3- O treinamento inconsciente

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Naquela semana, Elisa conseguiu se concentrar mais nas aulas, apesar da ansiedade em voltar ao Bosque no final de semana. Parecia que ao prestar atenção o tempo passava mais depressa. As outras meninas estavam parando de incomodá-la, mas também não se aproximavam. Pelo menos ela podia ficar em paz. Quando chegava em casa ia direto ao quintal de casa para molhar seu jardim, que logo no segundo dia já mostrou seus primeiros brotos. Gostava de ir com a irmã para ver o crescimento das plantas e conferir quais os novos ramos haviam despontado. Roberta até comprou um adubo para ajudar no crescimento do jardim ao ver o entusiasmo das meninas. Elisa nem pareceu sofrer muito com o castigo de ficar sem o computador e mesmo quando a punição acabou já não ficava mais tanto tempo na frente da tela.

Finalmente o sábado chegou. Ela já estava de pé bem antes dos pais, com sua lupa, o canivete e por algum motivo que não sabia explicar, também estava com seu visualizador em mãos. Não sabia se podia precisar de suas ferramentas mas achou melhor tê-las por perto. A runa ainda estava invisível, por isso estava ansiosa para saber se iria brilhar de novo ao chegar ao bosque. Quando chegaram, Elisa se despediu dos pais e partiu correndo pela trilha. Correu até chegar à ponte onde viu Barok sentado como de costume. Desta vez ele não estava muito disposto a acordar, somente olhou de relance para a menina, esboçou um aceno de cabeça e voltou a dormir. Ela então procurou o porto onde havia deixado o barqueiro no fim de semana anterior e viu um jovem que pescava de seu barquinho. Dessa vez não houve surpresa nos olhos do estranho. A história da garota já havia se espalhado:

- Você é a menina que ajudou Fillian no barco e salvou a nobre Liana das garras dos aracnídeos! Que prazer em te conhecer. Me chamo Lienz. Posso fazer alguma coisa por você?

- Eu queria encontrar Liana de novo. Ela disse que me mostraria um pouco mais do mundo de vocês da próxima vez que nos encontrássemos.

- Ah... Acho que vai ser difícil. A guarda de honra está ocupada tentando eliminar as aranhas malignas. Foi Liana quem encontrou uma maneira segura de vencer as aranhas.

- Mas ela disse que ia me encontrar. Ela tinha até desenhado uma coisa na minha mão mas parece que já sumiu...

No momento que falava isso abriu a mão e viu a runa brilhando em sua mão. Lienz exclamou:

- Isso é uma runa de proteção real! É uma grande honra. Ela com certeza sabe que você está aqui. Eu ficaria honrado em te mostrar um pouco mais do nosso mundo. Mas para isso é preciso fazer um pequeno ajuste.

Ao dizer isso o pequeno ser vivo tirou um estranho pó de sua bolsa que estava amarrada no cinto, esfregou-o nas mãos enquanto murmurava um encantamento e soprou o pó em direção à garota. Com um estranho formigar no corpo, Elisa viu os objetos à sua volta ficarem cada vez maiores. Quando se deu conta, estava olhando Lienz de baixo para cima, foi quando percebeu que na verdade não foram as coisas que cresceram, mas sim ela que diminuíra. Ele lhe estendeu a mão e a ajudou entrar no barco.

A jovem olhou a embarcação com atenção. Não era de madeira, parecia um material mais leve, verde, que dava ao barco a aparência de uma folha. No centro havia uma vela, também verde, com um leme na popa do barco. O barqueiro era um jovem louro, de olhos verdes, vestindo uma bota marrom, assim como sua calça, e uma camisa amarela. Tinha uma aljava nas costas e viu o arco cuidadosamente apoiado no mastro. Reparou que ele não tinha asas, assim como Fillian da semana anterior. Ele empurrou o barco para o meio do rio e içou a vela para começarem a navegar:

- Hoje está um dia bom para passear pelo rio. O reflexo do sol na água sempre me deixa animado. Elisa é o seu nome não é? Que prazer te conhecer. Nossa comunidade tem muito a te agradecer. Não sei o que faríamos sem Liana. Ela é uma das melhores guerreiras da guarda de honra. Alguns dizem que é a mais habilidosa com a lança. Mas deixe isso para lá. Vamos aproveitar nosso passeio. Quer comer alguma coisa? Sabe, nós não somos obrigados a comer como vocês humanos, a luz do sol, da lua e das estrelas fornece toda a energia de que precisamos. Mas comer é tão bom. Então tudo o que comemos é somente por prazer, por isso tudo é muito gostoso. Vamos, experimente esse mousse que eu trouxe comigo. É um prazer dividir com você. Muito bom não é? É feito com seiva de salgueiro, e fruta da rainha.

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