Romeu e Julieta

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Estava há um mês na faculdade na Itália, ficava todos os dias com Cayo, que me recebeu muito bem. Ficava sempre no horário do intervalo no refeitório com os amigos do time dele, mas só tinha amizade mesmo com o Cayo. Nesse dia ele tinha faltado, ele estava internado com virose. Muitos dos meninos faltaram, o time não era o time Bolonha sem Cayo. Resolvi andar pelo campus no horário de almoço, eu tinha uma hora e meia. Achei um jardim bem bonito atrás do prédio, mas dentro do muro. Sentei debaixo de uma árvore florida e peguei meu caderno de desenho na bolsa. Eu tentava desenhar mas nada vinha à minha mente, olhei ao redor procurando alguma inspiração. Um pouco longe de mim estava um garoto do time sentado num banco à sombra do muro coberto por trepadeiras. Não me lembro do nome, mas lembro que Cayo é melhor amigo dele, ele fala muito sobre. O tal estava lendo alguma coisa, queria ver a capa mas ela estava escondida por sua perna. Resolvi desenhá-lo, observava ele toda hora, captando cada um dos detalhes e passando pro papel: A mecha de cabelo loiro escuro levemente caída na testa, o semblante concentrado, as sobrancelhas curvadas, roendo a unha do polegar direito, mão esquerda segurando as páginas, o livro apoiado nas pernas enlaçadas como "perna de índio" no banco. Eu fiz o desenho em grafite e logo preenchi com aquarela. Eu o olhei de novo para ver a cor do tênis dele, ele não estava na mesma posição do que antes, agora ele olhava em minha direção. Abaixei o olhar o mais rápido que pude, mas ele viu.

- Oi, Beatrice- ele disse me fazendo olhar para ele que tinha vindo até a mim.

- Oi, mas meu nome não é Beatrice- ele sentou do meu lado na árvore.

- Eu realmente não sabia seu nome. Chutei qualquer um, eu só ouvia o Cayo te chamando de Bia.

- Bom, o certo é Beatriz- eu disse sorrindo amigavelmente.

- Quase... Vou te chamar de Bi, então.

- Não, ninguém me chama de "Bi".

- Exatamente por isso vou chamá-la assim.

- Ah... "Bi" não.

- Sim, Bi. - revirei os olhos rindo e ele riu junto.-O meu nome você lembra, né?

- Você vai me desculpar, mas não.

- Sem problemas. Sou o James, mas pode me chamar de amor da sua vida.

Eu travei, gaguejei algo, fiquei envergonhada e ele riu. Pegou a maçã vermelha que estava em cima da minha bolsa e colocou ao lado do meu rosto.

- Da mesma cor- abriu um sorriso bonito e genuíno.- Eu percebi que você estava me olhando enquanto eu lia.

- Ah, sim. Eu estava desenhando...

- Me desenhando?- ele parecia surpreso e empolgado, eu assenti com a cabeça. - Com tantas flores, folhas, árvores, o lago; tanta coisa linda aqui no jardim você me desenhou?

- Bom, eu fiquei interessada em saber o que você lia e achei a posição em que você estava desafiadora.

- Deixa eu ver?

- Não... não está terminado.

- Não tem problema.

- Tem sim, eu não gosto nem de mostrar meus desenhos, muito menos inacabados. De jeito nenhum. Mas me fale o que você estava lendo...- ele provavelmente o colocou na bolsa antes de vir até aqui.

James olhou pra frente por um ou dois segundos antes de responder:

- Não.

- Não?

- Não. Você não me deixa ver o desenho, não vou deixar você saber o que eu leio.

Eu o olhei com um olhar de "sério isso?", pensando em ser brincadeira e esperando ele falar algo enquanto nos encarávamos.

Dear FutureOnde histórias criam vida. Descubra agora