— No que você foi se meter, Maria! — Sussurro comigo mesma enquanto observo o pequeno ser que encontras-se adormecido na caixa de papelão, as bochechas encontram-se avermelhadas e um gorrinho azul com detalhes brancos cobrem a sua linda cabeça.
Mergulho minha mão por entre o espaço livre da caixa. Estou procurando por um bilhete, qualquer coisa que possa me dizer por que aquele bebê fora deixado na minha porta, mas não encontro nada.
Existe apenas ele.
Às vezes eu me pergunto se Deus se diverte me testando.
Passei três longos anos da minha vida do lado de um cara que só ligava para o próprio umbigo, que ao invés de querer um compromisso sério simplesmente fugiu para os braços de uma garota que deveria ter a mesma idade da irmã dele.
Era por isso que eu estava em um pequeno chalé nas montanhas para começar. Para esquecer Bob.
Eu nem me lembrava mais por que havia me apaixonado por ele para começo de conversa.
Olho para o bebê e assisto o momento em que move seu corpinho pequeno e frágil, abre a boquinha minúscula e rosada em formato de um "O" minúsculo e aos poucos abre os olhinhos. Ele é lindo. Provavelmente a coisinha mais linda que eu já vi. Os pequenos olhos pousam sobre meu rosto e me estuda com atenção.
— Aposto que deve estar percebendo que eu não sou a sua mãe, não é mesmo, cupcake? — Devagar o pego no colo o mantendo preso em meus braços — O quê acha disso? Vou chamá-lo de cupcake.
Toco com o dedo indicador sobre a boca pequena e sinto a maciez dos lábios pequenos e rechonchudos
— Aposto que não está entendendo nada do que eu falo, não é mesmo?
O bebê mantém seus olhinhos pequenos sobre mim e anuncia me estudando com atenção.
Caminho com o pequeno serzinho em meus braços e me aproximo da janela, olho através da vidraça mas tudo o que posso ver é neve.
Neve, neve e mais neve.
Olho para o rostinho infantil e o estudo com atenção. Pela roupa que usa e pela quantidade de coisas que mantinha o aquecendo dentro da caixa, a pessoa que o abandonou ali teve certeza de que ele ficaria bem aquecido.
Mesmo assim, odiei seja lá quem o tivesse abandonado na minha porta.
—Por que o abandonaram aqui, pequeno? —Ele mexe de forma inquieta no meu colo e percebo quando move as perninhas de forma frenética. —Ah, não meu pequeno não faça...—Antes que eu termine a frase na ponta da minha língua, o bebê abre a boca e o pequeno choro ecoa por todo o espaço da sala de estar.
Olho a neve, que continua a cair, e mentalmente amaldiçoo a pessoa cruel que abandonou o pequeno menino na porta da minha casa.
***
Horas antes. Em algum lugar entre a neve.
Tenho certeza de que Deus me perdoaria. Mas, eu não havia nascido para isso, e nem se quer tinha muito tempo.
Ando pisando com firmeza por cima da neve e sinto meus pés afundarem por onde caminho. Não faço ideia de onde estou. Apenas sei que não posso voltar pro lugar de onde sai (ele irá machucar o meu bebê, assim como fez comigo).
Pensei que poderia ir longe, mas a falta de comida e a exaustão por ter dado a luz há poucos dias não deixam seguir em frente. Seguro o meu bebê com força e aproximo meu rosto para vê-lo melhor. Ele é bonito, um pequeno príncipe (como meu livro preferido). Viro meu rosto para longe da criança quando uma tosse corta minha garganta. Não irei contaminá-lo com a minha doença.
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Acontece no Natal - Antologia de Contos Natalinos
Historia CortaE quando a época mais bonita do ano reserva tantas surpresas que nós mesmos nem poderíamos esperar?