Desejos Natalinos

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— Consegue um cigarro, meu chapa? — Tarso olhou seu vizinho de calçada e fez um sinal com a mão, o dispensando

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— Consegue um cigarro, meu chapa? — Tarso olhou seu vizinho de calçada e fez um sinal com a mão, o dispensando.

— Estou liso. 

O outro seguiu sua caminhada em busca de tabaco. Se tivesse sorte conseguiria até algo mais forte, uma pedra de crack talvez, mas isso lhe custaria mais do que podia pagar e o desenrolar desse filme Tarso já havia assistido vezes demais para sua sanidade.

Ele se remexeu no seu papelão, agitando o sono da sua fiel companheira, uma vira lata preta com uma coleira de pelos brancos em volta do pescoço.

Tarso recebia ajuda de algumas almas caridosas, que vez ou outra lhe concediam um banho de mangueira no quintal ou um sanduíche reforçado. Ele sempre dividia seus presentes com a cadela. Fosse um banho com água gelada ou a salsicha do sanduíche. Eram parceiros, só tinham um ao outro nessa vida, mas nem sempre fora assim...

Não fossem suas más ações, Tarso ainda teria sua família, seu emprego e sua esposa, porém ele cavou a própria cova com a pá do orgulho e quando se deu conta não restava mais nada. Foi parar nas ruas e na sua primeira noite ao relento encontrou um filhote sobre uma caixa de papelão de uma lavadora. Empurrou o filhote para o lado e sentou-se ali, era inverno e logo a cadelinha encontrou conforto nos pés do homem. Ele a olhou e pensou no que mais desejava naquele momento: dinheiro. Riu vendo a mentira que contou para si mesmo. Tudo que queria naquele momento era um cafuné na cabeça, como aquele que sua mãe fazia na sua infância. Chamou o animal de Cafuné.

   Toda vez que sua mãe lhe aparecia na memória, uma nostalgia tomava conta do seu ser

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Toda vez que sua mãe lhe aparecia na memória, uma nostalgia tomava conta do seu ser. E o fatídico dia que deu início a sua queda também.

Era véspera de Natal como hoje, mas o jovem Tarso já estava bêbado. Chegou em casa à noite, sua família estava reunida, a mesa farta e todos olhavam para a decoração como se os olhos fossem saltar das órbitas.

O patriarca da família estava finalizando uma oração quando seu filho virou a cidra de sua taça e a jogou no chão.

— Viva o Natal! Viva a hipocrisia dessa linda data, que deveria ser lembrada como o nascimento de Jesus, mas que na verdade ninguém dá a mínima para o real significado... O que todos querem é fingir a perfeição e a prosperidade familiar — Apontou para uma senhora vestida de amarelo. — Você é da minha família? Nunca nem vi... — Ele rolou os olhos e continuou. — Enquanto vocês comem do bom e do melhor e esbanjam falsidade, existem pessoas lá fora precisando de ajuda. Toda a comida que vai ser jogada fora amanhã poderia salvar vidas. Enquanto vocês enchem o rabo de comida e mentiras as pessoas lá fora sofrem...

Meu Natal Iluminado (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora