Taste of Ink｜kth + jjk

Ⅰ ｜Ⅳ

Como ele presumira o sétimo cliente estava atrasado, quase dez minutos para ser exato, ele gastou esse tempo andando por Dongbaek-ro antes de decidir se sentar em um dos bancos de uma pizzaria. Quando o homem finalmente apareceu ele estava visivelmente bêbado e pareceu não ver problema algum em coletar sua encomenda ali mesmo, no meio da rua, então Jeongguk foi obrigado a arrastá-lo para um lugar menos movimentado e adverti-lo furiosamente por isso. Ele já havia tido alguns clientes idiotas no passado, normalmente iniciantes que não queriam causar uma cena, mas que acidentalmente acabavam atraindo ainda mais atenção para si mesmos quando tentavam ser discretos, mas isso, isso era algo novo. Ele já havia trabalhado com esse cliente antes, mas não conseguia acreditar que ele havia sido estupido o suficiente para aparecer num estado como esse.

— É cara eu sei, eu sei, eu só tive um dia difícil, entende? — Jeongguk o olhou de forma irritada enquanto tirava o envelope da mochila: Hongsuk. Ah, ali estava a cocaína que Seungyoon dissera não ter na bolsa. O envelope estava claramente preenchido com a dosagem usada para cocaína e não maconha, claro o suficiente para que ele soubesse que pegaria uma grande quantia de dinheiro em mãos em alguns minutos. — Minha garota me deixou... de novo.

— Eu 'tô falando sério, da próxima vez, se você aparecer de novo nesse estado eu vou quebrar o contrato. É muito perigoso. Eu vou me arriscar tendo que explicar tudo para o meu chefe, mas pelo menos não vou correr o risco de ser preso por conta disso.

— Claro cara, você tem razão, isso não vai acontecer de novo. — Hongsuk sorriu para ele, e quando o fez, um de seus olhos tremeu levemente. Jeongguk estudou sua aparência destruida antes de pegar o envelope que ele o estendia. Então ele o estendeu seu próprio envelope e o assistiu colocá-lo na parte de trás de seus jeans, puxando a camiseta para baixo para escondê-lo. E então Jeongguk saiu, descendo a rua em passos rápidos, tirando a lista do bolso para poder examiná-la e saber o local da próxima entrega.

Gunnam-ro. Depois Jungdong 1-ro. E depois Jwadongsunhwan-ro. Ele viu que quando chegasse a hora do décimo cliente ele teria que refazer todo o caminho de volta a Dongbaek-ro. Isso foi o bastante para fazê-lo suspirar de forma irritada, mas pelo menos ele já estava quase no final da lista, e teria tempo suficiente para finalizá-la. Quando ele enfim terminasse poderia voltar para o alojamento e descansar seu corpo dolorido, e, talvez, Yoongi já estivesse de volta com o lámen que o devia. E então ele poderia comer três tigelas do macarrão e por fim dormir em uma cama de verdade, e não em um sofá quebrado. Ele estava tão distraído com seus próprios pensamentos que quando viu alguém vagando pela área foi trazido de súbito para realidade, e então ele desceu de seu skate, pegando-o em mãos. Ele nunca havia visto ninguém andando perto dali antes, visto que se tratava de uma estrada aberta que se ligava a rodovia que levava a Suyeong-gu. Não havia se quer um ponto de ônibus por perto e a pessoa, um jovem, estava parado não muito longe de onde ele teria que fazer sua entrega: um pequeno retorno no fim da rua. Jeongguk estava carregando seu skate na dobra interna de seu cotovelo quando começou a andar pelo último trecho da calçada, e foi então que o rapaz virou para olhá-lo.

— O que um empregadinho da Sam Yong Pa está fazendo por aqui, huh? — O rapaz disse parando a sua frente, as mãos enfiadas nos bolsos e a cabeça direcionada levemente para cima para conseguir encará-lo. Ele tinha que levantar um pouco a cabeça já que era alguns centímetros menor que ele, mas Jeongguk percebeu que ao invés de isso fazê-lo parecer fraco, fazia-o parecer corajoso e superior. Ele pensou que soava realmente idiota que esse garoto – que devia ter no máximo dezenove anos – estivesse bloqueando seu caminho e ele também estava surpreso com o fato de ele saber que ele pertencia a uma gangue, e claro, irritado pelo encontro inconveniente.

Dongbaek-ro era território deles. Do que esse cara estava falando?

