrito sobre a pele. Agora ele tinha muito mais que essas. Yoongi falara com um acento que revelava que ele não era de Busan e ele falava de uma forma que parecia rude demais para os seus ouvidos. E ele ainda possuía dinheiro, muito dinheiro, e ele não soava ou parecia educado o suficiente para estar em uma posição de CEO. Através de tigelas de kimchi jigae e acompanhamentos de japchae e kalbi, Jeongguk tomou nota de outras coisas também. Ele observou como as únicas pessoas dentro do estabelecimento eram homens e todos muito bem vestidos: todos usavam ternos, com exceção dele e de Yoongi, todos tinham um relógio nos pulsos e um óculos escuro pendurado na gola das camisas. Ainda assim ele não deu muito importância para isso e apenas se concentrou no rapaz a sua frente, que havia sido literalmente seu salvador.

Depois do jantar veio a promessa de um lugar para passar a noite, um lugar que não fosse uma estação de ônibus. Ele devia ter tirado conclusões precipitadas disso, um estranho prometendo para ele uma cama onde dormir depois de tudo que já havia feito, mas Jeongguk estava tão exausto devido aos últimos dias que ele acabou apenas o seguindo sem nem ao menos se importar. Yoongi poderia ter sido um pervertido, um serial killer, mas ele acabou sendo algo totalmente diferente.

Min Yoongi trabalhava para Sam Yong Pa, e sua especialidade era extorsão. Ele sabia como arrancar dinheiro de absolutamente qualquer pessoa, e muitas vezes ele se quer precisava quebrar algumas pernas para conseguir isso. Ele não era um delinquente qualquer, pois ele tinha um cérebro. Ele não possuía estatura ou peso suficiente para fazê-lo parecer ameaçador, mas ainda assim, havia algo em sua face que mostrava que ele não era o tipo de pessoa com a qual você gostaria de mexer, então como resultado, ele quase sempre conseguia o dinheiro de forma fácil. Donos de clubes, garotos de programa que se quer tinham ligação com a gangue e clínicas de aborto ilegais, ele tinha uma lista de clientes que ele gostava de chamar de "regulares". Yoongi apenas sabia exatamente o que dizer para fazer uma pessoa começar a suar frio, e apesar de Jeongguk nunca tê-lo visto trabalhando, ele havia presenciado diversas de suas discussões com outros membros da gangue, e todos eles se calavam assim que Yoongi abria sua boca. Então, ele o levou para o alojamento naquela noite, e no dia seguinte ele já era um membro não oficial da Sam Yong Pa, e pouco tempo depois ele começou a entregar as mensagens e desde então estava encarregado de transportar as drogas.

Já havia se passado aproximadamente seis anos desde que Yoongi o tirara das ruas, e ele ainda não havia o pedido para pagá-lo de volta aquele primeiro jantar.