"O que será ser só
Quando outro dia amanhecer?
Será recomeçar?
Será ser livre sem querer?"
- Chico Buarque
Me surpreendi ao perceber que já havia me acostumado com a cama do acampamento, haviam se passado alguns dias que estávamos ali mas ainda andava me surpreendendo demais, isso já podia parar. Despertei com a luz do sol naquela manhã, Apolo, que dormira na cama ao lado, já não estava lá. Me levantei devagar ajeitando o cabelo do jeito que dava e me assustei ao ver Alexander novamente na cadeira ao pé da minha cama lendo o que eles chamavam de livro. Ao notar meu susto ele ergueu os olhos e arqueou a sobrancelha.
- Por que raios você está aqui de novo? - perguntei repentinamente nervosa, odiava ser observada.
- Você está na minha cama, e é meu dever até me certificar que vocês não são mandados do governo.
Eu entendia sua preocupação, não me sentia com direito a reclamar de sua cautela.
- Onde está Apolo?
- Refeitório. - disse ele voltando sua atenção ao livro.
- Você está bem? Parece cansado...- ele me encarou como se eu fosse verde e de outro planeta.
- Sim, estou bem - respondeu secamente, ora, o que tinha de errado em perguntar se alguém estava bem? Dei de ombros e fui até o refeitório.
Apolo conversava com um grupo de garotas que riam exageradamente tocando seu braço, se inclinando sobre ele e arrumando o cabelo repetidas vezes, ri balançando a cabeça antes de me aproximar, assim que entrei em seu campo de visão, Apolo se levantou e sorriu, as garotas por sua vez me encararam de forma não muito amigável antes de se retirarem nos deixando sozinhos.
- Arrumou briga com alguém de novo enquanto eu dormia? - disse tocando-lhe o machucado em seu rosto e rindo.
- Não dessa vez, apesar que me disseram que eu fico atraente com hematomas no rosto.
- E quem disse isso?
- Uma daquelas garotas que não me lembro o nome...
- Era a loira que estava te mostrando seu decote ou a morena que tocava seu braço o tempo todo?
- Está com ciúme Aurora?
- Jamais - disse rindo e me sentei pegando uma das frutas na bandeja.
- Lizbeth perguntou qual tarefa nós gostariamos de ter...- ele se sentou ao meu lado e pegou uma fruta.
- E o que você disse?
- Disse que não sabia - ele deu de ombros - então ela disse que eu poderia fazer parte das expedições, quando perguntei o que era isso ela me mandou falar com Alexander.
- E você falou? - o encarei.
- Não, achei que você poderia fazer isso para mim
- Por que?
- Não sei se ainda não ficou claro - disse ele apontando para seu machucado - mas eu não gosto muito do cara - dei de ombros e assenti, falaria com Alexander então, mesmo sua presença sendo um tanto quanto intimidadora para mim também.
Lizbeth veio nos fazer companhia e se ofereceu a ajudar Apolo a encontrar alguma tarefa, enquanto eles saíam fui a procura de Alexander, percebi a movimentação em sua sala ao me aproximar, ele passava instruções para um grupo de rapazes enquanto apontava locais em um mapa, ao me notar na porta dispensou o grupo e me mandou entrar e encostar a porta.
- Em que posso ser útil? - perguntou enquanto guardava os papéis e cobria os mapas.
- Onde ficam seus...livros? - disse enquanto me assentava e recebia um arquear de sobrancelha e um cruzar de braços como resposta - você não precisa ficar na defensiva a todo o tempo sabe?
- Não estou na defensiva - respondeu descruzando os braços e se sentando do seu lado da mesa.
- Bom...é o que parece. De qualquer maneira, não foi por conta dos livros que vim, eu queria saber o que é a expedição.
- Você tem interesse em participar da expedição? - ele soou um tanto desacreditado, o que me encheu de vontade de contraria-lo.
- Não sei o que é, não sei se quero participar.
- Nós saímos para mapear a área duas vezes ao mês.
- É disso que se trata seus mapas?
- Exato, é o cargo mais perigoso do acampamento, muitos não voltam. Você que tem interesse ou seu namorado?
- Ele não é meu namorado...
- Tanto faz, se quiserem quarto individuais precisam pedir para o chefe dos construtores.
- Não somos um casal.
- Deviam parar de agir como tal então...
- Que diferença faz a forma como agimos pra você? - ele deu de ombros.
- Não faz diferença. Se querem se alistar para as expedições procurem por Darius Romania, - ele foi até a porta a abrindo - agora se me der licença, tenho rotas para planejar...
Saí da sala e procurei por Awiti na esperança de achar Apolo através dela.
Segui a trilha que segundo ela daria até a área de construção, Apolo estava acostumado com trabalho braçal, não se afastava muito do seu cargo na fábrica que trabalhava em France, ele vestia uma camisa justa sem mangas e segurava uma ferramenta de aparência pesada, o homem que parecia mais velho lhe dava instruções ao cortar a árvore. Uma fina camada de suor o dava aparência brilhante á luz do sol, eu entendia perfeitamente porque tantas garotas se sentiam atraídas por ele. Apolo tinha os traços angelicais e suaves, seus cabelos pareciam mais claros na luz do dia, seu sorriso pendia levemente para o lado esquerdo, tudo nele era atraente. Me aproximei ao ver que o homem se afastara.
- E então? Vai trabalhar na construção?
- Acho que me adaptaria rápido aqui, e você? - disse ele me olhando, batendo na árvore vez ou outra enquanto ouvia minha explicação sobre a expedição.
- ...e eu quero participar.
- Aurora, não seja inconsequente, até Alexander disse que é uma tarefa perigosa.
- Não estou sendo inconsequente Apolo, eu quero fazer isso simplesmente porque quero - disse dando de ombros e dando a volta na árvore. Ele balançou a cabeça negativamente.
- Então vou com você - dei de ombros sabendo que ele não mudaria de ideia mesmo se insistisse.
Me sentei no tronco mais próximo o observando, suas veias saltavam em seus braços e mãos a cada batida contra a árvore.
- Será que "observar os construtores", é uma tarefa? Acredito que me sairia bem fazendo isso.
- Acho que eu me sairia bem sendo observado por você - respondeu sorrindo ladino.
Apolo olhou para os lados e soltou sua ferramenta se aproximando rapidamente, me levantei imaginando o motivo de sua movimentação repentina e fui tomada por seus braços.
Ele selou nossos lábios e entreabriu os meus com os dele envolvendo minha língua com a sua. Mantive minhas mãos em sua nuca segurando seus cabelos firmemente enquanto as mãos dele passavam por minha cintura e quadril.
- Acho que deveríamos pedir aquele quarto individual não é? - disse roçando seus lábios nos meus, sorri envergonhada desviando o olhar e assenti levemente. Acho que era hora de quebrar algumas regras.
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Vermelho antes do amanhecer
General Fiction- Nós vivemos no presente sem perspectiva do futuro. Vivemos na escuridão da incerteza e do desalento - Alexander varreu o local procurando por Aurora, o pequeno vislumbre de seus olhos brilhantes e sorriso encorajador seria o bastante para enfrenta...