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Leiam a nota da autora no final.

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Se há um sentimento que nunca na vida se esquece, é o da primeira vez em que se observa um castelo de cima, montado nas costas de um dragão. Mesmo assim, de todas as vezes que Sedric Monroe sobrevoava a Escola de Antares com o seu fiel amigo Rocky, alguma coisa parecia estar diferente, e conferir àquela imagem novas características que serviam apenas para aumentar a sua beleza.

Naquele ano, os campos pareciam particularmente verdes, e as árvores muito floridas. Tratava-se de uma entre duas hipóteses: ou as estações estavam realmente a mudar, ou a diferença entre começar o trabalho na primeira semana de Setembro e fazê-lo na segunda era maior do que ele esperara.

-Vamos começar a descer, amigo. - ordenou Sedric a Rocky.

O dragão obedeceu imediatamente. No entanto, no momento em que a velocidade da descida se tornou suficientemente elevada para a resistência do ar ser incomodativa, Rocky abriu as asas em toda a sua extensão, planando suavemente até aterrar mesmo à porta do castelo.

-Muito bem, muito bem, Rocky! Já nem preciso de dizer para abrires as asas! - elogiou Sedric, afagando o dragão por baixo do queixo.

-Por alguma razão, é o meu azul islandês favorito! - disse uma voz calma por trás dele.

Sedric virou-se com um salto. Lá estava ela. Impecavelmente pontual, com o cabelo meticulosamente apanhado num rabo de cavalo alto, e o ar ligeiramente cansado de quem voou uma longa distância. Era algo que nunca ia mudar. De todas as vezes que Sedric via Maple Harvey, era como se o seu coração falhasse um batimento. Perdia imediatamente a compostura ao fixar-se nos seus olhos verdes, ou ouvir pela primeira vez em muito tempo a sua doce voz.

Mas, tão rápido quanto chegava, essa sensação desaparecia. Ele tinha a certeza de que nunca ninguém se aperceberia disso. Deixou descair o braço pelo pescoço do dragão, e rasgou um sorriso.

-Como está a fada mais bela de Antares e arredores? - perguntou.

Maple revirou os olhos. Pressionou o medalhão num ponto muito à esquerda, e assim trocou o vestido vermelho, da cor do hibisco, por um fato cor-de-ameixa.

-Quantas fadas seduziste com essa neste verão? - perguntou, perspicazmente.

-Dezassete. - admitiu Sedric, com um sorriso que lhe deixava ligeiramente a boca de lado. - E quinze humanas, três delas francesas.

-Tu nunca mudas, pois não? - riu ela. Movendo velozmente os dedos da mão esquerda, fez aparecer uma maçã vermelha na outra mão. - Tens fome, Rocky?

O dragão virou a cara, parecendo ofendido.

-Pronto, pronto, já sei... - comentou Maple, entrando na brincadeira. 

Tirou da mala a varinha, e apontou-a à maçã, que se tornou imediatamente azul. Rocky voltou a virar-se para ela, e tirou-lhe a maçã da mão, comendo-a com uma só dentada, para depois ronronar com agrado.

-Vamos entrando? - sugeriu Maple. - Está na hora.

Sedric despediu-se de Rocky, indicando-lhe que se dirigisse ao estábulo. Depois, seguiu Maple até ao amplo hall de entrada, com um telhado de vidro que permitia ver o por-do-sol. Um corredor estreito no extremo esquerdo do hall levava à sala de reuniões. Este estava apenas decorado com um quadro da mesma, mostrando a grande mesa redonda com doze cadeiras e um grande trono de prata dispostos à sua volta. No trono, estava sentado o Professor Beasley, sorrindo ligeiramente para a mesa vazia. Maple bateu à porta, e o quadro mostrou o diretor a levantar-se, aproximando-se para a abrir.

A História De Como Eu Te PerdiWhere stories live. Discover now