CAPITULO 8 - 7º SUPERPODER

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Agora eu tinha quatorze anos, sim o tempo passa muito rápido, meu pai não apresentara sinais de novos superpoderes e nada acontecia fora dos padrões normais, eu estava apaixonada por um garoto da escola, Will era o nome dele, ele tinha cabelos loiros, lisos e curtos, olhos verdes e uma covinha no queixo que me deixava louca, o sorriso era sua arma mais letal, por diversas vezes seu olhar se encontrou com o meu, eu o observava o tempo todo, então bastava ele retribuir, nunca havia falado com ele, minha melhor amiga Tina sempre me dizia "Já chega, vá até lá, estou ficando enjoada te ver você olhado ele", "Queria ter essa coragem" eu retrucava sempre e nunca tomava uma atitude, certo dia eu estava saindo da sala em direção a cantina e ele passou por mim, o encarei por um instante e abaixei a cabeça, "Ei" ele disse, senti o coração acelerar, hesitei em parar, poderia fingir que não tinha ouvido e seguir em frente, mas apesar de minha covardia decidi me virar subitamente, "Oi" saiu como uma tosse seca, "Você é a Manoela, certo?", certo, certo, pensei em dizer, me segurei, respirei fundo e... "Por que quer saber?", saiu ríspido demais, "Calma, é... deixa para lá" disse ele, "Não, desculpa, é que nunca falou comigo", tentei parecer mais simpática, ele sorriu, isso mesmo com aquele sorriso, dei um suspiro e foquei na conversa, ele disse "Sabe a Samantha?", assenti com a cabeça "Vamos acampar no jardim da casa dela hoje a noite", eu logo perguntei, "Todo mundo? Tina vai?", ele torceu o nariz, deu um passo atrás "Acho que ela não pode ir, mas queria que você fosse", calma, muita calma nessa hora, queria dizer eu vou, mas sabia que convencer papai seria uma tarefa árdua, respondi "Claro, porque não, preciso avisar meus pais, saber se hoje não teremos visitas, meus avós costumam jantar lá em casa um dia na semana e essa semana eles não foram ainda" foi o que veio a minha cabeça, "Você sabe onde é?", "A casa da Samantha? É claro" eu não conseguia me manter séria, o sorriso fugia de meus lábios, quase deixei os cadernos caírem tamanha a tremedeira em minhas mãos, "Te vejo a noite", ele caminhou até a sua sala, eu sai correndo a procura de Tina, estava tão eufórica que nem me lembrava que ela havia faltado a aula, quando me lembrei fui a cantina comprei um suco e me sentei, eu tentava elaborar um plano para conseguir convencer meu pai, dizer a verdade não daria certo, eu tinha que mentir, eu não gostava da ideia de mentir para ele e para mamãe, mas era o Will, eu tinha que fazer isso.

