""A cor da dor é o vermelho sangue, seu gosto é o de metal amargo, seu som é de uma voz gritando no fundo da alma"
- Wolverine- America? - Apolo que se manifestou dessa vez, aparentemente tão chocado quanto eu.
- Sim, Alexander America. Eu sou o líder dos rednax.
- Como você é o lider de um bando rebelde lendário sendo tão novo? - declarei incrédula tendo como resposta um revirar de olhos irritado de Alexander.
- A fé que coloca em mim é animadora! - disse com a voz carregada de sarcasmo. - Eu fui criado para liderar os rednax, nós escolhemos nossos líderes por votação, não é como o seu governo sujo e hipócrita que põe quem bem entender no comando de um país para manter regras irracionais.
Apolo e eu nos entreolhamos, eu nem sabia como prosseguir aquela conversa.
- Certo, vejam...nosso grupo existe a muitos anos, nos concentravamos ao norte da Europa e faziamos pequenas manifestações organizadas contra o governo, meus pais fundaram a rednaxela, eles tinham livros que contavam sobre o governo da America antes de ser destruída pela Corásia...Livros são como um caderno onde alguém escreve sobre história para deixar marcado através dos tempos - explicou ele ao perceber nossa confusão. - enfim...o governo não gostava dessas manifestações, colocaram infiltrados em nosso grupo para nos destruir, eles nos isolaram aqui, na America para livrar a população de seres pensantes, questionar é o primeiro passo para a destruição do poder, e nós questionamos. Aparentemente vocês também, ou não estariam aqui. Percebemos que todos os que chegam aqui são de alguma forma simpatizantes de nossa causa.
- Isso não faz sentido... - balancei a cabeça me sentindo perdida com tanta informação, busquei os olhos de Apolo que encarava o chão aparentemente processando todas as informações.
- Faz sentido Aurora, seu pai sempre nos contou histórias sobre os rednax, lembra de quando fomos punidos na escola por questionar sobre a Grande Guerra? Eles nos observaram todo esse tempo, eles sabiam de nossa indignação por nosso estilo de vida.
Fui até a cadeira ao lado de Alexander e me sentei sentindo as peças se encaixarem em minha cabeça, nossa mínima simpatização com a causa rebelde havia nos levado até ali.
- Rednaxela...é o contrário de Alexander não é? - levantei meu olhar até ele. - Como voltaremos para casa?
- Vocês ainda querem voltar? Depois de saber de tudo isso você ainda pretende voltar? - ele riu com escárnio balançando a cabeça negativamente.
- Ele está certo Aurora, nós não podemos voltar, imagine só o que farão conosco - ele se aproximou e afagou minhas mãos calmamente.
- Não! E nossos pais Apolo? Eles nos largaram nesse...nesse fim de mundo por uma besteira dessas! Não! Isso não é certo, eu...eu não sei o que fazer... - me sentia exausta de repente, se voltasse poderia ser morta, se ficasse nunca mais veria minha família, minha cabeça girava em confusão, não conseguia raciocinar, não tinha nem certeza se queria.
- Leve sua namorada para a Cabana...
- Nós não somos namorados... - resmungou Apolo.
- Tanto faz, descansem, retomamos essa discussão pela manhã.
Agradeci mentalmente por ele ter dado um fim naquilo, precisava de um tempo para organizar os pensamentos, sai sem esperar por Apolo e andei em uma direção qualquer para dentro da floresta, precisava ficar sozinha o mais rápido possível, me sentei em uma árvore caída quando me achei longe o suficiente para ninguém me seguir.
Eu nunca mais voltaria para casa, nunca mais veria meus pais, viveria ali pelo resto da vida planejando ações revolucionárias que nunca se concretizariam. Me sentia mais cética do que jamais fui, e isso me trouxe uma sensação horrível, aquelas pessoas foram isoladas de sua vida por ter uma ideologia contrária ao governo, foram isoladas por terem sonhos, isso não era justo, isso não era certo, eu não estava certa de desprezar os ideais de outros, isso não me faria muito diferente daqueles que a pessoas ali lutavam contra.
Sequei o rosto imediatamente decidida a me esforçar para entender aquelas pessoas, imaginei como meu pai poderia ser facilmente um deles, o que ele faria em meu lugar? Agradeci aos céus por ter Apolo ali comigo, ele me daria a força que precisaria, se fosse necessário lutar, nós lutaríamos. Só o que precisava agora era me lembrar de onde vim, olhei ao redor e todas as árvores pareciam iguais, direita ou esquerda?
- Você está perdida? - me virei assustada em direção a voz, o garoto não parecia ter mais de 22 anos, seu corpo era coberto por desenhos e seus cabelos eram curtos e loiros, ele carregava um rifle de caça.
- Não estou perdida...eu acho - ele me olhou de forma questionadora. - Certo, talvez eu esteja
- Siga-me.
Depositar confiança em tantas pessoas desconhecidas começava a me deixar incomodada mas decidi que essa seria minha melhor chance de voltar ao acampamento, então comecei a segui-lo pela floresta. Andamos por volta de 10 minutos, não tinha noção de ter andado por tanto tempo, mas achei que contrariar alguém com uma arma tão grande não era uma boa idéia. Agradeci aos céus quando chegamos até os dormitórios.
- Obrigada por me trazer de volta - disse de maneira gentil recebendo apenas um aceno rápido positivo, o rapaz logo se virou e seguiu seu caminho.
Pelo jeito nem todos os rebeldes eram gentis como Lizbeth ou Awiti.
Bastou perguntar para a primeira pessoa que cruzou meu caminho onde estava Apolo para achá-lo, seguindo as coordenadas acabei na praia.
Ele observava o mar, seus cabelos voavam ao vento. Sentei-me ao seu lado sentindo seu olhar sobre mim enquanto observava o último resquício de sol que já se punha.
- É uma linda vista.
- Sim, uma linda vista - ele disse ainda me encarando, voltei-me a ele e sorri minimamente.
- O ponto alto de nossa vida era roubar o barco de seu tio, e agora olha onde estamos? Na America! - ele riu verdadeiramente e pela primeira vez desde que chegamos a tensão deixou seu corpo por poucos segundos - Você sabe que se você quiser voltar para casa eu vou com você, não é? - assenti mexendo a areia. - Eu te seguiria até o fim do mundo Aurora. - declarou estendendo a mão, entrelacei nossos dedos e de certa forma eu sabia, sempre fora eu e Apolo, era a única constante numa vida, que de repente, era cheia de mudanças.
- Não podemos voltar, imagine o que fariam conosco se voltassemos?
- Era nisso que eu pensava, não podemos correr o risco, temos que continuar aqui, mesmo que a idéia de ser comandado por aquele..Alexander...me incomode - ele riu secamente.
- Ficamos então, Apolo.
- Ficamos então, Aurora.
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Vermelho antes do amanhecer
General Fiction- Nós vivemos no presente sem perspectiva do futuro. Vivemos na escuridão da incerteza e do desalento - Alexander varreu o local procurando por Aurora, o pequeno vislumbre de seus olhos brilhantes e sorriso encorajador seria o bastante para enfrenta...