Jeongguk parou silenciosamente a sua frente, analisando-o. A cor de seu cabelo era de um vermelho tão vivo que parecia clamar por atenção, bagunçado e puxado para trás, de uma forma que fazia parecer que os fios eram irritantemente arrumados pelos seus dedos a todo o momento. As mechas se destacavam muito se comparadas às suas roupas: blusa branca e jeans preto. Ele provavelmente estava usando uma jaqueta antes, mas agora ela estava amarrada ao redor de sua cintura devido ao calor do dia, uma jaqueta velha, no mesmo tom de vermelho que seu cabelo. Havia uma mochila preta balançando ao redor do aperto de sua mão direita ao invés de estar em seus ombros. Jeongguk olhou para sua mão e viu uma tatuagem no espaço entre o dedão e o dedo indicador: preta e simples, mas gritante o suficiente para chamar-lhe a atenção. Ah merda, ele não tinha apenas esbarrado com um cara idiota, ele tinha esbarrado com o entregador de drogas da Geum Sung Pa. Não tinha como ter dúvidas já que havia outra estrela tatuada no seu antebraço, no mesmo lugar onde ficava o dragão de Yoongi. Era apenas o contorno de uma estrela e ele podia ver iniciais gravadas dentro dela: KTH PJM.

— Olha, eu só estou aqui para fazer uma entrega. — Jeongguk disse enquanto arrumava a alça de sua mochila. — Eu não sou um empregadinho da Sam Yong Pa, eu só estou fazendo meu trabalho.

— Talvez eu esteja fazendo meu trabalho também? — Ele estudou seu rosto e chegou a conclusão de que ele era bonito o suficiente para estar em um daqueles clipes que passavam nos telões do centro da cidade. O garoto tinha olhos redondos e um nariz delicado com uma pequena bolinha na ponta, a boca parecia tão cheinha e macia que Jeongguk apostaria que ele usava milhões de hidratantes e esfoliantes nela. Ele parecia o tipo de cara que armaria a maior cena de todas caso alguém não o achasse atraente, Jeongguk estava certo disso.

— Ah é? Então vá fazer o seu e me deixe terminar o meu-

— Woah, woah, espera ai. — As mãos do garoto deixaram seus bolsos enquanto ele andava em sua direção, espalmando-as sobre seu peito. Jeongguk deu um passo para trás, respirando fundo. — Você simplesmente vai fugir?

— Eu não sou nenhum bandido, sou só o entregador. Você também é, eu posso dizer só de olhar para a sua mochila. — Jeongguk disse e o rapaz olhou para baixo, para a bolsa em suas mãos, e então de volta para ele. Depois de alguns segundos de silêncio ele se virou para encarar a estrada, levando uma mão até cabeça para correr seus dedos através dos fios de seu cabelo, assim como Jeongguk havia imaginado. Isso o deu a visão de mais uma tatuagem, atrás de sua orelha direita, uma estrela dourada com alguns detalhes em preto para criar uma ilusão 3D. — Se você quiser brigar, então a gente pode brigar, mas sinceramente, eu preferiria apenas fazer minha entrega e ir embora. Pode me chamar de covarde, eu não ligo.

— ... Não cara, você não é covarde. — O garoto saiu de sua frente e acenou para que ele passasse. — Eu só queria ter certeza de que você não fosse tentar me atacar.

— Eu passo.

— Ótimo, meu amigo te mataria caso você tentasse.

— É? Eu não vejo nenhum amigo seu por aqui agora. — Jeongguk respondeu, enquanto se preparava para continuar seu caminho pela estrada. Ele estava pensando que o amigo desse cara poderia muito bem acabar com ele se quisesse, mas teria que enfrentar Yoongi depois. Yoongi acabaria com ambos apenas por olhá-lo de forma torta. Ele esperava que o rapaz fosse ficar irritado e começasse a argumentar, mas ele apenas rio e mostrou-o o dedo do meio.

— Vá se ferrar garoto. Vá fazer sua entrega e dê o fora daqui.

— Prazer em te conhecer também. — Respondeu de forma irônica.

Jeongguk subiu de volta em seu skate e começou a descer a rua, em direção ao retorno. Sua cliente apareceu alguns minutos depois, encostando sua moto na calçada para que eles pudessem trocar os envelopes sem que ela precisasse engatar o veículo, seu rosto estava escondido atrás de seu capacete. Ela enfiou o novo envelope dentro de sua jaqueta e lhe fez um sinal positivo com uma das mãos, e ele a assistiu se retirar antes de checar a lista novamente. Cheongsapo-ro. Ótimo, mais um caminho longo pela frente. Ele subiu de volta em seu skate e se virou para ver que o rapaz da Geum Sung Pa ainda estava parado no mesmo lugar. Ele rio de forma anasalada consigo mesmo antes de prosseguir para o destino de sua próxima entrega.