Quando cheguei em casa papai estava assistindo a um jogo de futebol na sala, parecia irritado, seu time estava perdendo, ele não era fanático, porém durante a partida as vezes ficava muito nervoso, depois da partida voltava ao normal, subi no meu quarto troquei de roupa e coloquei meu plano em ação, era muito simples ligar para Tina e combinar com ela, ela deveria ligar um pouco mais tarde e falar com minha mãe pedindo que eu dormisse lá, já havia dormido na casa dela uma ou duas vezes, mamãe não iria se opor a isso, liguei e ninguém atendia a minha amiga não estava em casa, para um bom mentiroso haveria um plano b, mas eu não era uma boa mentirosa, o único plano que eu tinha havia ido por água a baixo, então resolvi apelar para mamãe, sabe como é ela, já teve seus namoricos de juventude, despretensiosamente comecei a rodear ela, "O que você quer Manu?", "Sabe mãe eu gosto de um menino da escola" as minhas bochechas estavam rosadas, "Sei" ela respondeu com descaso, imaginei que estava perdendo meu tempo, ela continuou "E você marcou de se encontrar com ele?", de fato mamãe já passará por algo semelhante, ela me contou alguns de seus namoricos e depois deu sua sentença "Peça a seu pai", eu ponderei "Ele nunca vai deixar", "Diga a ele que os amigos da escola vão acampar e você quer ir", não havia mentira alguma no que mamãe dissera, realmente Will disse que os todo mundo da escola iriam estar lá, respirei fundo e fui até a sala, o jogo havia acabado e papai estava vendo alguma coisa no celular, me aproximei e quando ia falar desisti e voltei a cozinha, mamãe me encarou com um olhar desaprovador, dei meia volta tomei coragem novamente, "Pai", "O que foi minha filha?" ele estava bem tranquilo, mesmo seu time tendo perdido o jogo, "A turma da escola vai acampar e eu queria ir", ele franziu a testa "Onde e quando?", "Hoje no jardim da casa da Samantha" respondi com sinceridade, "Quem é Samantha?", "Uma amiga da escola" respondi enquanto pressionava uma mão contra a outra, "Não conheço ela, sua melhor amiga é a Tina, ela vai acampar também?", respirei fundo, eu podia mentir para ele, mas pode parecer maluquice, ele tinha o superpoder da telecinese vocês lembram? Resolvi falar a verdade e esperar por misericórdia, pois é assim que os adolescentes se sentem, oprimidos, mal tratados, "Filha os meninos também vão?", era tarde demais para começar a mentir, "Vão", "Minha princesa não posso deixar você ir na casa de alguém que não conheço, acampar com as meninas da escola e os meninos" a voz mudou de entonação quando disse os meninos, o que me restava? Argumentar, "Mas pai todo mundo vai?", "A Tina vai?" eu sabia que ele iria se apegar a minha resposta negativa mas não pude mentir, "Não sei pai", de fato não sabia, houve silêncio, "A resposta é não, filha o mundo é muito mais do que você vê na escola, eu e sua mãe tentamos te proteger do mal, você conhecerá o mundo pouco a pouco e verá do que o ser humano é capaz", eu trinquei os dentes e respondi "Você não pode me prender em casa" e acabei atirando as palavras até em direção a minha mãe "Vivem vendo esses malditos jornais e achando que tudo é desgraça" subi correndo para meu quarto, se houvesse chave na porta me trancaria, que mundo desumano, meu pai que eu considerava meu herói na verdade era um ditador tirano, antes que eu pegasse no sono escutei a porta abrir, fingi que dormia, meu pai foi até minha cama beijou minha testa, ele sabia que eu estava acordada, afinal havia a telecinese, "Filha apenas ouça seu pai", me virei com os olhos cheios de lágrimas, "Sua mãe me disse que você está gostando de um rapaz, não a julgue por me contar isso, nós dois queremos que você seja feliz e sempre iremos protegê-la de todo o mal", típica frase de um super-herói, "Conheço um pouco mais da vida, assim como sua mãe, nós acertamos e erramos na vida, por isso agimos para que você erre menos que nós e acerte mais também, este rapaz quer lhe fazer o mal, você conhecerá um rapaz bacana que poderá apresentar a seu pai como namorado, espero que isso demore" ele sorriu, "Mas ele", tentei argumentar, "Ele não é quem você pensa que ele é, ele iria fazer um mal irremediável a você, acredite, eu sei", ele se levantou e saiu do quarto, aquelas últimas palavras ressoavam em minha mente, "Acredite, eu sei", eu queria passar a noite acordada para que na manhã seguinte ele e minha mãe pudessem ver meu estado deplorável, olhos inchados, olheiras, mas em pouco tempo adormeci.

Na manhã seguinte acordei evitei conversar com eles,aquela cara fechada básica como dizem, fui para a escola e no meio da segunda aula tive uma grande surpresa,houve gritaria no corredor, todo mundo saiu da sala para ver o que estava acontecendo, a professora gritou por ajuda, os alunos da sala dela tiveram que segurar um certo aluno que agrediu a professora verbalmente e fisicamente, eis que era ele meu favorito, Will em desacordo a uma nota que a professora lhe dera partiu para as agressões, a princípio os alunos riram, pois a professora Laura era muito chata segundo os alunos, porém quando Will lhe acertou o rosto a coisa ficou séria e os alunos interviram, depois da confusão ele foi levado a diretoria e disseram que foi expulso da escola, ao ver e saber dos fatos lembrei das palavras de meu pai que ressoaram em minha cabeça na noite anterior, "Acredite, eu sei", só podia ser... sim de fato, depois de muitos anos descobri um novo superpoder ou dom se alguns acharem melhor por assim dizer, ele podia prever o futuro.    

MEU PAI ERA UM SUPER HERÓIOnde histórias criam vida. Descubra agora