"Red, a world about to dawn!
Black, the night that ends at last!"
- Les Miserables.O céu estava laranja naquele fim de tarde. Havia se tornado nossa tradição a poucos meses, em algumas quintas-feiras, íamos as margens do Seine, Apolo roubava o barco de seu tio e nos escondiamos nele até o amanhecer. A idéia de desrespeitar o toque de recolher deixava o encontro sempre excitante.
- Faz duas horas que você luta contra esse nó, Apolo. Venha vigiar e me deixe resolver o problema! - disse impaciente olhando para os lados a procura de guardas.
- Exagerada como sempre... - seu cabelo loiro se mexia enquanto ele ria e amaldiçoava a corda que prendia o barco ao píer, atentei-me uns instantes nas veias saltadas em seus braços e pescoço devido a força que fazia, por que raios isso era tão atraente em homens?
Apolo e eu nos conheciamos desde os 7 anos, estudamos juntos, crescemos juntos. Nossas famílias se conheciam e até ajudavam umas as outras em momentos de dificuldade. Apolo era um Greece, dizem por ai que os Greece são um dos mais antigos que ainda existem, originários da Grécia, nossos sobrenomes identificavam nossos lugares de origem e os Greece eram extremamente raros, não mais do que os Americas. Sua família costumava nos contar sobre os mitos gregos quando erámos crianças, coisas sobre os deuses como o que inspirou seu nome, deus Apolo que dirigia a carruagem do sol, e como era seu país antes de ser destruído a anos e anos atrás. Eu por outro lado, era uma France, mais comum impossível, as histórias sobre os France são escassas e comuns, sem deuses, sem magia, só umas guerras perdidas e construções famosas que hoje são ruínas.- O que acha de comermos aqui mesmo? - disse Apolo chamando minha atenção.
- Não acredito que ainda não desatou esse nó...aposto dois tins* que consigo desfaze-lo em 10 minutos - disse já descendo as escadas em direção ao barco.
- Tudo bem, aposto três que não consegue!
A partir de então tudo passou em um borrão, senti uma ferroada em meu braço e vi vultos escuros logo atrás de Apolo, quando voltei meu olhar novamente para ele o vi cair no chão desacordado e senti minha visão embaçar enquanto vozes gritavam ao meu redor, em instantes eu não via nada....
Nunca gostei do mar, quando recuperei meus sentidos deitada contra o chão molhado do barco, sentindo o balanço assustador e o cheiro salgado do mar, levantei-me o mais rápido possível me forçando a raciocinar, eu estava tonta com meus sentidos ainda adormecidos, olhei ao redor sentindo as gotas violentas da tempestade contra minha pele e vi Apolo deitado inconsciente no chão ao meu lado.
- Apolo acorde! APOLO ACORDE! - gritei desesperadamente vendo as ondas altas vindo em direção ao barco.
Corri até a cabine tentando desesperadamente afastar o banco das ondas, o choque do barco contra a água o fez se erguer de maneira assustadora me derrubando contra a porta da cabine, senti o baque da minha cabeça na quina da porta e em instantes meu corpo se desligava novamente....
Meus pulmões queimavam, senti meu corpo se contorcer expelindo a agua salgada do mar queimando minha garganta, quando abri os olhos senti minha visão agredida pela forte luz do sol, ao cobrir o rosto com a mão a vi suja de areia, estava em terra firme.
- Olhe Alexander, nossa convidada de honra acordou - virei-me em direção a voz feminina vinda de trás de mim.
A garota mexia em algo aparentemente afiado de maneira um tanto descuidada, sua pele cor de café e seus cabelos enrolados destacavam-se contra a areia e as arvores atras dela, onde eu estava afinal? E Apolo...
- Onde está Apolo? Onde ele está? Me leve até ele! - disse me levantando cambaleando sentindo a dor excruciante em minha cabeça.
- Calma ai, calma ai, seu amigo esta bem, o levamos para a cabana...- ela disse se aproximando colocando os braços ao meu redor me dando apoio. - - Você fez um machucado feio ai...
- Vamos cuidar disso lá dentro - olhei assustada pela intromissão repentina para o dono daquela voz grave sentindo me momentaneamente tonta de novo.
Me deixei ser guiada até a construção surpreendentemente grande que associei ao que a garota chamou de "cabana". Eu me sentia fraca, como se todos os meus muscúlos tivessem sido moídos, mas o estado de alerta e o medo inegável me mantinham acordada. Ao adentrarmos as portas da cabana vi varias camas, enfileiradas feitas de madeira, em um canto afastado os cabelos claros de Apolo se destacavam, corri até ele me desvencilhando dos braços da garota.
- Oh meu Deus...Apolo, acorde Apolo... - de alguma forma vê-lo desacordado juntamente com a cofusão toda do dia foi a gota d'água, me lancei sobre seu peito e chorei pelo medo do desconhecido.
Ouvia vozes atrás de mim mas ignorei qualquer comentário sobre minha situação, se eu perdesse Apolo, perderia tudo, mas se ele acordasse seria a força necessária para que eu enfrentasse qualquer caos que cruzasse nossos caminhos. Sequei meus olhos e toquei seu rosto, seu peito subia e descia calmamente, a única calmaria no turbilhão de informações que me atingiram em tão pouco tempo.
- Apolo...acorde! Por favor acorde...
- Ele não está morto, você sabe... - a garota disse se aproximando, me voltei e sua direção.
- O que são vocês? Governo? Nós não fizemos nada de errado! Aquele barco não é roubado! Deixe-nos voltar para casa, por favor!
Sentia meus pensamentos confusos, meu cérebro tentava preencher as lacunas, seriam reais então as punições absurdas que o governo Jung aplicava aos prisioneiros? Estaria tudo aquilo acontecendo apenas na minha mente como algum tipo de tortura?
- Governo? - ela riu de maneira exagerada - Bom, talvez eles tenham te largado por ai mas nós... - disse ela gesticulando para o garoto encostado no batente da porta observando - ...estamos longe do governo.
- O que são vocês então? Que lugar é esse? Eu sei que não estamos em France!
- Eu sou Awiti Africa, este é Alexander, nós somos os rednax, e você está na América.
América? Oh não, algo estava seriamente errado com aquelas pessoas! América havia sido destruída a muitos e muitos anos antes! Isso era completamente incabível! Rednax, o grupo de rebeldes extintos a tanto tempo? Não fazia sentido, nada daquilo fazia. Organizar os pensamentos parecia tomar toda a energia que restava de meu corpo, voltei meu olhar para Apolo e segurei sua mão, precisavamos voltar para casa, para a normalidade.
- Descanse...você precisa descansar, nós cuidaremos de você...
- Até eu voltar pra casa? - meus olhos embaçavam, minha cabeça parecia pesar toneladas, a garota indicou á mim a cama ao lado de Apolo, me deitei lentamente, vencida pela exaustão.
- Oh querida...você não vai voltar para casa...* "tins" moeda.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Vermelho antes do amanhecer
General Fiction- Nós vivemos no presente sem perspectiva do futuro. Vivemos na escuridão da incerteza e do desalento - Alexander varreu o local procurando por Aurora, o pequeno vislumbre de seus olhos brilhantes e sorriso encorajador seria o bastante para enfrenta...