Depois de tomarmos um chá - algo que eu não gosto muito, mas tomei mesmo assim -, eu e Ella - este é o nome da senhora cujo achei muito estilosa - conversamos sobre mim. Os garotos tinham ido jogar futebol no casarão ao lado, e ela me levou até lá.
Me senti em casa num lugar totalmente desconhecido, e quando estava na minha própria casa, me sentia num lugar estranho. Isso mostra como minha vida é terrivelmente errada.
E quem tem a vida certa, não é?
Ella (que não se pronuncia como ela, mas sim como êla, só para constar) me contou que há vinte anos passados, era casada com um homem que usava terno até na praia, e mesmo dessa forma, era o homem mais divertido que já conhecera. Seu olhar era de ternura e paixão, como se voltasse aos tempos em que estavam juntos. Enquanto ela, sempre com um salto alto branquíssimo e cabelos vermelhos como púrpura, era a mais tímida de todas as garotas, até mesmo com seu jeito atrevido de andar, tinha vezes que o dia lhe dava medo.
- Eu era tão boba, minha filha! Mas ele me encantou de um jeito especial. Seus olhos eram negros, e os lábios tão vermelhos. Fiquei apaixonada no primeiro momento que o vi. - acariciou meu cabelo para fazer uma trança, enquanto eu estava sentada numa cadeirinha baixa. - Mas perto dos quarenta, ele faleceu. Estava doente fazia tanto tempo. O amor não cura tudo, e eu estava tão firme, pensando que ele melhoraria se eu desse carinho e atenção. - suspirou e terminou a trança.
- Qual era o nome dele? - perguntei, olhando para os meninos. Eles eram notavelmente bonitos, e eu não estava acostumada com esse tipo de coisa. Uma hora daquelas, meu pai já devia ter posto a polícia na minha busca.
- Não ria, mas era Patrício. A mãe dele queria ter tido uma filha, mas depois do parto descobriu que era do sexo masculino. - ela riu e pausou - Ele se chamaria Patrícia se fosse mulher. Não tinha escapatória! - riu mais ainda.Percebi pela tarde como ela era alegre, e adorei a senhora Ella.
- Dona Ella, você é a melhor pessoa que já conheci. - disse baixinho, sorri para ela e me levantei de onde estava, pedindo licença à ela logo depois e indo em direção ao banheiro.
No corredor estreito com diversos desenhos até o teto, ouvi um som de música. Mas não qualquer música. Parecia de apresentação de teatro, ou algo assim.
Direita! gritou uma voz masculina.
Sebastian, você não está cansado, cara?
Andem, girem e façam a posição com a mão. Não é difícil!
Sons de sapatos batendo na madeira do chão.
Boa!
Ao destino que estava fazendo para o banheiro, ficar no meio do caminho não era a melhor opção.
Segui para o lado direito, e abri uma porta branca com pequenos enfeites de conchas. Bem devagar, olhei o que estava acontecendo lá dentro, e me senti tão surpresa e fascinada.Tinham mais de dez garotos vestidos igualmente, formando uma imagem no centro do salão. Imaginei o quanto de esforço eles não tiveram para fazer algo tão bonito. Formava uma raposa. Uma linda raposa.
Mas então, o som cessou. As luzes apagaram. De ínicio, eu me assustei. Entrei na sala e fui olhando de um lado para o outro, tentando fazer com que minha vista se acostumasse a falta de luz.
As luzes voltaram, e todos me encaravam.
- O que faz aqui? - um garoto com os olhos de duas cores perguntou, e percebi que além de ter um olho preto e outro verde, ele havia feito um delineado em volta.
Eu jamais conseguiria fazer um igual, pensei em lamento.
Continuei quieta diante da pergunta, e a sala permaneceu em silêncio total.
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31 dias
Teen FictionFernanda é o aquele exemplo de menina que passa por muitas complicações na adolescência, como qualquer um, mas quando posta - por puro acaso, sabe? - algo em sua rede social, tem uma grande repercussão na escola e sua vida embola de vez, algo muda t...