Prólogo - Parte 2: O bebê de olhos azuis

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O chamado não foi levado em consideração por todos. Havia dois estelares que se viam em uma situação um tanto improvável, e não era possível atender a convocação de sua general, nem mesmo se eles quisessem.

— Vamos, querida, você consegue!

O Comandante Aros, líder da Tropa Central, se via em um momento que mudaria sua vida: sua mulher estava dando à luz. E no caso dos estelares, parecia ser literalmente isso que acontecia.

Ele nunca tinha ouvido falar do nascimento de uma estrela a partir de pais, mas estava acontecendo. Por anos, sua mulher, chamada Luriel, começara a inchar e brilhar, chegara ao nível de mal conseguir se mexer, e foi quando os gritos começaram que ele entendeu que tinha chegado a hora.

— Só mais um pouco de energia! Issoooo!! Você vai conseguir! — O comandante estava eufórico, sorria enquanto sua mulher apertava sua mão.

A outra mão dela agarrou sua cota de malha é ele se viu cara a cara com a mulher, que tinha uma expressão assustadora no rosto.

— Se você... continuar me enchendo. — Ela falava pausadamente, o esforço tirando seu fôlego. — Eu vou esmagar... aquilo que você usou... para pôr esse fedelho em mim..., Aros!... Então, quieto! — gritou para ele, furiosa.

Ela era parte da Tropa Sul, não uma guerreira como seu companheiro, que adorava se manter vestido em cota de malha de poeira estelar. Era uma estudiosa, havia observado a Terra por eras e foi por isso que entendia a situação em que se encontrava, apesar do processo da gravidez e do parto estarem acontecendo de uma maneira que não esperava.

Ele, como Comandante dos Estelares Térreos, era alto e muito forte, seus cabelos negros iam até os ombros, e os olhos amarelos brilhavam, tinha uma barba grossa e que lhe cobria o rosto, escondendo o pescoço.

Ela tinha cabelos castanhos volumosos e ondulados, tinha olhos azuis. Ao contrário do homem que amava, ela era pequena e magra... ou deveria ser, naquele momento, estava incrivelmente inchada, e uma luz azul emanava de todo o seu corpo.

Eram o contrário um do outro, mas se amavam como nunca havia acontecido com outros estelares, e isso era um dos motivos daquele milagre estar acontecendo, os dois tinham essa certeza.

— Sim, senhora. Não disse nada!

Ele engoliu em seco, levando a mão à testa no ato de prestar continência. Sua atenção foi tomada pela luz que saia de sua mulher até um ponto pouco mais à frente dela.

— Oh! Por Ulmo! Lá vem ele, querida, está brilhando!

A luz da estelar começou a se concentrar cada vez mais naquele ponto. Ela começou a desinchar, voltando ao corpo magro e pequeno que tinha antes, enquanto a energia saía.

O pequeno pontinho começou a mudar de forma. Aros se aproximou, fascinado, pequenas pernas e braços surgiram, uma cabeça com ralos cabelos pretos apareceu e, de repente, o espaço se encheu com o som do choro.

O pai pulou para trás com o susto e riu, aninhou aquela pequena estrela em seus braços para olhá-lo atentamente.

— Querida, é um garo...

Diante da pausa inesperada, a nova mãe levantou o rosto, preocupada, e olhou para o estelar que estava de costas para ela.

— O que foi, Aros?

— É que... é um garoto de olhos azuis.

Luriel arregalou os olhos por um momento, mas se lembrou da mania idiota daquele soldado bruto de fazer piadas fora de hora.

A crônica de Eastar (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora