Perdas e ganhos

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Cayo estava no hospital há 2 meses e era cada dia pior que o outro. Lembro muito bem desse dia chuvoso na Itália, Lavanda. Foi bom e ruim ao mesmo tempo. Eu estava no apartamento do James o ajudando com sua irmã. Foi dia 8 de Julho, dia do aniversário de James que a história das nossas vidas perdeu uma pessoa amada, mais ainda por ele.

...

Corri para a cozinha onde James estava.

- James! Georgia... ela desmaiou, James!

Ele saiu como um raio para o quarto. Qualquer um diria que ele estava apenas concentrado e assustado, mas eu pude por um instante ler seus olhos que apresentavam muito desespero e horror. No quarto, ele não pensou duas vezes em pegá-la no colo e ir em direção à porta me pedindo para pegar as chaves do carro, aproveitei e peguei sua certeira que continha os documentos de Georgia, meus e dele.

Eu dirigi o mais rápido e cautelosa que pude, enquanto James a levava no colo no banco de trás. Nem estacionei direito ele já pulou de dentro do carro com Georgia nos braços e entrou correndo no hospital aos berros com a recepcionista alegando ser uma emergência. Essa mulher de cabelo cacheado me viu e pediu para explicar o que ele havia acabado de falar. Ela não havia entendido uma só palavra, só eu. Não quis enrolar, então deixei de lado a minha dúvida sobre ela não ter entendido o que meu namorado falava. Repeti o que ele havia dito e ela enfim entendeu colocando a mão no peito e nos indicando o caminho por onde seguir. Só quando ela levou Georgia numa maca para dentro de uma sala e nós ficamos do lado de fora eu pude ver o rosto de James. Ele chorava. Chorava muito. Parecia até que ele já sabia o que estava por vir. A recepcionista não havia o entendido porque ele estava com a voz muito embargada pelo choro, mas eu tinha entendido. Achei isso bonito, um dia me disseram que o verdadeiro amor aparece nos momentos mais dolorosos, o que se encaixou perfeitamente com o acontecido.

- Ela não passa daqui, querida. Ela não passa daqui. Sei disso.- ele disse me abraçando como se eu fosse a única coisa que o mantia em pé naquele momento e chorando ainda mais, molhando meu ombro. Queria dizer pra ele que ela passaria sim, que era só um susto. Queria dizer-lhe que Georgia voltaria pra casa salva. Queria dizer tantas coisas que pudessem o reconfortar naquele momento, mas também não queria ter que mentir.

Georgia covivia há 2 anos com um tumor na cabeça. Era bem estável, mas poderia mudar tudo num segundo, foi exatamente o que aconteceu. James ligou para seus pais e depois de duas horas que Georgia havia entrado naquela sala um médico me pediu para acompanhá-lo. Ele me guiou até o corredor dos quartos e me indicou a porta. Entrei e vi algo que eu jamais gostaria de ter visto. Cayo deitado numa maca dormindo e uma enfermeira limpando o sangue que havia no chão, certamente ele havia vomitado aquilo. Ele estava com a pior aparência de todas, tinha olheiras enormes e pele amarelada por causa da anemia. Corri até ele o médico entrou naquele momento. Por mais que eu tivesse terminando a faculdade de medicina não pude entender nada. Não sabia o que fazer nem o que dizer, mas o doutor respondeu a dúvida que rondava a minha cabeça.

- Cayo está em seus piores dias, senhorita Nobre. A infecção espalhou para outro órgão. Precisa urgente de um transplante.

- Transplante de quê, doutor?- perguntei desesperada.

- Hãm... Não é muito fácil dizer isso.

- Me diga por favor. Faria de tudo para conseguir esse órgão, por mais difícil que seja.

- Ele precisa de um dos mais difíceis órgãos: do coração.

Dear FutureOnde histórias criam vida. Descubra agora