Só um café

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É doido pensar que eu te odiava, ou pelo menos pensava que era isso. Você sempre foi irritante ao extremo, você ainda é assim, o que faz amá-lo mais. Estranho é a sua capacidade de me fazer gostar da sua insistência, e uma pessoa pra insistir que nem criança no mercado é você, James. O nosso primeiro encontro é a prova disso.

...

- Vamos, Bi! É só um café, não um pedido de casamento.

- Quem me dera fosse um pedido... -James me olhou espantado, ameaçando abrir um sorriso- DE OUTRO GAROTO! - eu disse me virando e voltando a andar.

- Você quer ir. Eu posso sentir que quer.

- Ah, dá licença, né! Já disse que não quero, garoto irritante!

- Você é muito mentirosa.

- Não, não sou.

- É sim. É tanto que mente pra si mesma. - isso me fez virar para encará-lo, trancando o corredor da faculdade.

- Ah, e você me conhece tanto assim, não é? -ironizei.

- Conheço sim na verdade.

- James! Cai na real! Eu te conheço à três meses. Nem se me conhecesse à cinco anos você me conheceria direito. Como se julga apto a me chamar de mentirosa?- eu estava bem alterada.

- Não posso falar aqui. Nem agora.

- Hum... E por que não?

- Você me daria um tapa. Isso é sempre provável quando se trata de você.- Queria dar um tapa mesmo. Mas não queria fazer nada do que ele dizia, então exprimi toda aquela raiva em um revirar de olho. Tive que revirar pela segunda vez porque ele  sorriu com meu gesto, o que me irritou mais ainda.

- Eu quero que você fale.

- Um dia com certeza eu vou falar.

- Mas eu quero que fale agora.

Ele abriu um sorriso de quem estava ganhando ou controlando algo incontrolável.

- Nem tudo acontece na hora que queremos, baby.

- Baby é a tua "vó"! É Beatriz pra você.

- Mas você odeia seu nome.

- Exato. É pra combinar com o que sinto por você.

- O amor e o Ódio andam lado a lado, sabia? Pode revirar o olho o quanto quiser, eu gosto.

- Gosta de me ver irritada contigo, né?

- Exatamente. Fica linda assim.

Me segurei muito pra não revirar os olhos, acabei bufando, exausta daquele insuportável na minha frente.

- Isso é lindo igual.

- Tá, tá, seu idiota - ele sorriu- o que eu preciso fazer pra você me contar o porquê de você me achar mentirosa?

- Saia comigo sexta.

- Nem fudendo. - dei meia volta de continuei meu caminho, senti que ele andava atrás se mim.

- Então tá, fica sem saber.

- Vou ficar, então.

- Ainda vai implorar pra descobrir, sabia?

E era verdade. Odiava ter que concordar, mas se eu não concordasse seria a mantirosa que ele diz.

- Sabia.

Dia seguinte na casa do Cayo...

Eu estava com muito frio, então fui pra dentro procurar um casaco, deixando os meninos do futebol com a Marina jogando baralho na grama. Antes se ir pro quarto do Cayo eu passei na cozinha e coloquei uma água pra ferver pra fazer chá pro pessoal. Desastrada como sou acabei derrubando um copo de vidro no chão, fui pra lavanderia pegar uma pá e vassoura. Enquanto voltava ouvi um "Ai" bem alto vindo da cozinha. Era James sem camisa e descalço só com o moletom dele na mão. Só depois percebi que ele se tava com cara de dor e segurava um dos pés, logo pingou desse pé uma gota de sangue e fui lá ajudá-lo a sentar no sofá da sala. Depois fui buscar um Kit de primeiros socorros.

- Mas tu é trouxa mesmo, né? Andando na cozinha.- eu disse enquanto passava um algodão com soro fisiológico na ferida, que parecia bem profunda.

- Você... Ai... Tá escutando o que diz? Aiiii porra! Geralmente é normal andar na cozinha.

- Mal agradecido. Eu podia estar lá fora jogando com eles, mas estou aqui lavando seu pé.

- E por que não estava lá?

- Estou com frio, vim procurar uma blusa.

Ele me estendeu o moletom dele. James olhava pra mim e eu infelizmente decidi olhar também. Fiquei meio hesitante em pegar, não tava muito afim de dar bola pra ele achar que gosto disso.

- Pega logo.

Eu vesti o moletom branco por cima da minha camiseta vinho e ficou super larga. Nós dois começamos a rir. Eu não queria esboçar um sorriso perto dele, mas não pensei nisso naquela hora.

- Seu sorriso é bonito, Bi. Devia usar mais quando estou com você.

- E por que te daria tanta exclusividade assim?

- Não é exclusividade. Eu sei que você é sorridente, só não comigo.

Em senti extremamente mal naquele momento. Ele só queria o meu bem. Já me ajudou tanto. Eu era ruim o suficiente pra propositalmente não sorrir na frente de quem era bom, um irritante bom.

Ele tirou o seu pé das minhas mãos que trabalhavam em um curativo e se aproximou de mim, que estava sentada no chão à sua frente.

- Desculpa. Ninguém é irritante ou insistente o suficiente para não merecer sequer um sorriso idiota.

- Tudo bem. Esquece isso.

Olhei bem no fundo dos olhos dele falei sorrindo.

- Vamos tomar um café agora.

Dear FutureOnde histórias criam vida. Descubra agora