Alice penteava seus cabelos louros com a escova de sua falecida mãe.
Seus pensamentos, antes silenciosos, começaram a borbulhar dentro de sua cabeça.
"Calem a boca!" - Alice levou as mãos até a cabeça no intuito de fazê-los parar, mas de nada adiantou. "Parem, parem!" - gritou, mas estes só silenciaram-se quando a porta do quarto se abriu e Faith entrou, trazendo uma bandeja em suas mãos.
"Oh, Alice. Vejo que está melhor." - A mais velha disse colocando a bandeja em cima da cama e se aproximando de Alice, que estava sentada na cadeira de frente a penteadeira. A avó lhe acariciou os ombros observando-a pelo espelho.
"Você está linda, Alice. Muito parecida com sua mãe." - Faith sorriu, porém sua tristeza era iminente. Alice encarou seu próprio reflexo que fora substituído pela lembrança de sua mãe. Tão linda e corajosa, Alice não achava que se parecia com a mãe, mas queria ser forte como ela.
"Seu avô está a sua espera. Ele veio especialmente para comemorar seu aniversário!" - a avó sorriu, animada.
" Isso é ótimo, vovó." - Alice respondeu com sinceridade, ela amava passar seus aniversários na companhia de seu avô Dominic, ele lhe tirava boas gargalhadas.
"Te espero lá embaixo. Não se esqueça de tomar seus remédios, trouxe algo para você comer também." - Faith seguiu para a porta do quarto e deu uma última olhada em Alice, ela sentia tanta pena de sua adorável netinha. Era tão pequena quando a tragédia aconteceu..
Alice comeu o lanche que Faith havia levado para ela, foi para o banheiro e pegou um frasco branco que continha seu medicamento diário. Ela pegou quatro comprimidos e os ingeriu bebendo água no instante seguinte.
"Remédios inúteis!" - jogou o frasco violentamente contra a parede, e os comprimidos se espalharam por todo o banheiro.
Ela saiu do banheiro e seguiu para fora do quarto e no caminho encontrou Cheshire no pé da escada."O que faz aí, ein?" - Alice alisou os pelos cinzas do gato e seguiu seu olhar para a sala, onde um homem estranho conversava com seu avô.
"Senhor Dominic, temos novas informações. As análises mostraram que os corpos encontrados no acidente não pertencem ao casal Deschanel..."
Alice congelou no lugar, não sabia se tinha escutado certo ou se estava sob efeito dos remédios. Ela só podia estar delirando! De repente, sua visão vacilou e ela teve que se segurar no corrimão para não rolar escada abaixo.
"Alice!?" - Dominic se assustou ao ver a neta presente no alto da escada. Ela não podia saber a verdade, senão tudo estaria perdido.
Ele começou a subir a escada, mas Alice não queria ficar nenhum segundo a mais naquela casa.
Ela deu as costas ao avô e saiu correndo para seu quarto, abriu a janela, desceu pelo cercado de madeira e correu para o único lugar que ela tinha certeza que encontraria paz, só não sabia que alguém já esperava por ela.
Ofegante, Alice se segurou numa árvore de troncos fortes e respirou fundo antes de continuar o caminho. O céu já estava carregado de nuvens e não demoraria para a chuva cair.
Ao chegar na entrada da floresta, ela olhou ao redor para ter certeza de que não havia nada ali, então seguiu em frente.
A floresta não era tão ruim quanto as pessoas diziam. Na concepção de Alice, era escura e cheia de mistérios, nada além disso."Finalmente" - Alice suspirou profundamente ao chegar no rochedo. Ela sentou-se no chão e escorou as costas na enorme pedra que ali estava. Sua mente estava cheia e ela não conseguia desviar seus pensamentos do que acontecera momentos antes.
Seus pais."Se meus pais não estavam no carro quando aconteceu o acidente... Onde eles estavam?"
A garota se perguntou em voz alta, mas antes mesmo de pensar em uma teoria, alguém lhe respondeu. E ela conheceria aquela voz cortante e rouca em qualquer lugar."Ora, criança tola. Você sabe a resposta, só não quer encará-la!" - O coelho negro lhe enviou um sorriso malicioso enquanto se aproximava lentamente.
"Suma daqui!" - Alice gritou arremessando uma pedra na direção dele, mas o mesmo desviou e desatou a rir.
"Sua recepção são sempre adoráveis, pequena Alice." - O coelho pegou a pedra transformando-a em pó que escorreu entre seus dedos.
"O que você quer de mim!?" - desabou a chorar, abraçou os joelhos e tentou evitar a presença desagradável daquele ser.
"Não sou eu quem quero, Alice. Meu único objetivo é levá-la de volta ao lugar de onde nunca deveria ter saído!" - respondeu-lhe desinteressado.
"Eu não vou a lugar nenhum com você!" - retrucou, destemida. Ele lhe fitou por um breve momento antes de tirar algo de seu bolso. Era um relógio.
"TIC, TAC... Está ouvindo, Alice? Esse é o som da morte!" - o coelho negro gargalhou e seus olhos faíscaram na direção de Alice.
A garota se levantou rapidamente e começou a se afastar, mas o coelho era rápido, muito rápido.
"Me deixe em paz, coelho maldito!" - Ela correu para longe dele, mas rapidamente foi alcançada e jogada no chão.
"Seu tempo está acabando, pequena Alice. Você precisa voltar, senão nunca saberá o que realmente aconteceu com os seus pais."
Alice engoliu em seco. Ela queria saber o que aconteceu com os pais, mas será que aquele coelho dizia a verdade? E se fosse só um blefe para persuadí-la à fazer o que ele queria?
"Você está mentindo!"
"Ah, criança tola. Não preciso que acredite em mim! Você vai voltar por bem ou por mal, mas vai voltar!" - Ele exclamou enquanto fincava sua garra na perna de Alice fazendo-a arfar de dor.
Ela se arrastou pela terra tentando se levantar, mas o coelho era muito mais forte do que parecia. Ele subiu em sua barriga e apontou a garra afiada para seu rosto.
"Está pronta, Alice?" - Ele riu e quando estava prestes a enfiar a garra no olho de Alice, algo pulou sobre ele jogando-o para longe dela.
Ela se levantou e, cambaleante, correu para fora da floresta. Mas antes de sair totalmente, ela viu de relance quem a salvara.
"Cheshire..." - ela sussurrou quando viu o coelho negro lhe cortar o pescoço.
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O Retorno De Alice
Подростковая литература3° lugar no concurso Rosas Douradas ❤ Alice Deschanel vive com seus avós na pequena cidade de Oxford. Após um acidente que tirou a vida de seus pais, ela começa um tratamento psicológico para que sua saúde mental se estabilize novamente. No entanto...